Delfim: diferencial de juros interno
e externo está destruindo indústria

“Enquanto a diferença entre a taxa de juros real interna e a externa continuar superior ao ‘risco Brasil’, a taxa de câmbio nunca será o velho preço relativo que assegurava o valor do fluxo dos importados com o dos exportados”, afirmou o economista Antonio Delfim Netto.

Para o ex-ministro, sem redução dos juros, a taxa de câmbio supervalorizada “continuará a ser o que é hoje: um ativo financeiro nos milhões de portfólios dos agentes que frequentam o imenso mercado internacional de moeda, cerca de 20 vezes maior que o valor dos de bens e serviços comercializados”.

“Em 2030, teremos de dar emprego de boa qualidade a 150 milhões de pessoas, o que não será possível sem o crescimento da indústria e dos serviços dela decorrentes que o câmbio valorizado está destruindo”, ressaltou.

Considerando que não se trata de uma fatalidade, Delfim argumentou que o Brasil poderá vir a sofrer um processo de desindustrialização “se continuarmos a repetir os erros do passado, usando a supervalorização do câmbio como instrumento oportunístico para combater a inflação, na esperança de que o sistema de câmbio flutuante garantirá, sem sobressaltos, o financiamento eterno dos déficits em conta corrente”.

Na avaliação de Delfim, aperto fiscal não resolve o problema da supervalorização do real. “Primeiro, porque a relação entre a política fiscal e o déficit em conta corrente tem múltiplos canais” e segundo porque “um aumento do superávit fiscal igual a 1º do PIB parece não gerar redução maior do que 0,2% ou 0,3% do PIB”.

O economista disse que “é tempo de perder as ilusões e de pendurar-se em modelos abstratos. Precisamos de um programa econômico sólido, que coordene as políticas fiscal e monetária e dê musculatura e coragem ao Banco Central para - com os cuidados necessários - dar um sinal claro e crível ao mercado de que caminharemos mesmo para a redução da taxa de juro real e resolver o problema do câmbio”.