domingo, 20 de março de 2011


Lula: união Brasil-países árabes rompeu submissão ao EUA e UE

“Quanto mais forte for a relação do Brasil com o Oriente Médio, menos o Brasil e o Oriente Médio serão dependentes da Europa e dos EUA”

O ex-presidente Lula afirmou, durante o fórum sobre as mudanças no mundo árabe, promovido pela rede de TV Al Jazeera, em Doha, no Catar, no último fim de semana, que os protestos ocorridos recentemente naqueles países devem promover muitas mudanças na situação política da região. Segundo ele, certamente haverá um aumento da preocupação com a população jovem e com a distribuição de renda nesses países. “Eu aprendi na luta do Brasil que a democracia não é um conceito vago. A democracia é uma conquista que é feita de forma coletiva pela sociedade como um todo”.





Lula lembrou que a democracia “não é apenas o direito de gritar e dizer que você está com fome, é um direito para você ter comida na mesa. Não é apenas o direito de desejar trabalho, é realmente ter uma oportunidade de trabalhar. Não é só para ter a possibilidade de gritar que você deseja estudar”.

Durante a viagem, Lula falou também à Rede BBC, onde destacou a importância das relações do Brasil com os países Árabes. “Quanto mais forte for a relação do Brasil com o Oriente Médio, do ponto de vista comercial, político, econômico e cultural, menos o Oriente Médio será dependente da Europa e dos EUA, e menos o Brasil será dependente da Europa e dos EUA”, argumentou. “Nós diversificamos as nossas relações. Durante séculos, nós estivemos afastados, e eu diria que por interesses econômicos das grandes potências. Não há motivo para governantes brasileiros passarem um século e meio sem ir a países do Oriente Médio”, acrescentou.

CRISE

Sobre a crise mundial, ele não poupou críticas aos chamados países desenvolvidos. “A verdade da questão, meus caros amigos, é que por muito tempo, muitos líderes do mundo acreditaram que os mercados resolveriam tudo. Com a falência do Lehman Brothers e a crise do subprime nos EUA, as pessoas começaram a compreender que os governos são eleitos para governar e que os mercados existem apenas para ganhar dinheiro e não para se preocupar com questões sociais”, observou o ex-presidente.

“Os mercados não estão preocupados com a educação, com a distribuição de renda. Os mercados não têm nada a ver com a busca da igualdade social. Quem tem estas preocupações é o Estado e não os mercados”, salientou. “E o que temos percebido com a crise é que os países que pareciam saber tudo, na verdade não sabem nada”, criticou. “Aqueles que diziam como resolver os problemas dos países pobres, não souberam como resolver seus próprios problemas no meio da crise financeira global”. “Por exemplo, o FMI tinha todas as receitas. Mas quando a crise atingiu os países ricos, o FMI não sabia o que fazer. O Banco Mundial não sabia o que fazer”, acrescentou Lula. “Quem estava melhor preparado para enfrentar a crise? Foram exatamente os países emergentes. Países como Brasil, China, Índia e outros”. “Esses países investiram num mercado interno forte e foram mais resistentes à crise financeira global”, observou.



Lula disse que por um longo tempo, a América Latina, a América do Sul e o Brasil ficaram subordinados a uma lógica determinada pelas superpotências como a União Europeia ou os Estados Unidos”. “Eles fizeram com que nós virássemos as costas para os nossos visinhos. O Brasil não olhava para a América do Sul ou para a África. O Brasil não olhava para o Oriente Médio. Só via a Europa, Londres, Washington, ou Nova Iorque. Por isso, nós decidimos mudar nossa política externa”.

ÁFRICA 
Sobre as relações do Brasil com a África, eles disse que elas cresceram muito depois dessas mudanças. Lula frisou que foi o presidente que mais visitou o continente africano. “Visitei 29 países. Mais que todos os presidentes de toda a história da República do Brasil. Se eu puder ajudar Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, eu tenho que ajudar. E estou disposto a fazer esse esforço”, ressaltou.

Sobre a política de priorizar as reações Sul-Sul, o ex-presidente disse que ela foi fundamental para o desenvolvimento da América do Sul e de outros países emergentes. “A nossa integração foi boa porque fortaleceu a nossa voz no cenário mundial”. “Houve o fim de uma bipolaridade em que duas grandes potências diziam ao mundo o que fazer”, lembrou. “Depois do fim da bipolaridade, ficou quase que uma posição única. No fundo, mandavam quase que só a União Europeia e os Estados Unidos”, denunciou.

“Acho que a tendência daqui para frente é o Brasil se fortalecer muito mais na sua política externa, porque isso foi muito bom para o país e para o povo brasileiro”, completou.

MERCOSUL

Ao comentar a liderança do Brasil no Mercosul, o ex-presidente disse que “ninguém pediu para o Brasil liderar a região. O que tem que se levar em conta é que o Brasil é a maior economia, tem a maior população (da América Latina), e, portanto, é quase que normal que o país tenha um papel importante nessas relações. Mas qualquer um dos quatro países do Mercosul pode falar pelo Mercosul, qualquer um da Unasul pode falar em nome da Unasul”, afirmou.

Lula lembrou que “na década de 80 e 90 do século XX, o pensamento conservador hegemônico impôs modelos de ajuste econômico que foram extremamente discriminatórios”. “Essas diretrizes contrapunham crescimento econômico e distribuição de renda”. “Eles diziam que a prioridade era a estabilidade e acabaram jogando nossos países na recessão, no desemprego e no caos”, denunciou. “Não aceitamos mais essas idéias absurdas e o nosso governo decidiu que era necessário dar condições mínimas de sobrevivência para os pobres”.

S.C.

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