terça-feira, 30 de novembro de 2010

WikiLeaks expõe espionagem dos EUA contra ONU e líderes de países
O vazamento pelo site Wikileaks de mais de 250 mil cabogramas do Departamento de Estado atingiu em cheio Madame Clinton e expôs a arrogância do império em relação aos povos e seus governantes 

A espionagem que as embaixadas dos EUA praticam no mundo inteiro – e que não poupou sequer o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon -, foi vazada pelo site Wikileaks, que levou a público mais de 250 mil cabogramas do Departamento de Estado, boa parte deles, secretos. Anteriormente, o site já havia exibido centenas de milhares de documentos do Pentágono das guerras do Iraque e do Afeganistão. A nova fornada atinge em cheio a secretária de Estado Hillary Clinton, a CIA, a política externa dos EUA, e a arrogância do império em relação aos demais povos e seus governantes. No caso da ONU, tentaram obter até o DNA de Ban Ki Moon. Desde que os cabogramas secretos foram divulgados pelo “New York Times” (EUA), “Guardian (Inglaterra), “Le Monde” (França), “Der Spiegel” (Alemanha) e “El País” (Espanha), o Departamento de Estado não tem feito outra coisa senão desculpar-se, no mundo todo, para abafar o escândalo.
BATMAN E ROBIN
É que, além das mais desaparafusadas conjeturas sobre os países, os documentos vazados registram o extremado desrespeito dos EUA aos mais diferentes governantes, aliados ou adversários. Assim, Sarkozy é “autoritário”; Ângela Merkel é “pouco criativa e não assume riscos”; Putin e Medvedev são “Batman e Robin”; Kadafi “é estranho”, “usa botox” e não dispensa “a voluptuosa e loura enfermeira ucraniana”; Berlusconi, além das festinhas afamadas, “é o porta-voz falastrão de Putin”, com quem tem negócios. O líder norte-coreano Kim Jong Il é apresentado como “velho e frouxo”. Já o presidente Chávez “é louco” para o Departamento de Estado, que também encomendou estudo sobre a “sanidade mental” de Cristina Kirchner, a presidente argentina. Para quem teve estadistas do porte de um W. Bush, um vice como Cheney, a quase vice Sarah Palin – e o inesquecível Gerald Ford -, é muita pretensão ver defeito nos estadistas alheios.

Na conversa de lavadeira via Spirnet, a internet secreta do Departamento de Estado, – com o perdão das lavadeiras – nem todos se saem mal. Netanyahu, por exemplo, é tido como “elegante e charmoso”, embora “não cumpra” promessas. Já os aliados do partido FDP, o mais pró-EUA dos partidos alemães, não têm onde esconder a cara: um cabograma registra, em pormenores, as informações entregues da negociação com Ângela Merkel para composição de governo.

Também respingou para o presidente-lacaio do Afeganistão ocupado, Hamid Karzai, apresentado como um homem “extremamente fraco” e “facilmente influenciado por qualquer um que conte a mais bizarra história”. Já o chanceler-fantoche do Iraque, Hoshiar Zebari, lamu-riou-se que o vazamento “não ajuda em nada”. “Estamos em uma fase crítica” de formação de governo, acrescentou. “Espero isso não envenene a atmosfera geral”. Cabograma proveniente da embaixada de Honduras confirmou que os EUA souberam de antemão do golpe que derrubou Manuel Zelaya.

Para o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, o caso é “o 11 de Setembro da diplomacia mundial” – isto é, da diplomacia dos EUA no mundo. Na OEA, o secretário-geral, José Miguel Insulza, considerou o vazamento “um problema grave” em vista da segurança das “comunicações confidenciais entre chancelarias e organizações”.

Flagrada nos ilícitos, Madame Clinton, tentou se colocar como a vítima, e jurou que adora os aliados. Além da parte mais explícita de espionagem, as “análises” cometidas pelos “diplomatas” dos EUA chegam às raias do ridículo. Berlusconi, segundo a imprensa italiana, reagiu com risadas ao retrato sugerido em um deles. As considerações secretas “parecem sair de uma revista de fofocas”, assinalou Ignazio La Russa, seu ministro da Defesa. Para o chanceler russo Serguei Lavrov, os documentos vazados são uma “leitura divertida”, acrescentando com ironia que seu país “prefere se apoiar em fatos concretos” dos aliados.

MADAME MIN

Mesmo com o Departamento de Estado, Madame Hillary e a CIA todos chamuscados, ainda assim a grande mídia tentou puxar brasas para as sardinhas do império. Assim, o “Guardian” destacou suposta tendência da China “de abandonar a Coreia do Norte” e aceitar “reunificação sob controle de Seul”, tropas dos EUA e “forte ligação com o Japão”. Na verdade, um surto de vontade de um colaboracionista sul-coreano, o ex-vice-chanceler Chun Yung-woo. No “New York Time”, movimento análogo. Também fabricaram suposta “venda de sofisticados mísseis” da Coreia socialista ao Irã, que logo um jornal brasileiro, ao estilo quem conta um conto aumenta um ponto, viu ameaçando “a Europa Ocidental e Moscou”. Ainda segundo a desinteressada edição dos cabogramas, os países árabes querem o que Israel quer - que o Irã seja bombardeado logo. Já o aiatolah Khamenei, este estaria com os dias contados.
                                                                                                            
                                                                                                
ANTONIO PIMENTA

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