quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Fed deu US$ 5,3 trilhões só para
o Citi, Merrill e Morgan Stanley

Emenda do senador Bernie Sanders obrigou o Federal Reserve a abrir detalhes da dinheirama doada aos maiores bancos norte-americanos

O Federal Reserve bombeou US$ 1,8 trilhão para o Citibank, US$ 2 trilhões para o Morgan Stanley, US$ 1,5 trilhão para o Merrill Lynch [a seguir incorporado pelo Bank of America] e US$ 600 bilhões para o Goldman Sachs durante a crise financeira, assinalou o senador independente Bernie Sanders, autor da emenda que obrigou o Fed a desvendar quem foram os beneficiários e montantes recebidos, o que só ocorreu no dia 1 de dezembro.

O Bear Stearns, presenteado ao JP Morgan Chase, recebeu US$ 1 trilhão. Até 21 de junho de 2011, o Escritório de Contabilidade do Congresso (GAO, na sigla em inglês) terá de apresentar a auditoria desses números.

“Os US$ 700 bilhões de bailout para Wall Street, assinados pelo presidente W. Bush, são troco comparados aos trilhões e trilhões em empréstimos a quase zero de juro e outros arranjos financeiros que o Federal Reserve doou a cada uma das maiores instituições financeiras do país”, denunciou Sanders.
 

TRANSAÇÕES

Os US$ 7 trilhões - entregues aos bancos acima - estão reportados em apenas um desses pacotes salva-banqueiro, o “Primary Dealer Credit Facilit”, para empréstimos de emergência de overnight às principais corretoras associadas ao Fed. O Fed já divulgou 21 mil transações, mas continuam em sigilo operações como as da “janela de redesconto” - outro mecanismo de socorro overnight aos bancos no vermelho -, estimadas pela Bloomberg em mais de US$ 100 bilhões.

Considerando todos os mecanismos estabelecidos pelo Fed, segundo Pam Martens, operadora de Wall Street por 21 anos, o total chega a US$ 9 trilhões, com US$ 2,1 trilhões em ações-lixo e derivativos e hipotecas podres depositados pelos bancos como “colateral” em troca de dinheiro; e US$ 738 bilhões para “papéis comerciais” [títulos para capital de giro, mas também manipulados na especulação]. “Esta divulgação surge num momento politicamente inoportuno para o Fed”, afirmou Sarah Binder, do Brookings Institution, em referência ao plano para desovar mais US$ 600 bilhões, o chamado afrouxamento monetário II.

Além dos já assinalados mecanismos de especulação por meio de derivativos e outros papéis podres, Wall Street também estava, de novo, metida com empresas de fachada, ao estilo Enron, montadas para despejar prejuízos e falsificar lucros. No caso da manipulação com “papeis comerciais”, o “New York Times” registrou que uma fachada do Lehman Brothers, com essa finalidade, com ex-empregados e sob controle acionário, o Hudson Castle, consta da relação emitida pelo Fed como recebedor de US$ 50 bilhões.

ALAVANCAGEM

O presidente da Comissão de Inquérito da Crise Financeira, deputado Phil Angelides, ao abrir a audiência com banqueiros do Citibank, apontou que o banco foi “de cerca de US$ 670 milhões de ativos em 1998 para US$ 2,2 trilhões no balanço, e outros US$ 1,2 trilhão por fora, em 2007”. Segundo ele, a alavacavem chegou a 61 a 1 no que se refere ao balanço, e 97 a 1, fora do balanço. Como apontou Martens, “não é preciso mais que capacidade de leitura e zero de experiência de Wall Street para ler o parágrafo acima e saber que essa empresa vai explodir”. Ainda assim, com sua argúcia de ex-secretário do Tesouro, ex-presidente do Goldman Sachs, e timoneiro do Citibank nos últimos anos, Robert Rubin, jurou à comissão não ter tido a menor ideia sobre o estrago decorrente dos derivativos podres.

O senador Sanders denunciou que o Fed doou essa quantidade astronômica de dinheiro – dos contribuintes – sem fazer qualquer exigência aos bancos e corporações, em troca. Agora, os grandes bancos detem cerca de US$ 1 trilhão em reservas em excesso no Fed, “mas o Fed não requer que aumentem os empréstimos às pequenas e médias empresas como condição do socorro”. É preciso investigar se os grandes bancos “ao invés de reinvestir na economia emprestam de volta ao governo federal a uma taxa de juro maior comprando títulos do Tesouro”. Os quatro maiores bancos dos EUA – Bank of America, JP Morgan Chase, Wells Fargo e Citibank – receberam centenas de bilhões do Fed, reiterou. “Quantos americanos poderiam ter permanecido em suas casas, se o Fed exigisse dos bancos salvos a redução dos pagamentos de hipoteca como condição para receber esses empréstimos secretos?”.
ANTONIO PIMENTA

Nenhum comentário: