quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Importações elevam déficit
da indústria a US$ 71 bilhões

Resultado é 95% maior do que o ano de 2009

Estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta que o saldo da balança comercial do setor de manufaturas teve déficit recorde de US$ 70,9 bilhões em 2010, valor 95% superior na comparação com o ano anterior, quando o saldo ficou negativo em US$ 36,5 bilhões. Segundo a entidade, é a resultante do crescimento de 45% das importações deste segmento, enquanto as exportações tiveram expansão de apenas 18%.

O crescimento acelerado das importações tem duas causas básicas: em primeiro lugar, o alto grau de desnacionalização da economia brasileira, na qual as multinacionais têm se mostrado grandes importadoras de componentes. Em segundo, o câmbio sobrevalorizado, que torna barato os produtos importados e ajuda a reduzir a competitividade da indústria local. O real “apreciado” é resultado dos juros estratosféricos estabelecidos pelo BC, que atraem a enxurrada de dólares emitidos pelos Estados Unidos após deflagrar a guerra cambial, o que provoca uma desvalorização de sua moeda e abre caminho para as exportações de seus produtos. É a forma que eles estão se propondo para sair da crise. Assim é que até 2008, quando estourou a crise, o Brasil tinha superávit no comércio com os EUA. Naquele ano, o saldo ficou positivo em US$ 1,795 bilhão. No ano seguinte houve uma inversão e o Brasil passou a registrar déficit na balança comercial com os norte-americanos: - US$ 4,430 bilhões em 2009 e - US$ 7,732 bilhões em 2010. No ano passado, os EUA foram o país de onde o Brasil mais importou, totalizando US$ 27 bilhões.

GRAVE

O agravamento do déficit comercial da indústria de transformação é prejudicial em várias formas: demissões, menos arrecadação e redução do superávit da balança comercial brasileira.

“Uma consequência que não é tão evidente, mas é mais grave no longo prazo são as oportunidades perdidas. Hoje temos um mercado doméstico em forte expansão, mas que está promovendo o crescimento da produção em outros países. Se for pontual, não é uma tragédia. O problema é se o fenômeno se tornar estrutural”, afirmou o diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Mariano Laplane.

No ano passado, o saldo da balança comercial brasileira foi de US$ 20,267 bilhões. Para a Fiesp, este resultado foi garantido pela alta dos preços internacionais de produtos como minério, petróleo bruto e açúcar. Em 2009, o saldo havia sido de US$ 25,272 bilhões.

Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de 20 setores industriais avaliados pelo governo, dez apresentaram déficit no comércio com o exterior em 2010. Os piores rombos foram registrados nos setores de máquinas, material elétrico e de comunicações e químico: os déficits desses ramos atingiram US$ 17,4 bilhões, US$ 17,1 bilhões e US$ 11,9 bilhões, respectivamente.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, disse que o setor está debatendo a política industrial que está sendo gestada no governo Dilma. “A política industrial traz efeitos. Mas se nada for feito para desvalorizar o câmbio, não vai adiantar”, ressalvou.
A gerente de economia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Cristina Zanella, destacou o aumento das importações de máquinas da China, que saltaram de 2% em 2004 para 13% no ano passado.

No setor têxtil, o déficit aumentou de US$ 1 bilhão para US$ 1,9 bilhão. Cálculo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), que exclui a exportação de algodão, o déficit chegou a US$ 3,5 bilhões. “Não dá para ficar mais discutindo um problema que é muito conhecido. O novo governo tem de implementar medidas já”, sublinhou o diretor-executivo da Abit, Fernando Pimentel.

Em material de transporte, o déficit triplicou: saiu de US$ 1,2 bilhão em 2009 para US$ 3,6 bilhões no ano seguinte. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) registra que os carros importados já representam 18,8% dos veículos licenciados no país, sendo que as importações não se restringem mais a carros de luxo.
HP

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