quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Empresários defendem ampliação de medidas para conter invasão de calçados e demissões

No discurso de abertura da 38ª edição da Couromoda, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, manifestou a inquietação do setor com o aumento das importações e defendeu a ampliação de medidas para conter a invasão de calçados. No ano passado, foi registrada a elevação em 23% do volume das importações.

De acordo com Cardoso, este percentual indica que, além do aumento de compras em países não tradicionais fornecedores, o importador também está recebendo do exterior cabedais (parte superior do calçado) e solados separados, que são colados quando chegam ao Brasil. Para ele, esta é uma forma de burlar a tarifa antidumping de US$ 13,83, imposta pelo governo brasileiro sobre os calçados procedentes da China. “A ampliação das medidas é uma maneira de conter este crescimento e evitar riscos ainda maiores à indústria, que somente em novembro fechou 5 mil postos de trabalho. Em dezembro, o número pode ter sido ainda maior. Acreditamos que fique entre 12 e 15 mil empregos que possam ter sido perdidos”, destacou o presidente da entidade.

Segundo ele, 375 mil empregos foram recuperados no Brasil em 2010 graças às medidas antidumping e as exportações de calçados que apresentaram crescimento de 12,9% no volume físico e 9,3% no faturamento. 143 milhões de pares foram enviados ao exterior, que geraram divisas da ordem de US$ 1,48 bilhão em 2010.

Ele apontou dados, obtidos do MDIC/SECEX, que evidenciam triangulações de importações. Enquanto o volume de importação da China caiu 22%, o do Vietnam cresceu 81%, da Malásia 1.356%, Indonésia 93%, Taiwan 428% e República Dominicana 726.100%. O Paraguai, país não é tradicional exportador de calçados e nem de partes, incrementou suas vendas para o Brasil em 43%. “Mais uma vez estamos enfrentando o ataque inescrupuloso de importações com práticas desleais de comércio, seja pela triangulação das importações por terceiros países, seja pela importação de calçados desmontados, que aqui recebem, quando muito, apenas uma operação de colagem”, afirmou Cardoso.

CÂMBIO

O Brasil é o quinto maior exportador de calçados. Milton Cardoso explicou que em função do câmbio adverso, o Brasil enfrenta severas dificuldades de formar preços competitivos no mercado internacional: “A indústria de calçados considera fundamental a adoção, também, de medidas para conter a valorização do real”. Ele defendeu ainda a necessidade de reforma tributária.

Apenas nos dois últimos anos, houve uma perda de quase um US$ 1 bilhão nos embarques ao exterior, mas a expectativa de Cardoso é que as exportações se fortaleçam de 1% a 2% em 2011 caso de melhora da política cambial. Ele lembrou que o programa Brazilian Footwear, que conta com o apoio da Apex-Brasil, propiciou o aumento de países para os quais o Brasil exporta calçados: há cinco anos, o Brasil exportava para 80 países, passando agora para 165.

A indústria de calçados está presente em 12 Estados e 96 municípios. São cerca de 8 mil indústrias em atividades no Brasil, que empregam 800 mil pessoas, equivalentes a 10% do contingente da indústria de transformação.

“Nossa indústria de calçados tem capacidade instalada para produzir 1 bilhão de pares por ano, abastecendo com eficiência o imenso mercado interno e apresentando-se como a melhor alternativa fora da Ásia para fornecimento de calçados no mercado mundial", disse Francisco Santos, presidente da Couromoda (Feira Internacional de Calçados, e Calçados, Artigos Esportivos e Artefatos de Couro), no Anhembi, em São Paulo.

A abertura do evento, contou com as participações dos governadores do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e de São Paulo, Geraldo Alckmin, estados tradicionais na produção de calçados, e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que representou a presidenta Dilma Rousseff.
O ministro ressaltou que o governo será um parceiro do setor. “Vamos defender sem nenhum temor a indústria nacional. É dever e compromisso. Sabemos que não podemos competir quando as condições são desleais. Estamos atentos à triangulação”, frisou.
HP

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