quarta-feira, 23 de março de 2011

Obama, o “democrata” dos bancos e do cartel bélico 

Para ele, democracia é banho de sangue contra civis para pilhar o petróleo líbio 




Pior do que foi a visita de Obama só os puxa-sacos que se assanharam porque o cidadão é americano(certamente, não estavam puxando o saco porque ele é negro).

A professora Maria da Conceição Tavares tem razão: além de não mandar em nada, Obama “não é um iluminado”. Resta dizer que não manda em nada porque abriu mão de mandar em alguma coisa – preferiu deixar os bancos, o cartel bélico, o establishment dos EUA, conduzirem o seu governo.

Mas, também, convenhamos: alguém capaz de frases geniais como “minha mãe jamais imaginaria que minha primeira viagem ao Brasil seria como presidente dos EUA” ou “o que é Brasília, senão o nascimento de um novo dia para o Brasil?” (apenas atrasada em 50 anos) ou “vivemos a mesma história, queremos realizar o sonho americano juntos” (?), não está preparado para o cargo que ocupa.

Luiz Gonzaga Belluzzo escreveu um artigo intitulado “Obama não leu Roosevelt”, referindo-se ao seguinte trecho do discurso de posse do presidente Franklin Delano Roosevelt em 1933, no momento mais fundo da Grande Depressão: “... primeiro, antes de tudo, deixem-me afirmar a minha convicção de que a única coisa da qual devemos ter medo é do nosso próprio medo - do terror sem nome, irracional, injustificado, que paralisa os esforços necessários para converter o retrocesso em avanço”.

Com efeito, o problema de Obama é que ele não tem a coragem de Roosevelt – nem a coragem que seria razoável esperar dele próprio. Daí, os trilhões de dólares para sustentar os responsáveis pela crise dos EUA, o esquecimento dos desempregados – e o bombardeio covarde da Líbia para se apropriar do petróleo daquele bravo país.

Obama veio ao Brasil, sobretudo, por duas razões: acha que pode “apaziguar” o nosso governo diante da agressão cambial e comercial dos EUA, para continuar a cavar o déficit brasileiro nas trocas de mercadorias; e, segundo, acha que pode atrair o nosso governo para isolar os demais governos progressistas da América Latina e do mundo – um ponto do programa de McCain (e Sarah Palin) que Obama adotou: a pessimamente, enganosamente denominada “liga das democracias”.

Seria necessário que houvesse democracia nos EUA para que, ao menos, essa proposta não fosse absurda. Seria preciso que os EUA ainda fossem o país de Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt para que isso não soasse como um escárnio. Porém, se Lincoln e Roosevelt, por algum milagre, aparecessem hoje em Washington, ou em qualquer parte do território norte-americano, não reconheceriam os EUA – um país com a Constituição submetida a dois atos antipa-trióticos ditatoriais e, como disse Michael Moore, sob um golpe de Estado financeiro.

Enquanto, nesse país do Norte, os cidadãos tiverem dificuldade até de exercer o direito de votar; enquanto as eleições norte-americanas estiverem submetidas a fraudes nacionais e ao arbítrio de corruptos chefetes locais; enquanto a liberdade de expressão nesse país for tão restrita que meramente só os magnatas e sua côrte têm acesso ao rádio, televisão e aos jornais; enquanto os direitos civis dos norte-americanos forem esmagados pelo poder financeiro de alguns bancos e outros monopólios; enquanto os EUA não respeitarem a soberania dos outros países; enquanto seus governantes e sua casta dominante assassinarem em massa, além de suas fronteiras, crianças, jovens, mulheres e homens; e enquanto todos os norte-americanos não desfrutarem de um mínimo de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, além de direitos políticos para exercer suas atividades sindicais mais elementares – será melhor arrumar outra proposta, ou outro nome, que não seja “liga das democracias”.

Fora isso, falar em democracia (e, pior ainda, em “liga das democracias”) é, se o leitor nos permite a expressão, conversa fiada para enganar tolos ou incautos - e pilhá-los.

Que certa mídia, mais norte-americana do que brasileira, bajulasse essa vigarice, nada há com que se espantar. Por outro lado, alguns equívocos foram corrigidos a tempo: foi importante, neste sentido, a nota do diretório do PT do Rio, retificando a nota anterior de seu presidente, que, um pouco afobado, em relação a Obama “desautorizava qualquer membro [do PT] a manifestar opinião, em nome do Partido, que não reflita o posicionamento oficial do mesmo”, segundo ele, de apoio à visita.

A questão é simples: os interesses do Brasil e os interesses representados por Obama, na medida em que se curva aos bancos e belicistas dos EUA, não são os mesmos. Mais exatamente, são conflitantes. E não há quem se diga progressista que possa apoiar um massacre, um banho de sangue, como os EUA estão promovendo agora na Líbia e como a administração Obama continua promovendo no Iraque e no Afeganistão. Sempre em nome da “democratização” desses países, massacram a única fonte legítima e possível da democracia, o povo desses países. Como se os EUA, que não conseguem democratizar nem o Bronx, estivessem em condição de dar lições a algum outro povo sobre o tema...

Aliás, tivemos uma breve exibição dessa “democracia” durante três dias, em que, inadvertidamente, alguns indivíduos da guarda pretoriana da Casa Branca ocuparam pequenas partes do país (o nosso). Além de tentarem revistar nossos ministros de Estado (e mais de uma vez no mesmo dia), deterem veículos da polícia brasileira, desrespeitarem o fato de estarem em nosso território, por pouco não encarceram o pessoal da Cidade de Deus, espremidos atrás de uma cerca. Em tempo, desistiram de fechar 9 dos 10 acessos à Cinelândia para revistar quem entrasse na Praça Floriano – e logo no Rio, cidade com um povo que não costuma deixar estrangeiros passarem dos limites nem no carnaval.
Walt Whitman, chamado pelos norte-americanos “poeta da democracia”, escreveu sobre o seu país que “nunca será demais repetir que [democracia] é uma palavra da qual o conteúdo verdadeiro dorme, ainda longe de ser despertado, não obstante a repercussão e as muitas tempestades raivosas, da língua e da pena, com que suas sílabas têm sido articuladas. É uma grande palavra, cuja história imagino que permanece por ser escrita, pois essa história ainda está para ser posta em prática”.

Porém, mais adequado à atual “democracia” norte-americana é um dos seus melhores poemas: “Oh, doloroso fim dos patriotas desterrados!/ Oh, cansaço dos corações!/ Voltai o vosso olhar para esse dia e renovai-vos.// A vós, canalhas pagos para corromper o Povo, escutai!/ Apesar das inumeráveis agonias, crimes, cobiças,/ Apesar das formas vis de roubo das cortes, aproveitando a simplicidade do pobre para roubar o seu salário,// (…) // Entretanto jazem os cadáveres nas valas recém-abertas, os sangrentos cadáveres dos jovens// (...) Esses mártires suspensos das cordas, esses corações atravessados pelo sombrio chumbo,/ Frios e hirtos, parecem, mas algures perdura a sua incólume vitalidade.// (..) Não há um único morto pela liberdade em cujo túmulo não cresça uma semente de liberdade, dando sementes também,/ E os ventos levam-nas e elas voltam a germinar e alimentam-nas as chuvas e as neves”.
CARLOS LOPES

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