sábado, 2 de julho de 2011

Parlamento aprova pacote do FMI e agudiza conflagração na Grécia

Parlamentares aprovam por 155 a 138 as medidas que incluem privatização de mais de 30 empresas estatais, demissões e arrocho para aliviar os bancos, responsáveis pela crise grega

OParlamento grego aprovou na quarta-feira (29) um pacote neoliberal imposto pelo FMI e BC da Europa (BCE), que intensifica o arrocho via aumento de imposto para assalariados, privatizações de empresas públicas, demissão de servidores públicos e cortes na saúde e educação, além de arrocho de salários e das aposentadorias.

A aprovação se deu por 155 a 138 votos – o mínimo necessário é 151 votos. A sede do Parlamento na praça Syntagma em Atenas esteve cercada por manifestantes desde a manhã da véspera, quando começou a greve geral de 48 horas em repúdio a esse segundo pacote.

A capital Atenas, Tessalônica, a segunda maior cidade e dezenas de outras cidades aderiram à greve geral convocada pelas centrais sindicais e apoiada pelos partidos de oposição. Pararam os aeroportos, portos, bancos, comércio, fábricas, escolas e o transporte público, com exceção do metrô.

O primeiro pacote de arrocho bancado pelo premiê George Papandreau - para salvar os bancos alemães, franceses e norte-americanos pendurados no colapso econômico que provocaram com sua desenfreada especulação com os títulos da dívida grega – já faliu ao exacerbar a crise no país desde sua implantação, resultando na explosão do desemprego que atinge agora 16% - entre os jovens chega a mais de 40% - e segundo sindicalistas, pelo menos 400 mil empregos foram destruídos. O imposto sobre consumo praticamente dobrou e a idade mínima para aposentadoria vai subir de 61 para 65 anos.

Mesmo diante desde quadro, os governos da Alemanha e França; o FMI e BCE exigiram um novo pacote com a intensificação do arrocho e a privatização das empresas públicas gregas como pré-condição para a liberação da última parcela de US$ 12 bilhões, referentes ao primeiro plano-arrocho.

As exigências para salvar os bancos agora passam pela privatização – vale dizer, entrega do patrimônio público a monopólios privados estrangeiros – de cerca de trinta empresas nas quais o Estado detém a totalidade ou uma parte do capital, tais como: OTE (número um das Teles); Trainose (a companhia nacional das linhas férreas); os portos do Pireu (Atenas) e de Salônica; o grupo do gás DEPA; as licenças de telefonia móvel; a sociedade das águas de Atenas e de Salônica; o aeroporto internacional de Atenas; a sociedade de autoestradas Egnatia Odos; o Correio helênico; os portos regionais; DEI Electricidade da Grécia; os aeroportos regionais, as participações do Estado nos bancos gregos; o Banco postal; o Banco agrícola ATE; a Caixa de Depósitos e Consignações, etc.

Ao entregar estas empresas públicas para monopólios externos, o Estado grego abre mão igualmente de toda a contribuição que elas proporcionam às finanças públicas. É uma política antinacional contribuirá rapidamente para afundar seu orçamento ao diminuir as suas receitas e desequilibrar as contas do país pela remessa de lucros para o exterior, além de aumentar os preços dos serviços.

O premiê Papandreau, no entanto, insiste em que “não há outra saída” para o país, que não seja essa vereda para o desastre. Ele nega-se a ver por exemplo, que a Islândia, país de economia bem menor que a grega, optou por uma saída soberana, ou seja, negou-se em dois referendos a pagar US$ 3,7 bilhões que bancos privados da Inglaterra e Holanda se diziam credores e encontra em situação bem mais tranquila. Após o referendo, o governo islandês consegue vender papéis de 5 anos a juros de 4,87% enquanto a Grécia é escorchada com juros de 25%. (Ver matéria de Pascual Serrano nesta página). A Argentina é outro exemplo de postura soberana também vitoriosa.

OPÇÃO PELOS BANCOS

A “opção” preferencial de Papandreau pela submissão aos bancos, além de afundar a Grécia na recessão, cava um fosso a cada dia mais profundo entre os trabalhadores e o povo grego de um lado e o governo de outro. As “forcas” que foram colocadas na praça Syntagma em frente ao Parlamento nos dois dias da greve geral são sinais que deveriam preocupar o governo.

Além disso, a conflagração em torno do Parlamento após a aprovação do pacote não deixa dúvidas quanto ao estado de espírito dos gregos.

O enfrentamento com a repressão policial, barricadas; incêndios de agência dos Correios, do Ministério das Finanças e do Eurobank, e os 500 manifestantes feridos, 148 hospitalizados, dos quais, 49 policiais, lançam uma sombra sobre a “vitória” vista pelo FMI, pela chanceler alemã e autoridades da União Europeia. Pode ser uma “vitória de Pirro”.

 
S. SILVA

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