terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Egito: oposição rechaça a manobra
continuísta de Mubarak e Suleiman

Tentativa, através do vice trazido da polícia por Mubarak, de manter regime à tona é repelida por lideranças e manifestantes na Praça Tahrir
O Partido Nasse-rista Árabe Demo-crata foi um dos que rechaçaram a continuação das negociações sob os auspícios do ho-mem da CIA no Egito, Omar Sulei-man, que Mubarak guindou da polícia secreta para a vice-presidência em plena crise de seu regime com milhões ocupando a Praça Tahrir (Libertação) e exigindo sua saída e o fim do regime– ver matéria nesta página.
Seu líder, Abdul Halim Qandil, declarou que não seguirá parti-cipando de negociações sob os auspícios de Suleiman (ele montou uma reunião com convidados da oposição ao regime e se colocou no centro da mesa sob o retrato de Mubarak cuja saída foi exigida por mais de dois milhões na praça e em todas as cidades do país).
“A insistência do regime de que o presidente não deixará o governo é uma rejeição às exigências do protestos”, afirma Qandil, em nome do seu partido.
Depois das manifestações de mais de dois milhões e da expulsão dos capangas de Mubarak da Praça Tahrir, houve mais uma, na sexta-feira, denominada “Dia da Partida”, com cerca de um milhão. Mas entre uma e outra, há sempre manifestações menores de dezenas de milhares. Muitos estão na praça com tendas, fazendo fogueiras, cozinhando, enfim. A praça está ocupada e os manifestantes prometem prosseguir lá até a queda do velho e carcomido regime.
Na terça, foi realizada a “Marcha do Empurrão”, considerando que o regime balança e falta uma boa chacoalhada para levá-lo ao chão.
“A posição de Suleiman põe por terra a própria idéia do diálogo e desconsidera os manifestantes”, acrescenta Qandil.
Segundo ele “a revolução iniciada em janeiro expressou de forma genuína a vontade do povo e o desejo de toda a sociedade de que Mubarak saia, tirando deste regime todo traço de legitimidade. Mubarak deve deixar o cargo e o país ser governado por um coselho até a realização de novas eleições presidenciais”.
Ele concluiu que “a Nação não mais considera a atual Constituição como Carta Magna representativa e uma nova Constituição democrática precisa ser redigida”.
As declarações de Qandil expressam a visão cada vez mais generalizada da população de que Suleiman, o frágil pivô do conluio EUA/Mubarak, como saída que lhes interessa, não representa alternativa. Ainda mais depois das reuniões de sábado e domingo com os representantes da oposição que foram convidados, que houviram de Suleiman que o regime não acha que Mubarak deve renunciar, que a lei de emergência usada para aprisionar os líderes da oposição não deve ser imediatamente abolida “só quando a situação estiver segura”, pois, segundo ele, “os egípcios ainda não estão preparados para a democracia”, exatamente os argumentos usados para a manutenção das leis de emergência.
Em sua douta sabedoria imperial, o secretário de imprensa da Casa Branca, Robert Gibbs, discordou: “É claro que declarações como exata não vão encontrar concordância por parte do povo do Egito de acordo com o expresso nestes protestos”.
No mais, o conluio ficou mais evidente ainda quando a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que o melhor para os egípcios é “manter Mubarak até setembro” e que todos devem “evitar o vácuo” esclarecendo que sua preocupação é que “as mudanças venham muito rapidamente e que o movimento pró-democracia não seja seqüestrado”, ou seja, que não saia do controle norte-americano, depois de 30 anos.
Como observa o New York Times, tais declarações “alimentam a percepção de que os Estados Unidos, pelo menos por enquanto, colocam a estabilidade acima dos ideais democráticos”. Também pudera, democracia como a de Mubarak e Suleiman não é todo dia que se arranja...
O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Muhamed El Baradei, denunciou que as negociações estão sendo manipuladas pelos mesmos que governaram o país por 30 anos. E que as conversas não estão conseguindo “superar a desconfiança que existe entre os manifestantes e o governo”.
Tanto o movimento Irmandade Islâmica como o nacionalista Partido Wafd, organizações presentes às negociações esclareceram que sua presença foi para levar a posição do povo nas ruas e escutar as propostas do governo. Para eles também não faz sentido dar prosseguimento às conversas com Mubarak no poder.
Já os líderes das organizações da juventude, que estiveram entre os primeiros a ocuparem a Praça, afirmaram que nem participaram, nem aceitaram as negociações conduzidas por Suleiman como legítimas. “Todas as organizações da junventude estão unidas em sua posição: sem negociações antes da partida de Mubarak”, afirma Ahmed Maher, líder do Movimento 6 de Abril.
O ativista Shady al-Ghazaly Harb declarou que nem as demandas mínimas que levaram o povo às ruas foram atendidas.
Outro ativista, Ziad Al Eleimy, acrescentou “os responsáveis pela morte de centenas e pelo ferimento de milhares não podem seguir mais no poder”.
Das organizações jovens, da qual faz parte o setor jovem da Irmandade Muçulmana, partiu a proposta da formação de uma “Frente de Salvação Nacional”.                                               
HP

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