quarta-feira, 29 de junho de 2011

PIB americano desacelera e o déficit dispara

Anunciada recuperação econômica é empurrada para as calendas gregas

Enquanto o déficit da balança comercial dos EUA aumentava em 18,6% entre o último trimestre do ano passado e o primeiro de 2011, o PIB desacelerou no período de 0,77% para ainda mais raquíticos 0,48%, segundo o Bureau de Análise Econômica (BEA, na sigla em inglês), do Departamento do Comércio. A queda no ritmo do PIB real no primeiro trimestre, assinalou o BEA, deve-se, principalmente, “a uma elevação aguda nas importações, à desaceleração das despesas com consumo pessoal e à maior redução dos gastos do governo federal”.



Economia dos EUA desacelera no 1º trimestre para raquíticos 0,48%

Entre o 4º trimestre de 2010 e o 1º deste ano, o PIB dos EUA desacelerou de 0,77% para 0,48%. Menor aumento do consumo e redução dos gastos públicos estão entre as causas da queda no ritmo

Enquanto o déficit da balança comercial dos EUA aumentava em 18,6% entre o último trimestre do ano passado e o primeiro de 2011, o PIB desacelerou no período de 0,77% para ainda mais raquíticos 0,48%, segundo o Bureau de Análise Econômica (Bea, na sigla em inglês), do Departamento do Comércio. E para o segundo trimestre de 2011, que se encerra agora em 30 de junho, de acordo com a Associated Press, a perspectiva não é muito diferente.

Como de hábito, o Bea encorpou os resultados, apresentando na forma “anualizada”, como se o resultado de um trimestre fosse se repetir em quatro. É assim que os 0,77% do último trimestre de 2010 viraram “3,1% anualizado” e os 0,48% (janeiro-março de 2011), em “1,9% anualizado”. Mas por mais prestidigitação que faça, não consegue ocultar a tendência de queda na economia. E nem que não vai ser com 3,1% ao ano, e menos ainda com 1,9%, que vão ser gerados os 25 milhões de empregos que faltam. Em abril, desabou para 54 mil a média de 220 mil postos de trabalho dos últimos três meses.

Já o déficit em bens e serviços disparou de US$ 118,7 bilhões em outubro-dezembro do ano passado, para US$ 140,8 bilhões em janeiro-março de 2011. De novo, o problema central foi um grande aumento no déficit nos bens (exportações menos importações): de - US$ 159,2 bilhões no quarto trimestre (2010), para - US$ 182,5 bilhões no primeiro de 2011. As importações tiveram um aumento de 5,1% no primeiro trimestre do ano, em comparação com redução de 12,6% no anterior. Assim, não vai a lugar algum a política de Obama de contornar o desastre via exportações.

QUEDA

A queda no ritmo do PIB real no primeiro trimestre, assinalou o Bea, deve-se, principalmente, “a uma elevação aguda nas importações, à desaceleração das despesas com consumo pessoal, à maior redução dos gastos do governo federal e a uma desaceleração no investimento fixo estrangeiro”. O que seria compensado, em parte, por “uma elevação aguda no investimento privado em estoques”.

A “elevação aguda nas importações” já foi devidamente incluída na disparada do déficit na balança comercial. Quanto ao consumo pessoal, essas despesas aumentaram + 2,2% no primeiro trimestre do ano – contra + 4% no trimestre anterior. O gasto do governo federal encolheu - 8,1%; o de estados e municipalidades, - 4,6%; e os cortes que os republicanos estão exigindo para elevarem o teto de endividamento dos EUA ainda nem chegaram à mesa. No trimestre anterior, tais gastos haviam diminuído, respectivamente, - 0,3% (federal) e - 2,6% (estados/prefeituras).

O investimento em capital fixo estrangeiro, de + 7,7% em outubro-dezembro, freou para + 2 % no primeiro trimestre do ano.

Quanto à contribuição positiva do “investimento privado em estoques”, foi responsável, informa o Bea, por nada menos que “1,31 pontos percentuais” do suposto crescimento ‘anualizado’ de 1,9%. Em comparação, no trimestre anterior, havia subtraído 3,4 pontos percentuais do crescimento do PIB que houve. (Significando que, após concentrar no terceiro trimestre o investimento em estoques para venda no período natalino (US$ 121,4 bilhões), seguiu-se um grande recuo no quarto trimestre (US$ 16,2 bilhões), e retomada parcial no primeiro trimestre de 2011, para US$ 55,7 bilhões).

ENCALHE

Trata-se de que, no cálculo do PIB, é preciso separar a produção de um determinado trimestre - ou outro período qualquer – das vendas que, embora feitas nesse período, foram de produtos fabricados em outro. Ou seja, as vendas finais reais de um trimestre são iguais à variação do PIB menos a variação nos estoques nesse período. Um aumento do estoque pode simplesmente significar que houve produção, mas não houve mercado para os produtos das empresas, ou seja, que eles ficaram encalhados, e a empresa está inclusive sob risco de ir à falência.

Assim, examinando-se a questão sob a ótica das “vendas finais reais”, registra-se que foram de 6,7% no último trimestre de 2010, e de meros 0,6% no primeiro trimestre de 2011.

Segundo o Bea, a inflação aumentou para 3,9% contra 2,1% no trimestre anterior. Perda de poder aquisitivo da população, enquanto as corporações aumentam seus lucros e a exploração da mão de obra.

Assim, “os lucros por unidade de valor real agregado aumentaram”, diz o órgão. O que, acrescenta, reflete “um aumento no preço unitário [do produto] e uma redução nos custos do trabalho por unidade”.

Já o aumento dos lucros das empresas privadas foi a US$ 48,7 bilhões em janeiro-março, contra US$ 38,2 bilhões no trimestre anterior. O mesmo movimento nos dividendos (afinal, são parte dos lucros): aumentaram em US$ 14,8 bilhões contra US$ 8,9 bilhões do trimestre anterior. Mas a parte dos lucros não distribuídos - de onde são retirados os investimentos, isto é, ampliada a produção, diminuiu US$ 700 milhões, em comparação com aumento de US$ 30,6 bilhões do trimestre anterior.

Estão escalpelando os seus próprios trabalhadores, e o resto do planeta. Os lucros vindos do exterior aumentaram US$ 54,4 bilhões, após o Bea mesurar o quanto os EUA recebem e pagam, de remessa de lucros e de dividendos.

 
ANTONIO PIMENTA

As coisas por lá vão de mal a pior

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