sexta-feira, 25 de março de 2011


Mísseis humanitários matam civis na guerra por petróleo-1

MICHEL CHOSSUDOVSKY*

O bombardeio da Líbia esteve na prancheta do Pentágono durante vários anos como foi confirmado pelo ex-comandante da Otan, o general Wesley Clark.

A operação “Odisseia da Alvorada” é reconhecida como “a maior intervenção militar ocidental no mundo árabe desde a invasão do Iraque, começada exatamente há oito anos”.

Essa batalha é parte da guerra pelo petróleo. A Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com cerca de 3,5% das reservas mundiais de petróleo, mais do dobro dos EUA.
O objetivo de fundo é obter o controle sobre as reservas de petróleo e gás da Líbia sob o disfarce de uma intervenção humanitária.

As implicações geopolíticas e econômicas de uma intervenção militar conduzida pelos EUA-Otan contra a Líbia são de longo alcance.

A operação “Odisseia da Alvorada” faz parte de uma agenda militar mais vasta no Médio Oriente e da Ásia Central, a qual consiste na obtenção de controle e propriedade sobre mais de 60% das reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo petróleo e rotas de gasodutos e oleodutos.

Com 46,5 bilhões de barris de reservas provadas, (10 vezes as do Egito), a Líbia é a maior economia do petróleo no continente Africano, seguida pela Nigéria e Argélia (Oil and Gas Journal). Em contrapartida, as reservas provadas de petróleo dos EUA são da ordem de 20,6 bilhões de barris (dezembro 2008), segundo a Energy Information Administration. US Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gás Liquids Reserves).
Aventura militar

Uma operação militar desse tamanho e magnitude, envolvendo a participação ativa de vários membros da Otan e os países parceiros nunca é improvisada. A “Odisseia da Alvorada” estava em estágios avançados de planejamento militar antes do movimento de protesto no Egito e na Tunísia.

A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de protesto se espalhou de forma espontânea a partir de Tunísia e Egito para a Líbia.

A rebelião armada no leste da Líbia está diretamente apoiada por potências estrangeiras. As forças rebeldes em Benghazi imediatamente içaram a bandeira vermelha, preta e verde com o crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do rei Idris, que simbolizava o governo das ex-potências coloniais. (Ver Manlio Dinucci, Líbya - When historical memory is erased, Global Research, February 28, 2011).

A revolta também foi planejada e coordenada com o calendário da operação militar. Ela tinha sido cuidadosamente planejada meses à frente do movimento de protesto, como parte de uma operação secreta.

Forças especiais dos EUA e britânicas foram relatadas como presentes no terreno “ajudando a oposição” desde o início.

O que estamos tratando é de um roteiro militar, um cronograma de eventos militares e de inteligência, cuidadosamente planejados.

Cumplicidade das Nações Unidas

Até agora, a campanha de bombardeio resultou em inúmeras mortes de civis, as quais são classificadas pela mídia como “dano colateral”, ou atribuídas às forças armadas da Líbia.
Numa amarga ironia, a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, concede um mandato à Otan “para proteger os civis”.
Proteção de civis

  3. Autoriza os Estados-Membros que tenham notificado o Secretário-Geral, agindo a nível nacional ou através de organizações ou acordos regionais, e em cooperação com o Secretário-Geral, a tomar todas as medidas necessárias, não obstante o parágrafo 9 da Resolução 1970 (2011), para proteger os civis e áreas densamente povoadas, sob ameaça de ataque na Líbia, incluindo Benghazi, com exclusão de força de ocupação estrangeira de qualquer forma, em qualquer parte do território da Líbia, e solicita aos Estados-Membros em causa, informar ao Secretário-Geral imediatamente a cerca das medidas adotadas nos termos da autorização conferida por este parágrafo, o que deverá ser imediatamente comunicado ao Conselho de Segurança, (Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia: Zona de exclusão aérea e outras medidas, 18 de março de 2011)

A resolução da ONU concede às forças da coalizão carta branca para participar de uma guerra total contra um país soberano, em desrespeito ao direito internacional e em violação da Carta das Nações Unidas. A Resolução também serve aos interesses financeiros dominantes: não só permite à coalizão militar bombardear um país soberano, mas também permite o congelamento de bens, pondo assim em risco o sistema financeiro da Líbia.

  Congelamento de ativos

  19. Decide que o congelamento de bens imposto pelos parágrafos 17, 19, 20 e 21 da Resolução 1970 (2011), será aplicado a todos os fundos, outros ativos financeiros e recursos econômicos que estejam em seus território, que são propriedade ou controlados, direta ou indiretamente, por as autoridades líbias, ....
 
Em parte alguma da resolução do CS da ONU é mencionada a questão da mudança do regime. No entanto, entende-se que as forças da oposição iriam receber parte do dinheiro confiscado nos termos do artigo 19 da Resolução 1973. Discussões com líderes da oposição para este fim já ocorreram. Isso se chama cooptação e fraude financeira.

20. Afirma a sua determinação em garantir que os bens congelados nos termos do parágrafo 17 da resolução 1970 (2011) é, numa fase posterior, tão logo quanto possível, seriam colocados à disposição e em benefício do povo da Líbia;

 No que respeita à “Execução do embargo de armas”, sob o parágrafo 13 da resolução, as forças de coalizão irá comprometer-se-ão, sem exceção, com a aplicação de um embargo de armas à Líbia. No entanto, desde o início, é uma violação do art. 13, através do fornecimento de armas às forças de oposição em Benghazi.
 *Michel Chossudovsky escreve no site Global Research. Título original , “Líbia: o maior empreendimento militar desde a invasão do Iraque”                                               

Nenhum comentário: