terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desemprego cresce e já atinge
27 milhões de norte-americanos

Na estimativa mais ampla dos sem-ocupação feita pelo Departamento do Trabalho, 17% da força de trabalho está desempregada ou no subemprego, ou seja, um em cada seis norte-americanos adultos

Ao se aproximarem as festas – e as vendas – de Natal, a economia dos EUA volta a mostrar sua profunda prostração, apesar do tsunami de dólares do Fed para os bancos e corporações e sua guerra cambial. Em novembro, segundo os novos números do Departamento do Trabalho, o comércio demitiu 28 mil, quando seria de se esperar exatamente o contrário nessa época do ano. Também fizeram dispensas as lojas de departamentos e as de móveis, respectivamente menos 9.000 e menos 5.000. O setor manufatureiro cortou 13 mil vagas em novembro, pelo quarto mês seguido. A construção civil cortou 5 mil postos no mesmo mês.

Assim, o Himalaia de desempregados que foi despejado desde setembro de 2008 nas ruas dos EUA – 27 milhões, na estimativa mais ampla dos sem-ocupação, 17% da força de trabalho ativa, um em cada seis norte-americanos adultos -, não dá sinal de recuo. De acordo com o Departamento do Trabalho, no entanto, o resultado teria sido “levemente positivo” em novembro, com um saldo de “+ 39.000”. Mais 39.000 menos 27 milhões: a situação está assim. Incluindo os familiares, a parte da América dilacerada pelo desemprego chega a impressionantes 100 milhões de pessoas.

Já os grandes bancos e corporações retomaram o patamar de lucros pré-crise: US$ 1,6 trilhão no terceiro trimestre de 2010. Mas o plano de se safarem empurrando suas quinquilharias mundo afora, enfrenta grandes entraves. Mesmo com o dumping de trilhões de dólares da guerra cambial, cinicamente apelidado de ‘afrouxamento monetário’, o resultado das exportações é magro, muito magro. As exportações – cujo alvo é dobrar até 2014 – encolheram quase pela metade, para 1,25%, do segundo para o terceiro trimestre. Nas importações, de 8,3% (2º trimestre), para também quase a metade (3º trimestre).

No momento, seguem gotejando as demissões. O tal “saldo positivo” de 39.000 equivale ao aumento dos empregos temporários no mês: 40.000. Após o auge da onda de demissões em massa que elevou em 15 milhões o total de desempregados em poucos meses, o Departamento de Trabalho registrou certa ‘recuperação nos empregos’ em 2010. Modestos 14.000 e 39.000 em janeiro e fevereiro; a partir de março, em boa medida via contratações temporárias do censo, subiriam para 208.000, a seguir 313 mil (abril) e 432.000 (maio).

Em junho: reaparecem as demissões: menos 175.000; depois, menos 66.000 em julho; menos 1.000 em julho; e menos 41.000 em agosto. Na véspera das eleições de meio de mandato, em outubro, voltam as contratações – cabos eleitorais? – 151.000. Novembro, como já registrado, 39.000. Provavelmente por meio de artifícios meramente estatísticos, os resultados de agosto e outubro foram revisados para cima, para respectivamente menos 22.000 e 172.000.

A outra face: o esmagamento do mercado interno, a concentração de renda nas mãos dos magnatas – que retornou ao nível pré-crash de 1929 -, a monopolização e a especulação sem rédeas impedem a reativação da economia, que rastejou no terceiro trimestre de 2010 à diminuta taxa de 0,5% ao mês. De acordo com o “Washington Post”, os americanos reduziram seu gasto em setembro “ao mais débil passo em três meses”, e sua renda caiu “pela maior quantia em 14 meses”. Boa parte dos “verdes brotos” se limitaram à acumulação de estoques – US$ 115 bilhões no terceiro trimestre, US$ 68 bilhões no segundo, e US$ 44 bilhões no terceiro. Os “gastos pessoais” – na economia “sustentada 70% pelo consumo” – se arrastaram de 0,55% de abril-junho, a 0,65% de julho-setembro. Ao mesmo tempo, estão se esgotando os estímulos criados pelo governo Obama.

DURÁVEIS EM QUEDA

Outro método para aferir as demissões na indústria. Bens duráveis: queda de 1,7% no segundo trimestre para 1,52%, no terceiro. Não-duráveis: redução de 0,47% (abril-maio), para 0,33% no trimestre passado. Investimentos não-residenciais fixos: de 4,3% (2º trimestre) para 2,43% (no 3º). Equipamento e software: de 6,1% para 3%. Em moradias, redução de 7,25% no terceiro trimestre, contra aumento de 6,42% de abril a junho. Os investimentos em capital fixo por empresas, desabaram de 4,73% para 0,2%. Para atender a fúria dos ceifadores de déficit, nos três níveis de governo, federal, estadual e municipalidades, são podados gastos públicos, programas sociais e empregos.

Mas a devastação provocada pelos bancos e sistema financeiro paralelo nos EUA é tal que, após dois anos de guerra cambial e trilhões de dólares inundando o planeta, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, afirmou ao programa da rede CBS “Sixty Minutes” que “não estamos muito longe do nível onde a economia não consegue mais se autossustentar”. Dito o que, ameaçou o mundo com um “terceiro afrouxamento quantitativo” - isto é, ir além dos já anunciados “US$ 600 bilhões”. Ele também viu o espectro de uma deflação rondando os EUA.
A.P.

Nenhum comentário: