sábado, 9 de julho de 2011

Light abandonou a manutenção em bueiros desde a privatização

“Campo minado” é fruto de mais de quinze anos de descaso e transformação de gastos em lucros

O engenheiro da Comissão de Análise e Prevençãode Acidentes do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), Luiz Antônio Consenza, afirmou que a Light não faz manutenção de sua rede desde a privatização da empresa. “A Light abandonou a manutenção há 15 anos e a demanda pelos serviços da empresa só aumenta. Há uma grande necessidade de investimento para evitar novas explosões”, afirmou Consenza.

Somente esta semana, cinco bueiros da Light explodiram em um intervalo de 24 horas, em Copacabana e no centro, causando pânico na capital fluminense. Nos últimos 12 meses, mais de trinta bueiros foram pelos ares, no que já é qualificado por moradores e turistas como um verdadeiro “campo minado”.
O coordenador do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro, concorda que os problemas vêm desde a privatização da Light, em 1996. Segundo ele, “a Light fez uma gestão administrativa centrada na performance financeira, maximizando os ganhos em detrimento da qualidade no atendimento à população. O resultado disso é que em vez dela gastar em manutenção de equipamento deixou os gastos se transformarem em lucro”.
Segundo o Ministério Público do Estado, há risco de explosão em todas as 4 mil câmaras subterrâneas de transformação da Light no Rio de Janeiro. Em 1.170 delas, a situação é considerada “mais crítica”. Destas, 582 ficam no centro e 588 na zona sul (Copacabana, Ipanema e Leblon).

Na última terça-feira, sob a ameaça de ter de pagar multa de até R$ 1 milhão por cada nova explosão, a empresa assinou o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MP. No documento, a Light assume compromissos de prazos para reformas e aceita pagar uma multa de R$ 100 mil para cada bueiro que explodir daqui para frente causando dano patrimonial público ou privado, lesão corporal ou morte. O TAC não isenta a empresa de qualquer responsabilidade civil ou criminal (ver matéria abaixo).

Desde o ano passado a Light é controlada pela Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig), que adquiriu as ações do grupo francês EDF. O atual presidente da Light, Jerson Kelman, (tucano que é ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica e foi presidente do Comitê Gestor da Crise Energética durante o governo Fernando Henrique), afirmou esta semana que o problema dos bueiros só será resolvido no final do ano.

Nos últimos dias foram cinco explosões. Na terça-feira (5), uma caixa explodiu na Rua Sete de Setembro, no Centro, perto do Teatro João Caetano. Na segunda-feira, foram quatro explosões, também no Centro, na Rua da Assembleia. Desta vez, três pessoas ficaram feridas e a região permanecia interditada até o fechamento desta edição.

Qualquer fumaça saindo do chão assusta os moradores, comerciantes e transeuntes que começam a chamar a região sul do rio de “campo minado” e apelidar os bueiros como “bueiros bomba”. Em Copacabana já foram seis ocorrências desde o dia 1º de Abril.

Para Luiz Antônio Consenza, “o problema já passou do anormal. Não é mais aceitável esta situação ao qual estamos expostos. Não dá para tolerar o fato de ficarmos esperando para saber qual vai ser o próximo bueiro a explodir”.
HP

Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do CREA-RJ:

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