quinta-feira, 30 de junho de 2011

Novo diretor destaca papel da FAO contra especulação de alimentos

O candidato dos países em desenvolvimento, José Graziano criticou a monopolização de sementes “cruciais para a Humanidade” por multinacionais
 
O novo diretor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, criticou, durante sua primeira entrevista à frente do órgão a especulação financeira realizada com os alimentos e destacou que “a FAO pode cumprir um papel importante” nesta questão. Graziano repeliu ainda a monopolização de sementes por multinacionais.

Eleito no domingo (26), em Roma (Itália), com 92 votos dos 180 votos, Graziano será o primeiro latino-americano a dirigir a organização desde que foi fundada em 1945. O brasileiro teve como seu coordenador de campanha o ex-presidente Lula, e se tornou o candidato do grupo de países em desenvolvimento, o G-77.

Graziano desbancou o candidato dos países ricos, que se utilizam da FAO para a comercialização de seus produtos agrícolas, o ex-chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos que contou com apoio dos Estados Unidos, Europa, Japão e alguns governos subservientes, como o do México.

A presidenta Dilma Rousseff comemorou nesta segunda-feira (27), durante o Programa Café com a Presidenta, o resultado da 37ª reunião da FAO. Disse que “Graziano terá todo o apoio do governo brasileiro para levar as soluções a FAO, mostrando que é possível compatibilizar o combate à fome, a melhoria de renda dos agricultores e uma produção de alimentos que só cresce em quantidade e produtividade”.

Na primeira coletiva após a eleição, na segunda-feira (27), Graziano afirmou conhecer as contradições dos países centrais com os periféricos mas que, para acabar com a fome no mundo, as nações terão que trabalhar uma agenda conjunta. “Temos que dar início a uma nova era na organização”, afirmou José Graziano, um dos idealizadores e coordenador o programa Fome Zero no Brasil no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Desde 2006, quando saiu do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, foi o representante regional na América Latina e subdiretor da FAO.

O novo diretor da FAO destacou que a organização cumprirá papel importante no combate à especulação financeira realizada com os alimentos. “Eu acredito que esta é uma das áreas mais importantes em que, no meu ponto de vista, a FAO pode cumprir um papel importante”, destacou.

Graziano avaliou que esta “não é uma situação de desequilíbrio temporário. Está relacionado aos mercados financeiros. Enquanto não chegarmos a uma estabilidade financeira no mundo, as commodities continuarão a refletir isso, esse tipo de especulação. Esta situação, que é “normal” (com bastante aspas) para os mercados financeiros, contaminou as ações de commodities”.

MONOPÓLIO

O engenheiro agrônomo também questionou a monopolização de sementes por multinacionais. “Eu sou contra monopólios em todos os setores, mas tem um setor em que é crucial para a Humanidade, que são as sementes, que evitemos a possibilidade de existirem os monopólios. E esse é um assunto urgente”, alertou.

Ele levantou que a biotecnologia e a transgenia “são novos caminhos importantes da ciência que não podemos descartar. Na Universidade de Campinas tem uma linha de produção de vacinas humanas contra a raiva, de insulina, a partir de plantas de tabaco, de vacinas contra picadas de serpentes em que já não se utilizam cavalos, mas plantas de tabaco”, e fez questão de frisar que o “antagonismo que se criou [aos ogms] tem a ver com uma particularidade do monopólio de uma semente por uma empresa transnacional que não tem as melhores histórias para contar em muitos países”.
 
COMPRAS LOCAIS 
Para Graziano, uma questão importante é que a compra dos alimentos seja realizada pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) localmente. Sua proposta é especializar a FAO em ajuda técnica: “Enquanto a FAO cuida da produção e da organização dos produtores em cooperativas, grêmios e da qualidade da produção, o PMA cuida de comprar e aumentar a sua infra-estrutura de compras locais. E com isso, vamos marchando bem para implementar estes programas. A minha preocupação é aumentá-los o mais rápido possível e conseguir recursos”, explicou.

Em resposta a um jornalista que responsabilizou os biocombustíveis pelo preço dos alimentos, Graziano citou o ex-presidente Lula, considerando que “são como o colesterol, há um bom e outro ruim”, “não apenas no Brasil, mas em outras partes do mundo, há produção de biocombustível que não afeta a segurança alimentar”.
“Não acredito que os biocombustíveis sejam uma bala de prata para usar em qualquer circunstância, mas tampouco devem ser demonizados”.
HP

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