sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Bernanke admite mais 10 anos de desemprego elevado nos EUA

Presidente do Fed confessa que empregos criados em 2010 mal deram para acomodar as levas de recém-chegados ao mercado de trabalho e sequer arranharam o desemprego acumulado

Às atuais taxas de crescimento da economia, o desemprego nos EUA vai levar 10 anos para voltar a “níveis mais normais”, afirmou o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, na Câmara de Representantes em Washington, em seu primeiro depoimento sob a nova maioria republicana. Que, aliás, só o chamou para ouvir música sobre déficit, cortes na saúde e aposentadorias, arrocho de salários, demissões e menos impostos para magnatas.

A constatação de Bernanke sobre uma década perdida para os empregos – pois é disso que se trata ao admitir que vai levar 10 anos para retorno aos “níveis sustentáveis” de 5-6% de desemprego – não o impediu de ver, também, “declínios notáveis na taxa de desemprego em dezembro e janeiro”.

Referência àquela fantástica obra de engenharia estatística que transformou a redução da base de cálculo do desemprego em 347.000 – conforme o “Washington Post” -, mais as nevascas e alta em 300.000 dos que desistiram de procurar emprego, em “menos 600.000 desempregados”. De 9,4% em dezembro, para 9% em janeiro - tudo isso com um mísero saldo de 36.000 contratações.

LENTIDÃO

Quanto às “atuais taxas de crescimento”, no último trimestre de 2010 o PIB subiu 0,78%. Mas Bernanke também se lembrou das “melhoras nos indicadores de abertura de vagas e planos de contratação”, para em seguida confessar que os empregos gerados em 2010 sequer arranharam a montanha de desemprego acumulada. Os “um milhão de empregos” de 2010 “mal chegaram para acomodar a entrada de recém-formados e outros recém-chegados à força de trabalho” e não eram suficientes para “corroer significativamente” a larga taxa de desemprego.

Com 25 milhões de sem-emprego – de acordo com a tabela U-6 do Bureau de Estatísticas do Departamento de Trabalho – no pé de Obama e, de alguma forma, no seu, Bernanke sentiu necessidade de repetir o bordão de que, enquanto não houver forte e sustentada geração de empregos, “não podemos considerar a recuperação verdadeiramente alcançada”.

Mas Bernanke não foi à Comissão de Orçamento da Câmara para falar principalmente em desemprego, mas para dar seu palpite nas negociações sobre o déficit e sobre o teto federal de endividamento, que será atingido ao mais tardar até o meio de maio. O que ameaça paralisar o governo, o que já foi visto nos tempos de Clinton. Também tranquilizou quanto à inflação provocada pela superemissão de dólares.

GASOLINA

Em suma, ninguém precisa se preocupar, a não ser que seja desempregado – ou ameaçado de perder o emprego -, aposentado, precisando de atendimento médico, ou tenha de encher o tanque. A gasolina aumentou 4,7% em um mês, mas a inflação nem se moveu.

Como Bernanke disse, apesar de “significativos aumentos em alguns preços altamente visíveis, notadamente a gasolina”, e de alta nos alimentos e outras commodities, “a inflação total continua bastante baixa”. Aliás, a superemissão de dólares – só agora, US$ 600 bilhões - não tem nada a ver com a alta das commodities. A culpa é da China e dos outros países emergentes que estão crescendo demais.

Quanto ao déficit, atreveu-se Bernanke a dizer, suas causas não são nem “temporárias”, nem “conjunturais”. Isto é, não foi o  dinheiroduto para os bancos falidos que estourou as contas e levou o déficit às alturas. A culpa pelo salto no déficit seria decorrente do “envelhecimento da população” e dos gastos com saúde e aposentadoria. Teses muito apreciadas pelos republicanos e por Wall Street, os quais – porém - querem ação, e já. A estes, no entanto, o presidente do Fed sugeriu menos sofreguidão em relação ao déficit, uma coisa para dez anos, senão a casa cai. Ainda sobre o desemprego, nos esclarecimentos, assinalou ser este principalmente de “natureza cíclica” - mas caso a taxa de desemprego se mantenha elevada “por tempo suficiente”, então se tornaria “mais de natureza estrutural”.
                                                                                                                
                                                                                                                     ANTONIO PIMENTA

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