terça-feira, 5 de julho de 2011

Lula: “crise dos ricos não pode ser paga pelos países pobres”

Em seu discurso, o ex-presidente disse que “as vítimas da crise pagarão o preço por um crime que não cometeram - isso é o que está acontecendo na Grécia” 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, na última quinta-feira (30), em discurso na 17ª Assembleia Geral dos Chefes de Estado da União Africana, que o mundo exige uma reformulação da Organização das Nações Unidas (ONU). “É hora de reconstruir as instituições globais em bases mais democráticas, representativas, legítimas e eficazes”, argumentou Lula, destacando que o mundo precisa de “uma ONU suficientemente representativa para enfrentar as ameaças à paz mundial, com um Conselho de Segurança renovado, aberto a novos membros permanentes”.

O ex-presidente criticou a agressão da Otan à Líbia. “Precisamos de uma ONU que tenha coragem de impor um cessar-fogo e uma saída pacifica para a crise da Líbia”, afirmou o ex-presidente, segundo a AIM (Agência de Informação de Moçambique).

Lula expressou a opinião de que “somente organismos mais representativos e democráticos terão condições de prevenir futuras crises, sejam políticas ou financeiras, e responder aos desafios de uma nova geopolítica mundial, multipolar, com a presença de novos atores”. “Vivemos um período de transição no âmbito internacional. Caminhamos em direção ao mundo multilateral”, frisou. “Não é possível que o continente africano, com 53 países, não tenha uma representação (permanente) no Conselho de Segurança”, afirmou. “Não é possível que a América Latina, com seus 400 milhões de habitantes, não tenha uma representação (permanente), que cinco países decidam o que fazer, como fazer, sem levar em consideração o resto dos seres humanos que vivem neste planeta”.

“A crise [econômica] que nasceu nos países desenvolvidos em 2008 provocou efeitos danosos em todas as partes do mundo, mas a conta desse ajuste não pode ser paga pelas nações pobres ou emergentes, que precisam atuar em conjunto para construir uma nova ordem econômica e uma nova governança mundial, que atenda ao atual cenário geopolítico, completamente diferente da realidade de 60 anos atrás”, defendeu Lula. Para Lula, “as vítimas [da crise] pagarão o preço por um crime que não cometeram – isso é o que está acontecendo na Grécia”.

Referindo-se ao tema central do encontro, que tratou do papel da juventude na luta pelo desenvolvimento, o presidente lembrou a importância que tiveram os jovens nas principais batalhas travadas pelo povo brasileiro. “Na história do meu país”, disse o ex-presidente, “grandes conquistas populares foram obtidas graças à mobilização juvenil”. “Basta lembrar que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial contra o nazi-fascismo pelo clamor da juventude.

A luta pela criação da Petrobrás, a nossa empresa estatal que já é a segunda do mundo em energia, foi liderada pela juventude”, assinalou.

“Nossos rapazes e moças”, prosseguiu Lula, “estiveram igualmente na vanguarda da luta contra a ditadura e pela redemocratização do país”. “Não há bandeira humanista e libertária que os jovens brasileiros não defendam com entusiasmo assim como certamente ocorreu e ocorre com os jovens africanos, que foram decisivos em todos os processos de libertação nacional do continente”, disse o ex-presidente. “É o que acontece em todo o mundo”, completou.

Lula agradeceu aos países da União Africana o apoio à eleição de José Graziano para a FAO. “Quero agradecer o apoio dos países africanos ao processo que permitiu a eleição do meu ex-ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, para o cargo de Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Essa foi uma reafirmação da cooperação Sul-Sul, essencial para combater a insegurança alimentar que ainda afeta quase um bilhão de pessoas em todo o mundo”, destacou.

“A eleição de Graziano”, disse Lula, “é um trunfo dos países em desenvolvimento e um reconhecimento do crescente papel que desempenham num mundo cada vez mais multipolar”.

O presidente reafirmou que “a relação com a África é estratégica para o Brasil”. “Foi por isso que visitei tantos países africanos durante os oito anos do meu mandato como Presidente do Brasil. Ampliamos nossos vínculos diplomáticos, econômicos e culturais. Abrimos ou reativamos embaixadas em 19 países africanos e temos relações diplomáticas com os 53 países do continente africano. De outro lado, 33 países africanos já têm embaixadas em Brasília”, lembrou.

“Um dos resultados desse processo de aproximação”, destacou, “é o comércio bilateral entre Brasil e África ter aumentado de cinco bilhões de dólares em 2002 para 20,5 bilhões de dólares no ano passado”. “Um número crescente de empresas brasileiras passou a investir na África, gerando empregos e mais renda para o povo africano.

Agora a presidenta Dilma Rousseff manda um sinal inequívoco, de que vai dar continuidade e aprofundar a relação do Brasil com o continente africano. Minha vinda à Cúpula da União Africana, como representante do Brasil simboliza tal compromisso”, concluiu Lula.

O discurso de Lula foi o mais aplaudido e no final a plateia ficou de pé para aclamá-lo, informa a Agência AngolaPress (Angop). O ex-presidente foi nomeado pela presidenta Dilma para chefiar a delegação brasileira no evento.
HP

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