quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sombra da recessão nos EUA leva pânico às bolsas no mundo


Queda nas bolsas tem a ver com a percepção de que o acordo de Obama com a oposição aumenta a fragilidade da economia ao privar o governo de recursos públicos para estimular o crescimento

Desde a sanção do presidente Obama no dia 2 ao acordo que permitiu a aprovação do novo teto de endividamento dos EUA, no mesmo dia as Bolsas começaram a cair. De repente caiu a ficha para os especuladores: o remédio adotado para evitar a moratória - ao incluir drásticos cortes de despesas do governo – provoca o efeito colateral de enfraquecer a já combalida economia norte-americana.

Na segunda-feira (8), primeiro dia útil após o rebaixamento da nota dos EUA pela agência de classificação Standard & Poor’s – que junto com a Moody’s e a Fitch deram nota máxima a ativos podres baseados em hipotecas de segunda - as Bolsas desabaram desde a Ásia, Europa, EUA e América dos Sul, com a Bovespa caindo 8,8% no fim do dia e Dow Jones de Nova Iorque fechou com -5,5%.

A falta de confiança na economia real levou os especuladores da Bolsa a vender ações e comprar Títulos do Tesouro americano, ouro e prata. Tudo que mantenha distância de qualquer ligação com a produção ou qualquer atividade econômica real. Na terça-feira as bolsas mantiveram-se instáveis.

Para obter um aumento da dívida da ordem de US$ 2,1 trilhões, o presidente Obama submeteu-se à imposição dos neoliberais extremistas do partido republicano de cortar US$ 2,4 trilhões de gastos públicos, sendo que quase 1 trilhão de dólares do orçamento será cortado de imediato e US$ 1,5 trilhão a ser definido até dezembro.

O economista norte-americano Paul Krugman, que considera esse acordo “um desastre”, afirmou em artigo no sábado, dia 6, “juros e Bolsas em queda livre revelam” que os investidores “não estão preocupados com a solvência dos EUA nem com inflação. Estão preocupados com a falta de crescimento”. E todos os dados da economia norte-americana têm demonstrado fragilidade.

Nesta terça-feira (9) foi divulgado relatório sobre a produtividade e custo da mão de obra nos EUA. A produtividade da mão de obra caiu 0,3% no segundo trimestre, depois de ter caído 0,6% no trimestre anterior. O custo da mão de obra teve aumento 1,2% no primeiro trimestre e 0,55% no segundo. Em junho, o consumo caiu 0,2%, a primeira queda para o mês em quase dois anos e a renda teve acréscimo de apenas 0,1% no mesmo mês, o menor incremento em nove meses.

Krugman afirma ainda no seu artigo que, além da “ameaça muito real de uma recessão em W (recessão, retomada e nova recessão) é impossível negar o óbvio: não estamos agora no caminho da recuperação nem nunca estivemos”. E demonstra a fragilidade da chamada recuperação com dados sobre a razão entre emprego e população: “Em junho de 2007 [ a recessão só começaria em dezembro], cerca de 63% dos adultos estavam empregados. Em junho de 2009, quando a recessão oficialmente chegou ao fim, eram 59,4%. Em junho de 2011, dois anos depois de iniciada a alegada recuperação, o número era de 58,2%”.


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