terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Entrevista com a filha do líder egípcio
Nasser e agora
GAMAL NKRUMA

Gamal Nkruma, jornalista do semanário egípcio Al Ahram, escreveu a matéria abaixo, da qual publicamos os principais trechos, com base em entrevista foi concedida pela filha de Gamal Abdel Nasser, Hoda Abdel Nasser, professora de Ciências Políticas na Universidade do Cairo.

“Esta é a experiência histórica mais elevadora, vigorosa e estimulante desde os dias da nacionalização do Canal de Suez. O paralelo com o poder do povo, o levante espontâneo que trouxe meu pai ao poder, me emociona de forma especial. E acima de tudo quando o meu pai decidiu renunciar logo após a Guerra dos Seis Dias de 1967 para ser instado pelas massas a se manter no posto”, afirma Hoda Abdel Nasser, filha do grande líder egípcio, Gamal Abdel-Nasser.

“Estou particularmente orgulhosa da juventude deste país. As pessoas achavam que a juventude de hoje era apolítica mas ela provou a seus detratores que estavam errados. Meu entraria em êxtase. Ele ficaria muito orgulhoso do povo que se manifestou na Praça Tahrir, cantando palavras de orgem e exigindo reformas políticas profundas e mudanças sociais”, enfatizou.

“Nasser permanence no cerne da consciência revolucionária no Egito e no Mundo Árabe como um todo. Foi por isso que se pode ver retratos de Nasser levantados ao alto na Praça Tahrir. Não se via retratos dos chefes mais recentes do Egito. Somente as fortos de Basser eram visíveis. As pessoas jovens que não eram nascidos quando Nasser estava no governo levantaram bem alto suas fotos. Eu não estou destacando isso por que sou filha de Nasser, nem por que tem uma profunda fé em sua causa. Estou dizendo isso como uma constatação enquanto historiadora e cientista política.

A TV Al Arabiya, com sede em Dubai, mostrou um sorridente Abdel-Hakim Abdel-Nasser, o mais novo dos filhos de Nasser, sendo levantado pelos admiradores de seu pai. “A imagem de Abdel-Hakim e o enorme amor e afeto do povo foi muito emocionante”, afirmou sua irmã. “Lágrimas vieram nos meus olhos. Isto é história se desenrolando e eu fiquei orgulhosa de ver o amor genuíno e respeito que meu pai ainda desperta. Nós, os filhos de Nasser estamos sendo honrados hoje, em particular, por nossa própria atividade política, mas pelo duradouro amor que o povo deste país tem pelo meu pai”, esclareceu.

Em 9 de junho de 1967, Nasser fez um discurso transmitido pela TV em cadeia nacional onde assumiu inteira responsabilidade pelo revés militar na Guerra dos Seis Dias e imediatamente submeteu sua renúncia. “O povo do Egito rejeitou a renúncia de Nasser. O povo insistiu que ele liderasse o país em sua capacidade como presidente. Eles recusaram terminantemente qualquer outra alternativa. Centenas de milhares de simples egípcios correram às ruas em apoio a seu líder, seu presidente”.

“Que contraste com os impressionantes desenvolvimentos que testemunhamos hoje, com o povo exigindo a renúncia do presidente, dissolução do parlamento – a Assembleia Popular e Conselho Shura (equivalente ao Senado) – entre outras exigências”.

Hoda Abdel-Nasser expressou sua firme convicção de que o Egito vai ultrapassar esta tempestade histórica. “Meu pai tomou a corajosa decisão de nacionalizar o Canal de Suez e nós sofremos a subseqüente Agressão Tripartite contra o país. Foram dias impressionantes. O povo do Egito demonstrou, então como agora, uma grande coragem e bravura. A diferença, era que então o aggressor estava fora do país, era um agressor estrangeiro. Hoje, infelizmente, as forças reacionárias domésticas, adversárias do povo, o foco da sua ira”.

Hoda Abdel-Nasser, destaca a relação entre o povo e as Forças Armadas. “A relação entre as pessoas na Praça Tahrir e os membros das Forças Armadas tem sido amigável. Os soldados protegeram o povo dos arruaceiros e capangas”.

“Eu gostaria de presenciar uma situação em que as Forças Armadas e os manifestantes trabalhem unidos pela melhoria das condições do povo deste país. Os símbolos da autoridade neste país são obrigados a demonstrar respeito pelo povo e sua terra”.

“Os Oficiais Livres [movimento do qual seu pai participou] eram parte indispensável do povo e das massas”, destacou. “As Forças Armadas estiveram tradicionalmente ao lado das massas e espero que esta venerável tradição se manternha ainda hoje”.

“Acredito que é seguro dizer que o papel das Forças Armadas no Egito contemporâneo, na revolução em andamento, deve tomar outra base. O exercito, assim como o restante do povo deste país, estão passando por uma nova fase de democratização. Esta é uma das questões que pretendo abordar no meu próximo livro sobre o legado de Nasser”.

“Assim como os jovens que lideraram o movimento tiveram que atuar no início na surdina os Oficiais Livres eram um grupo secreto de jovens oficiais dissidentes. Tenho fé no poder da juventude do Egito de fazer história”.

“Mas”, alertou Hoda ao final da entrevista, “Há aqueles que querem sequestrar a atual Revolução da Juventude. Acredito que suas maquinações serão rechaçadas”.

hp

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