sexta-feira, 26 de agosto de 2011

EUA/Otan lançaram 7.500 ataques
aéreos para derrubar governo líbio


O que Sarkozy chama de reunião para discutir o “futuro da Líbia” é só a partilha do petróleo do povo líbio, já decidido em Washington, e que o colaboracionista quer aprovar como farsa em Paris

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou a convocação de uma “conferência” sobre o “futuro da Líbia” no dia 1º de setembro, em Paris – e citou o Brasil, além da Rússia, China e Índia (isto é, o grupo dos BRICs) como “países convidados”.

A França, país de gloriosas tradições, tem também outras que não são assim tão gloriosas: entre as últimas está a de ter presidentes – o general De Gaulle à parte – perfeitamente medíocres, alguns, até mesmo, traidores do seu próprio país.

Sarkozy fez seu anúncio depois de reunir-se com um certo Mahmoud Jibril, um agente notório da CIA, com pós-graduação e longos anos nos EUA, mais conhecido na Líbia pelas privatizações e “desregulamentações” que promoveu durante o tempo em que fez parte do governo – se algo poder-se-ia reprovar a Kadafi e seus companheiros foi a excessiva tolerância com certos elementos.

COLABORACIONISTA

Jibril é o candidato dos EUA a ditador-fantoche na Líbia. Que Sarkozy seja um colaboracionista dos EUA contra os interesses da própria França, faz parte do seu perfil – não fez outra coisa na vida, senão seguir o caminho dos Laval e Pétain.

Assim, eles pretendem que o “futuro da Líbia” - isto é, a partilha do petróleo do povo líbio - seja decidido em Paris, referendando o já decidido em Washington, e querem nos tanger a apoiar semelhante lição de democracia. Houve época em que Paris valia uma missa. Com Sarkozy, vale uma farsa.

Os nazistas pretenderam decidir o destino da Tchecoslováquia em Munique. No entanto, lá não foi decidido apenas o destino - aliás, bem temporário – desse pequeno país eslavo, mas, sobretudo, o da própria França, que pagou muito caro pela colaboração de Daladier com Hitler.

Com a Otan reconhecendo à CNN – nesse caso, insuspeita – que a agressão terrestre a Trípoli é feita por “tropas especiais” do “Reino Unido, França, Jordânia e Catar” (citadas nessa ordem), não é possível ignorar que aqueles marginais que aparecem na TV depois que a aviação dos EUA e satélites destruíram bairros inteiros da cidade são apenas isso mesmo – alguns vagabundos, rufiões, ladrões e assassinos, contratados para a figuração de que existiria algo “líbio” nessa agressão a um governo legítimo, eleito e constituído de acordo com leis nacionais. Essa é a “base” - a única – de Jibril, dos EUA e de Sarkozy na Líbia.

Dificilmente houve uma malta de desclassificados como esta, que assassinou até o seu suposto comandante, Younis, que tortura nas ruas de Misrata, desfigura cadáveres que são jogados nas praças, saqueia a casa da filha de Kadafi - e tira fotos exibindo o roubo -, invade, pilha e ateia fogo às embaixadas da Argélia, Bulgária, Coreia, e ataca as casas dos embaixadores da Venezuela e da China.

É a essa ralé que o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, se referiu ao declarar que “com mais democracia, haverá mais diálogo e isso levará a um relacionamento mais aprofundado”. Cada um pode desejar a “democracia” que prefere, assim como os seus parceiros de “diálogo” e, até, com quem ter um “relacionamento mais aprofun-dado”.

Mas o Brasil não tem nada a ver com esses desejos pervertidos.

No entanto, o sr. Patriota lembrou-se, finalmente, dos interesses do Brasil na Líbia – não, infelizmente, da autodeterminação dos povos, centro de nossa diplomacia desde Rio Branco, há 109 anos, mas dos interesses mais imediatos, o que já é alguma coisa.

O Brasil tem mais de US$ 5 bilhões na Líbia, com empresas que vão da Petrobrás até a Andrade Gutierrez e Norberto Odebrecht, financiadas inteiramente pelo governo líbio. Nossas exportações para o país de Kadafi, em relação ao ano anterior, aumentaram 77,04% em 2003; 121,47% em 2004; 83,14% em 2005; 56,25% em 2008; e 122,85% em 2010 (cf. MDIC, Secex, “Intercâmbio comercial brasileiro – Líbia”, 04/07/2011).

Evidentemente, nossas relações com a Líbia, estabelecidas pelo presidente Lula no início de seu primeiro mandato, jamais foram do agrado de Washington. Agora, através de seu boy europeu, Sarkozy, claramente nos chantageiam – ou aderimos de mala e cuia aos bandidos que os EUA pagam na Líbia ou nossos interesses econômicos serão, para usar uma palavra suavíssima, prejudicados.

Mas é significativo que, apesar de berrarem vitória pelas suas Tvs e jornais – a tralha mais repugnantemente servil que já houve – queiram nos chantagear para que nós apoiemos os seus esbirros. Se estão vitoriosos, para que precisam do nosso apoio, ou dos outros BRICs?

Antes de tudo, porque essa vitória está na sua mídia, e não na realidade (v. o discurso de Muammar Kadafi nesta página).

O que estão fazendo é destruir o que os líbios construíram durante 42 anos, exatamente porque não conseguem submeter o povo líbio. Os bombardeios sobre civis em Trípoli e outras cidades só se diferenciam dos de Hitler na Holanda, Bélgica, França, Inglaterra e URSS porque são muito maiores, muito mais intensos, muito mais covardes e muito mais criminosos.
 
ARRUAÇAS

O povo líbio percebe, como disse o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt - repetindo uma frase de Emiliano Zapata - que é melhor morrer de pé do que viver ajoelhado. As “tropas especiais” estrangeiras desembarcaram em cima de escombros, os mesmos em que os marginais promovem sua arruaça.

Segundo a Otan, até o dia 22 de agosto, houve 19.877 operações aéreas sobre a Líbia, com 7.505 bombardeios - sobre hospitais, mercados públicos, TVs, rádios, estradas, aeroportos e, sobretudo, residências. Somente sobre Bab El Azzizia – apelidada pela mídia de “QG de Kadafi” - foram 64 bombardeios.

Diante disso, o norte-americano Stephen Lendman lembrou que em Nuremberg houve quem foi enforcado por menos. Com efeito, Goering era amador, perto dos mandantes e executores dos crimes atuais.

Mussolini assassinou metade da população da Líbia, em revolta contra a invasão fascista, inclusive o herói da resistência, Omar Mukhtar. Nem por isso conseguiu submeter os líbios. Mas é inútil esperar que o imperialismo aprenda alguma coisa com a História. Por isso mesmo, ele está condenado a tentar repeti-la - até o seu próprio fim.


 

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