domingo, 20 de março de 2011

Auxiliar de Obama desdenha rombo comercial do Brasil com EUA

O vice-conselheiro de segurança, dos EUA, Mike Froman, responsável por assuntos econômicos internacionais do governo americano, abriu o jogo na teraç-feira (15) ao falar sobre as reais intenções da viagem de Barack Obama ao Brasil. “Essa viagem é fundamental para a recuperação econômica e para as exportações americanas”, disse o funcionário da Casa Branca. Ou seja, além do olho gordo no petróleo do pré-sal, Obama está vindo ao Brasil com o objetivo de aprofundar o já desequilibrado comércio do país com os EUA.

De um superávit de US$ 1,7 bilhão em 2008, a balança de comércio Brasil/EUA passou a ser deficitária em US$ 4,4 bilhões em 2009 e atingiu um rombo de US$ 7,7 bilhões em 2010. Isso pelos números brasileiros, porque pelos dados do governo americano o rombo já estaria na casa dos US$ 11 bilhões. Somente nos dois primeiros meses deste ano, o saldo do Brasil com os EUA já está negativo em US$ 1,25 bilhão, ou 93,8% acima do mesmo período do ano anterior. Mas o vice-conselheiro não está satisfeito com isso. Ele quer aumentar esse déficit porque os EUA “estão em dificuldades”.

Mike Froman explicou que “as exportações para o Brasil geram 250 mil empregos nos Estados Unidos”.

Além disso, ele lembrou que “metade da população do Brasil é hoje considerada classe média”. “Isso cria uma grande oportunidade para nós vendermos nossos produtos lá”, avaliou. Não importa que a enxurrada dos produtos americanos entrando no país estejam provocando problemas para as indústrias brasileiras. O que fica claro nessas declarações é que o que interessa a eles é resolver o problema lá, mesmo que isso signifique quebrar o Brasil. O chefe do Conselho de Assessores Econômicos de Obama, Austan Goolsbee deixou claro que os EUA estão se lixando para os problemas que a sua guerra cambial possa estar causando à economia do Brasil. Para ele, a meta dos EUA “é aumentar as exportações dos atuais US$ 1,57 trilhão para US$ 3,14 trilhões em 2014”. Em suma, querem sair da crise inundando o mundo inteiro, inclusive o Brasil, com seus produtos.

A presidenta Dilma Rousseff já manifestou que não está satisfeita com esses números e tudo indica que ela aproveitará a vinda de Obama para cobrar maior equilíbrio no comércio entre os dois países.

Indiferente às pressões tanto de empresários como do governo brasileiro, o vice-conselheiro americano ironiza a situação e provoca. “Superávits e déficits sobem e descem o tempo todo”, disse. “Nós não vemos o déficit ou o superávit comercial como um problema, e sim como um potencial para aprofundar nossos laços econômicos”, acrescentou. Não é por acaso que ele usou termos como “laços” e “aprofundar”, ao falar sobre o comércio com o Brasil. Seu objetivo é estrangular a produção local para poder desovar os seus produtos.

E o açodamento é tão intenso que, ao ser questionado sobre um possível adiamento da viagem por conta de crise do Japão e também por estar havendo uma votação importante sobre o orçamento que pode parar os EUA caso não seja realizada, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, foi categórico: “A viagem está de pé”. “O crescimento econômico é a maior prioridade do presidente e essa viagem é muito focada nas oportunidades econômicas e comerciais dos EUA. Por isso ele vai manter a viagem”, justificou.

Os números divulgados na quarta-feira (16), referentes ao comércio exterior, confirmam que a economia dos EUA, ao contrário do que apregoavam alguns apressa-dinhos, está indo de mal a pior. O rombo na balança comercial americana subiu de US$ 506 bilhões em 2009 para US$ 647 bilhões em 2010. As exportações subiram de US$ 1,068 tri em 2009 para US$ 1,289 tri em 2010. Só que as importações subiram mais que as exportações e o déficit se agravou. Elas foram de US$ 1,57 tri em 2009 para US$ 1,936 tri em 2010. Em suma, como disse o cineasta Michael Moore, recentemente, os EUA sofreram um verdadeiro “golpe de estado financeiro”.

Por isso o país entrou na pior crise desde a Grande Depressão 1929 e sua produção está estagnada. E é bom que durante a visita ao Brasil, tanto Barack Obama quanto esses seus espaçosos funcionários percebam que o Brasil não está nem um pouco disposto a sacrificar a sua produção e os empregos de seus trabalhadores para corrigir a lambança que os banqueiros de Wall Street fizeram com a economia americana.
SÉRGIO CRUZ 

Nenhum comentário: