quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A batalha da Grécia e a guerra da Europa

ALEXIS TSIPRAS*

O convite que recebi para escrever essa coluna chegou em um momento dramático para a Grécia. Meu país está sendo governado abertamente pelo FMI, pelo BCE (Banco Central Europeu) e por alguns tecnocratas de Bruxelas. O governo grego, que cedeu o poder a esses criminosos, é cúmplice dessa situação.
O governo deseja promulgar em caráter de extrema urgência uma lei que retroage ao século passado as relações entre patronato e trabalhadores. Serão anulados os contratos coletivos, os salários serão congelados no nível mínimo indispensável à sobrevivência, e serão facilitadas as demissões. Tudo isso em um contexto de crise financeira que provoca um incremento sem limites do desemprego, ao mesmo tempo em que crescem os impostos, aumentam os preços em geral e se desmantelam os serviços sociais.
Há poucos anos, um ataque de tal magnitude contra os direitos trabalhistas e contra o Estado social não era concebível, a não ser nos sonhos secretos dos membros mais cínicos dos think tanks neoliberais. Hoje, usando a crise como pretexto e a dívida, que engole os países um atrás do outro, o pior pesadelo neoliberal tornou-se realidade. Esse pesadelo não afeta apenas aos trabalhadores gregos, posto que se esse plano é aplicado, se estenderá por toda a Europa sob a altissonante denominação de “estratégia européia comum para o desenvolvimento e a competitividade”.
No momento em que nos encontramos só temos uma saída: dar um basta na tutela da Europa sobre nossa nação. É verdade que o adversário possui uma arma poderosa: a propagação do medo, da insegurança e do desespero. Mas, o povo também dispõe de arma eficaz: a unidade, a fraternidade e as lutas que leva a cabo nos bairros, nos locais de trabalho, nas universidades, nas escolas, nas instâncias políticas... e na batalha da comunicação.
A luta em defesa das conquistas sociais começou. Durante o mês de dezembro, estaremos em greve e faremos manifestações unitárias em todo o país. Para ganhar devemos ter confiança em nós mesmos e em nossa força.
*Alexis Tsipras é presidente de Synaspismos – Associação de organizações progressistas e ecologistas da Grécia. Esse artigo foi originalmente publicado em Paris no jornal L’Humanité no início de dezembro.

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