quarta-feira, 27 de abril de 2011

Indústria sofre imenso prejuízo com diferencial de juros, diz Delfim Netto


O ex-ministro Delfim Netto afirmou em sua coluna na revista Carta Capital que os países que estão sofrendo com a supervalorização de suas moedas “não devem continuar a ser obrigados a assistir passivamente à erosão de sua base industrial sujeita à competição desleal de países mais espertos”.

“Vivemos um período relativamente longo (nos anos que antecederam a eleição de Lula) em que o debate econômico esteve interditado. Com a ‘virada de agenda’ em favor do crescimento com inclusão social, parece ter renascido o interesse em discutir a política econômica de forma ampla, sem restrições”, frisou o economista.

Segundo ele, “por mais que se queiram ignorar os fatos, a verdade crua é que o nível da taxa de juros brasileira propicia uma arbitragem [lucro pela diferença com o juro externo] que é incontrolável. O governo está usando alguns instrumentos para reduzir o ritmo da sobrevalorização [do real] que ela permite.

Mas não devemos ter dúvida, mantendo-se as oportunidades de arbitragem, a valorização não para. O que significa que setores que produzem e precisam exportar vão continuar sofrendo imensos prejuízos”.

Para Delfim, as consequências da sobrevalorização do real são terríveis para a indústria e também poderão infligir danos à agropecuária: “Por enquanto, o campo se defende porque os preços externos dos alimentos estão nas alturas. Até quando vão continuar assim é impossível prever.

O agronegócio poderá sentir menos que os demais setores os efeitos da variação cambial, porque o dólar terá de se ajustar no momento em que os preços agrícolas caírem. Mas ainda deve demorar um pouco”.

“Os vastos recursos do sistema financeiro influem decisivamente na construção das expectativas da inflação. São elas que dão o suporte necessário à elevação das taxas de juro”, destacou Delfim. “Nosso papel é insistir em questionar esse mecanismo de criação das expectativas que o Banco Central acaba sancionando.

No final, oficializa a estimativa de inflação que é do próprio sistema financeiro. Quando criticamos esse mecanismo, não estamos dizendo que a taxa de juros não é um instrumento válido para combater a inflação, mas sim que este é um processo perverso que pode pôr em xeque a própria democracia: quem controla a mídia acaba impondo a sua vontade”, acrescentou.
HP
 

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