sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Falta de investimentos de transmissora privatizada causou apagão em S. Paulo
“Falta investimento”, denunciou Paulo Robini, diretor do Sinergia-CUT. O apagão de terça-feira foi causado por sobrecarga em transformador da Subestação Bandeirantes da CTEEP, privatizada em 2006, afetando mais de 2,5 milhões de pessoas

Um novo apagão deixou as zonas Sul, Centro e Oeste da cidade de São Paulo sem energia elétrica na tarde da última terça-feira, dia 08, afetando mais de 2,5 milhões de pessoas. A pane é fruto do desmonte do sistema de transmissão e distribuição de energia no estado, realizado a partir da privatização das empresas CTEEP e Eletropaulo, hoje em mãos de multinacionais.

A queda de energia deixou ainda 3 milhões de pessoas sem água em pelo menos 10 bairros da Grande São Paulo. Segundo a Sabesp, 46 bombas foram afetadas em sete reservatórios. O abastecimento não havia sido restabelecido até a quarta-feira.
A interrupção foi causada por uma sobrecarga em um dos transformadores da Subestação Bandeirantes da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), privatizada em 2006, que após sobrecarga, desligou todo o sistema.

Este não foi o primeiro apagão ocasionado por problema na Subestação Bandeirantes da CTEEP, empresa responsável pela distribuição de energia que é administrada pela multinacional de origem colombiana ISA. Em 2008, a explosão de um transformador da companhia na mesma subestação deixou sem energia 3 milhões de pessoas em 21 bairros na capital e parte dos municípios de Taboão da Serra e Embu. Na ocasião, a Linha Azul do Metrô paulista, e o aeroporto de Congonhas, ficaram paralisados.

A CTEEP deveria ter concluído a construção de uma outra subestação, a Piratininga II, em abril de 2010 para desafogar a Bandeirantes, o que poderia ter evitado o apagão. Entretanto, a obras só tiveram início no mês passado, e a nova subestação deve entrar em operação apenas em 2012.

“Ou o transformador estava sobrecarregado, ou atingiu o limite de vida útil ou teve problema de manutenção. Falta investimento”, considerou Paulo Robini, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia-CUT) e da diretoria de energéticos do DIEESE, em entrevista ao HP.

Segundo Paulo é difícil saber exatamente o que aconteceu porque o governo não tem mais muito controle sobre o sistema, diferente de quando as empresas de energia (geradoras, transmissoras e distribuidoras) eram estatais: “Naquele tempo não tinha essas coisas porque tinha investimento”, afirmou. Investimento esse em ampliação da capacidade de transmissão da energia e em manutenção dos equipamentos, que tem que ser feito pelas privatizadas. “A partir do momento que você faz um planejamento da carga ou a manutenção preventiva não tem como ter problema”, garantiu Paulo Robini.

De acordo com o diretor do Sindicato, o planejamento da carga é feito pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), pessoa jurídica de direito privado que controla o Sistema Interligado Nacional. Criado em 1998 durante as criminosas privatizações do setor elétrico, o Operador é uma associação civil composta por membros indicados pelas empresas e divididos por categorias: de produção, de transporte e de consumo. Do total de quinze membros do conselho de administração, apenas um representa o Ministério das Minas e Energia.

Sobre o papel do ONS no blecaute, Paulo Robini explicou que o operador é responsável pelo planejamento e, por isso, deveria saber quanta energia o transformador sustenta. “Eles devem ter esses dados”, disse.

Com as panes - a primeira aconteceu às 15h11 e a segunda às 16h40 - as áreas atingidas passaram por momentos de caos. As regiões da Av. Paulista, Brigadeiro, rua 13 de Maio e imediações, parte da zona sul - como Vila Olímpia, Itaim Bibi -, e parte da zona oeste – como Vila Leopoldina, Perdizes, Pinheiros foram as mais afetadas pelo apagão. Alguns comércios tiveram que funcionar à luz de velas. Nos prédios comerciais e residenciais, os elevadores ficaram sem funcionar causando tumulto em alguns lugares. Apenas os prédios com geradores próprios tinham luz. A falta de energia atingiu ainda o Aeroporto de Congonhas, que foi obrigado a operar com auxílio de geradores.

Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), semáforos das regiões dos Jardins, Jabaquara, Ibirapuera, Brooklin, Itaim Bibi e Moema foram afetados. O trânsito na região ficou muito complicado devido à pane.
O governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), disse considerar a possibilidade de aplicar sanções às empresas. Segundo ele, os apagões “tem sido numa proporção muito maior do que nos últimos anos”.
 
AES 
Para o Procon, a CTEEP não é a única que deve responder pelo incidente. A multinacional norte-americana AES Eletropaulo, concessionária responsável pela distribuição de energia do município, “é a principal responsável perante os consumidores por quaisquer danos que eles (os consumidores) tenham sofrido”.

“Em 2010, foram mais de 600 (casos pontuais de falta de luz). De novembro para cá, foram outros 15. A empresa saiu daqui com uma notificação para prestar esclarecimentos sobre essas ocorrências, desde novembro do ano passado até a ocorrência de ontem. Uma por uma”, afirmou Renan Ferraciolli, diretor de fiscalização do órgão.

O Procon também informou que, entre 2008 e 2010, a Eletropaulo já foi multada em cerca de R$ 5,5 milhões por interrupções indevidas no fornecimento de energia em São Paulo.

Após a entrega das explicações no próximo dia 24, o Procon irá analisar as considerações da Eletropaulo. “Se, por acaso, acharmos que as medidas anunciadas não estão a contento –ou seja, que a empresa não consegue garantir um abastecimento sem cortes–, poderemos abrir um processo administrativo e punir a concessionária com multa”, afirmou Ferraciolli.

A concessionária também terá que dar explicações sobre a demora no restabelecimento de energia, que ocorreu há uma semana, no bairro Jardim Santa Cristina, em Santo André, Grande São Paulo. A região ficou sem energia elétrica por três dias. “A Eletropaulo precisa colocar todo seu aparato de atendimento para resolver os problemas dos consumidores”, afirmou Paulo Arthur Góes, diretor-executivo do Procon-SP.

A entidade afirma ainda que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também deve ser cobrada a respeito desses apagões, já que cabe a ela a fiscalização dos serviços. “A Aneel deve intervir nessa questão e fiscalizar, o que é o papel dela”, destacou Ferraciolli.

MARIANA MOURA/ANDRÉ SANTANA

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