sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Egito: greves somam-se a atos por todo
país pela retirada do governo
A praça Tahrir foi tomada pela maior de todas as manifestações desde o início do levante. Aos atos somam-se greves de trabalhadores do aço, petróleo, ferrovias e servidores públicos

A manifestação do dia 7 foi a maior já registrada na Praça Tahrir – ponto de encontro principal do levante contra o regime de Hosni Mubarak – desde o início dos protestos, no dia 25 de Janeiro. Segundo o jornal egípcio Al Masry Al Youm os manifestantes não estão dispostos a aceitar menos do que a saída de Mubarak e também discordam das negociações com o vice, Omar Suleiman.

Ao tempo em que manifestações ocorriam também em diversas outras cidades do país – com aumento de participantes mesmo nas menores – greves foram decretadas nos mais diversos setores. Indústria do aço, do petróleo, trens, funcionários públicos pararam.

Não foram capazes de esvaziar a rebelião as manobras de Mubarak e daquele que guindou ao posto de vice-presidente (um posto que permaneceu desocupado por décadas), Omar Suleiman, vindo da polícia secreta, onde torturava, além de opositores do regime, detidos pelos EUA em outros países, sob supervisão da CIA.

Mubarak prometeu aumento de 15% aos servidores públicos; o ministro do Interior, abriu inscrições para o serviço público e Suleiman fez uma reunião com alguns partidos da oposição e disse que estava negociando. Os líderes partidários disseram que, ao contrário do declarado pelo vice, não houve nenhuma negociação. Suleiman repetiu as “concessões” já anunciadas e, quanto à principal exigência dos manifestantes de imediata saída de Mubarak, nem houve menção.

AMEAÇAS

Mais de um milhão mantiveram-se firmes, mesmo depois que Suleiman – após observar que as manobras dele e de Mubarak de nada adiantavam para esvaziar o movimento; depois que foram frustradas, tanto as pancadarias e tiros dos policiais, nos primeiros dias, como as encobertas, através de vândalos contratados e policiais à paisana – passou a ameaçar jogar o exército contra o povo.

Suleiman havia dito que “poderia haver um golpe”, caso os manifestantes seguissem saindo às ruas. “Não podemos agüentar isso por muito mais tempo. Deve haver um fim à crise o mais breve possível. Nós não queremos tratar com a sociedade egípcia com instrumentos policiais”, declarou o vice imposto por Mubarak, falando, na verdade, no golpe que eles pretendem dar.

O povo egípcio soube defender o terreno das manifestações, expulsou os arruaceiros e acampou na Praça Tahrir e as manifestações ao invés de arrefecerem, ganham novo ímpeto. Nova marcha gigante está programada para depois das orações do meio-dia desta sexta-feira.

Nos últimos dias, no Sul do país os protestos se agigantaram. Na pequena cidade de Al Kharga, a polícia ainda estava com o espírito dos seus colegas nos primeiros dias das manifestações do Cairo. Resolveram chingar os que exigiam o fim do regime, que responderam com pedras. Os policiais resolveram atirar nos que protestavam. Três morreram e 69 ficaram feridos. A massa de rebelados cresceu e logo a sede da polícia local foi alvo de coquetéis molotov e tomada pelas chamas. A prefeitura também foi incendiada. Na vizinha Assiut as manifestações reuniram 15 mil, segundo o ex-secretário do Sindicato dos Advogados, Samir Khachaba, que participou do ato. “Aqui a repressão é forte desde o tempo dos faraós, mas agora o povo está superando o medo”, disse o advogado. Após o ato, os manifestantes bloquearam a estrada principal que dá acesso à cidade exigindo a saída de Mubarak.

PORT SAID

No povoado de Baram-bel, na província sulista de Helwan, moradores tocaram fogo em uma estação de polícia depois que um morador foi assassinado por violar toque de recolher. A massa irada foi pra cima do policial que atirou e este buscou refúgio na polícia e morreu quando esta ardeu em chamas, atingida por coquetéis molotov.

O ato de Port Said foi mais uma demonstração de que os integrantes do regime devem mesmo sair rapidamente. Os residentes em um bairro pobre dirigiram-se à prefeitura para exigir melhorias em suas residências. Como o prefeito declarou não ter verba para tal, tocaram fogo na prefeitura.

No Cairo também houve novas ações populares. Alguns milhares saíram da Praça Tahrir e foram até o parlamento e o cercaram, dizendo que não haverá mais sessões até que o presidente deixe o poder.

“Não é legal o que vocês estão fazendo aqui”, declarou o general Hassan Ruwaini da polícia militar aos manifestantes. “Se querem protestar, vão para a praça Tahrir”, sugeriu.

“Nós não saímos, ele [Mubarak] vai sair”, responderam os manifestantes e o general achou melhor retirar-se.                                                       
HP

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