sexta-feira, 25 de março de 2011

Obama vê naufragar sua ideia de repasse do comando a organização desgastada:


Alemanha descarta entrega para Otan da chefia do ataque à Líbia

Tentativa de evitar a corrosão com o terceiro front na guerra pela posse do petróleo dos povos árabes esbarra em Europa dividida e também sequiosa de se locupletar com as riquezas naturais da Líbia

Dois dias depois de declarar guerra à Líbia, Obama já decidiu passar o comando. Para ele, “a Otan estará envolvida na função de coordenação”; disse que é “pela capacidade extraordinária desta aliança”. Mas a Europa, particularmente a Alemanha, com quem Obama não havia combinado a mudança, descarta Otan na chefia da agressão. Organização, segundo os europeus está muito desgastada entre os árabes, principalmente depois da carnificina e ocupação do Afeganistão e Iraque.
 
A França, que foi a primeira a levantar seus aviões do chão em direção ao norte da África, também rejeitou a brilhante ideia do presidente que recém chegou na Casa Branca. O que levou o ministro do Exterior da Itália - sequioso de prestar serviços aos EUA - a chamar os franceses de “intransigentes”. “A Europa se dividiu. Isso não é algo antifrancês. Estamos falando sobre uma missão importante na qual a Europa precisa agir unida para ter credibilidade”, disse Massari. “Precisamos voltar às regras, com apenas uma cadeia de comando sob a Otan”, disse o chanceler italiano Franco Frattini em discurso no Senado da Itália.
 
Massari também criticou o reconhecimento unilateral da França ao auto-denominado Conselho Nacional da Líbia: “Acreditamos que é difícil que o Conselho em Benghazi possa ser reconhecido como o governo legítimo da Líbia inteira”, disse.
 
A esse insucesso em atingir o consenso durante a agressão, se acresce a disposição do povo líbio e de seu líder Muammar Kadafi, de defender o país e de derrotar os quinta-coluna; logo, em casa, sobreveio uma saraivada de críticas tanto dos republicanos como dos democratas.
 
Tim Johnson (republicano de Illinois) destaca que a intervenção “combinada com nossa presença no Afeganistão e Iraque vai apenas contribuir para elevar o ódio contra a América”, e avalia que “é por assim dizer mais um prego no caixão”.
 
Já o senador Jim Webb, democrata da Virgínia denunciou a falta de “clareza” de Obama. “Qual é o objetivo específico da missão? Quando vai terminar? Porque o Congresso foi marginalizado?”, questiona o senador. “Foi tomada uma decisão de levar as forças dos EUA a uma guerra sem que ele consultasse o Congresso”, denunciou o deputado democrata, Dennis Kucinich, representante do Ohio.
 
“A última coisa que precisamos é de estarmos envolvidos em outra intervenção em outro país islâmcico”, acrescentou.
“É difícil imaginar”, avalia, “que durante o contexto de um debate sobre déficits e cortes de orçamento que o Congresso concordasse em mergulhar os EUA em outra guerra, especialmente desde que a América vai gastar trilhões nas guerras do Afeganistão, Iraque e incursões no Paquistão”.
 
O deputado declarou que está verificando o grau de inconstitucionalidade da intervenção (a Constituição dos EUA prevê que uma guerra contra outro país só pode ser feita caso a segurança dos EUA esteja sendo ameaçada). O critério, é claro, nunca foi levado a sério nas inúmeras guerras imperiais, mas Kucinich pretende se apoiar nele agora e verifica se a ação de Obama é passível de impeachment.
 
Para o deputado não há “conexão entre os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos e o conflito na Líbia”.
 
O republicano do Texas, Ron Paul, também repeliu a não consulta ao Congresso e propõe que emendas com verba orçamentárias para o uso na guerra sejam vetadas. Já Justin Amash, do Michigan, também republicano, quer que o Congresso discuta e vote sua proposta proibindo expressamente os EUA de usar força militar na Líbia.
 
O portavoz da Casa Branca, Jay Carney, reclamou dos congressistas e tenta escamotear o enrosco em que Obama se meteu. “Primeiro dizem que Obama se move muito devagar e agora reclamam que agiu muito depressa”.
 
Não era para menos, Obama declarou guerra, mas depois que os franceses já estavam bombardeando o país africano, descartou o uso de tropas terrestres (mesmo porque isso nem ele, nem seus apoiadores conseguiriam passar no Conselho de Segurança da ONU, ainda mais depois das carnificinas monstruosas no Iraque e Afeganistão perpetradas por tropas ianques) e - dois dias depois de mergulhar na aventura bélica - disse que quer passar o comando. Assim, como observou um articulista norte-americano, Ken Laine, se toda a operação der com os burros n’água a impressão que ficará é de declinio da força e capacidade militar dos Estados Unidos.
 
Para isso, o desencontro entre declarações de Obama afirmando que o objetivo é o afastamento de Kadafi, dos generais ingleses para os quais é impossível o sucesso sem assassinar o líder líbio, enquanto outros acham melhor fingir que se trata apenas de “defesa humanitária de civis” ao tempo em que se despeja bombas e mísseis Tmahawk em Trípoli, mostram a inexistência de consenso sobre as operações de guerra, quem deve comandá-las ou sobre a “missão” (pelo menos para efeito midiático). Numa coisa apenas já se vê concordância: não passou uma semana e todos falam em retirada, mas também concordam que não há uma “estratégia” neste sentido.
 
Obama tenta manter a pose de democrata e disse que a responsabilidade deve ir para “todos os que tomam parte nas operações” e que os EUA vão ter um “papel de apoio”. Disse que quer todos juntos para “cumprir o que o Conselho de Segurança da ONU determinou”, mas as declarações da Liga Árabe, Rússia e China de que os ataques extrapolam a decisão do Conselho de Segurança e as manifestações contra o ataque em 40 cidades dos EUA e as que agora se espalham pelo mundo, inclusive em sua passagem pelo Brasil, Chile e El Salvador deixam claro que a maioria percebe que o caso é assaltar o petróleo e o gás da Líbia para que suas corporações o façam com altas taxas de lucros e nada para o povo em cujo subsolo está a riqueza (ao contrário do que Kadafi garantiu, ou seja, o petróleo líbio para o povo líbio).
 
Obama se acha esperto mas sua jogada não colou: querer que os europeus tirem as castanhas do fogo e deixem a maior parte do petróleo para os EUA. O modelo obamiano de intervenção já exibe seus fracassos e por isso não faltou republicano desancando sua mal disfarçada “Operação do Alvorecer”.

NATHANIEL BRAIA

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