terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Obama mantém redução de imposto para ricos e corta programas sociais

Para diminuir rombo criado para salvar bancos falidos, Obama quer cortar verbas do tratamento de água; do apoio para crianças mal nutridas e até da manutenção dos diques de Nova Orleans

O governo Obama apresentou seu plano de orçamento dos EUA para 2012, de 3,7 trilhões, em que, para “combate ao déficit”, propõe redução de US$ 1,1 trilhão ao longo de dez anos. Dois-terços disso por meio de cortes de programas essenciais, como o que concede ajuda a idosos e famílias de baixa renda para o aquecimento de inverno – encurtado à metade, para US$ 2,5 bilhões, e afetando 3,5 milhões de pessoas. Este vem sendo um inverno particularmente rigoroso. O plano também reduz ao meio programa de apoio às comunidades carentes, para US$ 300 milhões.
AJUDA A CRIANÇAS

Apesar de propor – o que não deverá passar na Câmara federal controlada pelos republicanos -, que o outro um-terço corresponda à alta de impostos para os ricos, Obama também mandou passar a faca no programa de financiamento de estudantes universitários, o “Pell Grants”, que terá juros maiores. A tesoura não poupou nem mesmo um programa para incentivar bons alunos de faculdades renomadas a se tornarem professores: US$ 20 milhões a menos. Foram subtraídas, ainda, verbas do Serviço Florestal, de projetos de tratamento de água, do apoio a crianças mal nutridas, e até do órgão responsável pela manutenção dos diques de Nova Orleans.

Anteriormente, Obama já havia se decidido por outro congelamento, o do salário dos servidores públicos, por cinco anos. O que também não servirá para nada, a não ser causar mais contração da demanda interna, já que o déficit explodiu por causa do socorro aos bancos, dos gastos com duas guerras, das isenções de impostos às corporações e ricaços; e da queda de arrecadação decorrente da crise e correlato aumento dos gastos sociais. Assim, de US$ 161,5 bilhões em 2007 – às vésperas da crise, correspondendo a 1,2% do PIB -, o déficit subiu a US$ 455 bilhões em 2008, ou 3% do PIB. Em 2009, disparou até 10% do PIB – patamar de crise grega -, com US$ 1,4 trilhão, baixando ligeiramente para US$ 1,3 trilhão no ano seguinte. A previsão é de 9,8% para 2011.

Como era de se esperar, os cortes de Obama não aplacaram os republicanos, que continuam exigindo coisa muito mais radical, contra desempregados, idosos, pobres, e desperdícios com infraestrutura, saúde e previdência.

Para eles, intocável só o dinheiro do Pentágono e de Wall Street. Aliás, na sua principal contribuição até aqui à discussão do déficit, os republicanos o aumentaram em US$ 858 bilhões, com a extensão até 2012 da isenção de impostos aos ricos, acertada com Obama em troca de um ano de seguro-desemprego. Já a comissão bipartidária do déficit que Obama nomeou havia proposto cortes de US$ 4 trilhões.

Enquanto não consegue emplacar os cortes no atacado, a bancada republicana tem suas próprias sugestões quanto ao varejo: eliminar todas as verbas para planejamento familiar, para o trem de alta velocidade, para a assistência jurídica aos pobres e para a rádio pública. As verbas da proteção ao meio ambiente seriam cortadas em “apenas” 30%. Já os centros comunitários de saúde ficariam sem US$ 1 bilhão. Querem depenar até programa de leite para gestantes, mães e crianças pobres. Mas, como assinalou o economista Dean Baker, mesmo que “zerassem” o aquecimento dos idosos e os auxílios a crianças e a desempregados, o déficit mal seria arranhado. O que não surpreende, devido às dimensões que o megaProer de W. Bush alcançou, mais as duas guerras e agora a guerra cambial e a superemissão de dólares (600 bilhões).

PENTÁGONO

Palavrório todo contra o déficit à parte, o que não falta é despesa que os republicanos não querem cortar. Como os US$ 1 trilhão orçados ao Pentágono, entre “defesa”, guerras do Afeganistão e Iraque, espionagem, espaço e energia nuclear.

Os gastos militares dos EUA já são 44% do total de gastos do mundo inteiro. Um ano de verba para a guerra do Afeganistão seria o suficiente para dar conta dos US$ 100 bilhões de programas sociais que os republicanos querem cortar já. No caso da saúde, para substanciais reduções nos gastos, bastava apenas, como registrou o ex-secretário do Trabalho de Clinton, Robert Reich, permitir que o governo usasse seu poder, como maior comprador de remédios e serviços hospitalares. O que é proibido por lei, para evitar “abuso monopolista”.
E se coçar o bolso dos bancos, então...

Nenhum comentário: