terça-feira, 9 de agosto de 2011


Crise é "oportunidade" para BC cortar juro, diz membro do governo

Para o presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges, crise econômica mundial permite ao Banco Central (BC) iniciar ciclo de corte do juros já no fim de agosto. Chance foi perdida em 2008 por "barbeiragem". Em seminário, ele defende política industrial como intervenção estatal necessária "num momento crítico" e diz que "grande imprensa reagiu contra porque é liberal".


BRASÍLIA – A crise econômica mundial oferece a chance de o Brasil começar um processo de redução da maior taxa de juros do planeta para níveis (bem menores) internacionais. Ao contrário da atitude conservadora que o Banco Central (BC) teve na primeita etapa (financeira) da crise, em 2008, o corte do juro pode começar já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 31 de agosto.

A avaliação é de um membro do próprio governo, Mauro Borges, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), vinculada ao ministério do Desenvolvimento. “[A crise] é uma grande oportunidade. Possivelmente já na próxima reunião do Copom, a queda dos juros estará na pauta”, disse Borges à Carta Maior nesta terça-feira (9).
Tesouro abre perfil dos credores e permite constatar que são poucos
Brasil: A vida de rico e a vida real, por Eric Nepomuceno
FMI apoia controle de capitais pelo Brasil mas vê risco de 'contorno'

Subordinado a um dos ministros mais próximos da presidenta Dilma Rousseff, Fernando Pimentel, Borges afirmou acreditar que ela compartilha da visão da crise como “oportunidade” de corrigir o patamar do juro e que ela respaldaria o BC.

Em 2008, o BC foi alvo de críticas – de portadores de uma visão mais desenvolvimentista, não de gente ligada ao “mercado” - por não ter aproveitado a chance que uma turbulência proporciona e baixado o juro.

A crise estourou dia 15 de setembro, com a quebra do banco Lehman Brothers, e o Copom – que havia inclusive elevado o juro cinco dias antes - só foi diminuir a taxa quatro meses depois, em janeiro de 2009. Para os críticos, houve “barbeiragem”.

Reação da "imprensa liberal"
Borges, que é economista, participou, nesta terça-feira, de seminário promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) que discutiu o pacote de apoio à indústria lançado pelo governo para ajudar o setor produtivo a enfrentar uma eventual crise.

No debate, ele defendeu a liderança estatal na atual conjuntura. “O que a gente está propondo é uma forte intervenção do Estado num momento crítico”, afirmou. “É o Estado que dá a linha de onde deve se dar o processo de acumulação de capital. Os empresários não têm essa preocupação.”

Por conta desse caráter interventor do governo, o plano teria sido mal recebido pelos veículos de comunicação. “A reação da grande imprensa foi em seu conjunto contrária à política industrial”, disse. “É uma grande imprensa liberal.”

Segundo Borges, estaria havendo resistência a uma iniciativa que, em parte, lembra uma ação estatal histórica que ajudou o capitalismo a passar pela Grande Depressão dos anos 30, o New Deal do presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt.

O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, acredita que os críticos da política industrial – que a central apoia no geral, mas critica em pontos específicos – preferem o liberalismo dos anos 90. E citou frase atribuída ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan: “A melhor política industrial é não ter política industrial”.

O economista Anselmo dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também defendeu o pacote. “Os problemas do Brasil só serão enfrentados com a intervenção do Estado”, disse.

Nenhum comentário: