domingo, 20 de março de 2011

Mercadante: Proteção de nossas usinas é maior do que no Japão

“São dois modelos de reatores distintos. O nosso é mais moderno”, argumentou o ministro de C&T


O ministro de Ciência e Tecnologia (MCT), Aloizio Mercadante, defendeu na última terça-feira, dia 15, o programa nuclear brasileiro e rejeitou mudanças no cronograma do programa em função do desastre ocorrido no Japão. “O Brasil nunca viveu terremotos na escala que no Japão é recorrente, e nunca tivemos tsunamis ou maremotos. Nós não podemos fazer associação com cenário semelhante ao que aconteceu no Japão”, disse o ministro.

De acordo com Mercadante, qualquer comparação entre o desastre nuclear ocorrido no Japão e eventuais riscos nucleares no Brasil seria “indevida”, e que o programa nuclear brasileiro não sofrerá alterações: “O que é indevido é associar o cenário do Japão a um eventual episódio brasileiro”.

Mercadante reafirmou ainda que o histórico de acidentes naturais no país oriental é diferente do brasileiro. “No Brasil não tem os terremotos, tsunamis ou maremotos que têm no Japão”, disse, ressaltando que as condições geológicas e climáticas brasileiras são diferentes. “O Brasil não tem fronteira de placa tectônica”.

Diferenciando os tipos de usinas nucleares utilizadas nos dois países para a geração de energia, Mercadante ressaltou que as usinas brasileiras contam com uma “linha de defesa mais rigorosa” em comparação às japonesas.

“São dois modelos de reatores distintos. O nosso reator é um pouco mais moderno. As paredes são mais robustas do que reator japonês e a nossa usina é capaz de aguentar tsunamis de até sete metros de altura e eventuais terremotos de 6,5 graus na escala Richter”, considerou.

As usinas nucleares brasileiras - localizadas em Angra dos Reis (RJ) - utilizam o sistema “Pressure Water Reactor” (PWR), de reatores de água a pressão. Já as japonesas que entraram em colapso são do sistema “Boiling Water Reactor” (BWR), de reator com água fervente. No sistema BWR, a água pressurizada ferve e o vapor fica dentro do núcleo do reator, enquanto que no PWR, a água pressurizada não ferve e o vapor entra em um circuito independente. A separação de material atômico do restante da usina permite a continuidade de resfriamento mesmo com a interrupção de energia, o que não ocorre no sistema BWR.

De acordo com a Eletronuclear, o reator a água pressurizada de Angra 2, por exemplo, “trabalha com 4 circuitos térmicos independentes. O sistema de refrigeração do reator está isolado do circuito água/vapor da turbina (sistema secundário) pela interposição dos geradores de vapor (GVs). Conseqüentemente, nenhuma radioatividade pode passar do sistema de refrigeração do reator para o circuito da turbina. As instalações de conversão da energia do vapor em energia elétrica não são, portanto, essencialmente diferentes daquelas das usinas termoelétricas convencionais”.

As usinas de Angra 1 e Angra 2 são responsáveis pela produção de 3% da energia consumida no país. Uma terceira usina, a Angra 3, está em construção com conclusão prevista para 2015. O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, afirmou que o programa nuclear brasileiro prevê a construção de quatro a oito novas usinas no país até 2030.

Mercadante falou ainda das diferentes iniciativas do Brasil na área nuclear. “Hoje, a CNEN é responsável principalmente por fiscalizar toda e qualquer atividade nessa área. Além dela, os ministérios de Minas e Energia e da Defesa também possuem responsabilidade nesse processo. No da Defesa, por exemplo, existe o projeto de construção de um submarino nuclear e o de Minas e Energia é responsável pela construção das usinas”, finalizou.

Por sua vez, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o país manterá o programa nuclear e que não existe a necessidade de se realizar qualquer revisão. “Não. Nós não temos nenhuma necessidade de revisão, a não ser aprender com o que aconteceu lá, alguns procedimentos que possam ser aprendidos para serem utilizados no futuro. As dificuldades que as usinas lá tiveram as nossas não terão, pois têm uma proteção maior”, disse Lobão.

Segundo o ministro, quando foram construídas as usinas nucleares em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, já houve uma grande preocupação com a atividade das marés. “Portanto, não temos razão e motivação nenhuma para preocupação maior. Vamos prosseguir com nosso programa. As nossas usinas foram construídas dentro da melhor tecnologia existente, ainda é muito boa. Os próprios técnicos dizem que as usinas japonesas estavam sujeitas a algumas vulnerabilidades que as nossas não estão. Não temos nenhuma razão para duvidar da excelência das usinas nucleares”, considerou o ministro.

Para o supervisor de Novas Usinas da Eletronuclear (subsidiária da Eletrobrás), Dráuzio Lima Atalla, a questão da energia nuclear no Brasil está relacionada à necessidade do país de energia para o seu crescimento.

“Nós somos subconsumidores de energia elétrica. Nós somos imensamente pobres em energia elétrica”, disse, em entrevista à Agência Brasil. Com um consumo de energia elétrica per capita da ordem de 2,4 mil quilowatts-hora (kWh) por ano, o Brasil está distante de como a Alemanha, Suíça e os Estados Unidos, cujo consumo por pessoa alcança até 15 mil kWh por ano.

O engenheiro destaca que “como o Brasil necessita dobrar, no mínimo, o consumo, nós precisamos de todas as energias. Existe espaço para todas elas. Só que cada energia tem um aspecto mais positivo ou mais negativo”.

Ele compara a produção de energia nuclear com a eólica, onde seriam necessárias 1,5 mil turbinas para gerar a mesma quantidade de energia da Usina Nuclear Angra 2 (1.350 megawatts). “Existe espaço para eólica. Mas, nós não vamos ter um país de 200 milhões de habitantes, com a nossa extensão, só em cima de eólica. É um sonho”, considera.

O mesmo ocorre em relação à energia solar. De acordo com Atalla, as fontes hidráulicas também têm seus problemas. “Imaginem um abalo sísmico desses [como no Japão] perto de uma represa. O que iria acontecer?”, indagou.

O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, considera cedo para se posicionar com relação ao incidente nuclear do Japão. Segundo ele, os brasileiros “podem estar tranquilos quanto às medidas de segurança adotadas. A nossa matriz nuclear não se abala com os acontecimentos no Japão”.

Outra importante vantagem da produção de energia a partir de uma central térmica nuclear é o baixo impacto ao meio ambiente, devido à pouca quantidade de combustível utilizado. Segundo aponta a CNEN, 10 gramas de Urânio 235 (utilizado como fonte de calor), equivalem a 700 kg de óleo, ou a 1.200 kg de carvão mineral.
HP

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