segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rende mais pôr dinheiro na mão dos pequenos, diz Lula

Rende mais pôr dinheiro na mão dos pequenos, diz Lula
Para não ficar “atrofiado como EUA e Europa” o povo tem que ter “prata e consumir”, defende o presidente

O presidente Lula afirmou na quarta-feira (17), durante o 2º Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira, em Brasília, que se o país investisse as suas reservas internacionais nas cooperativas teria um rendimento muito melhor do que recebe do Tesouro Americano. Ele destacou o forte crescimento do mercado de crédito no Brasil, especialmente para a população mais pobre. Segundo Lula, os bilhões já emprestados dão um volume maior do que as reservas internacionais brasileiras, que estão acima de US$ 280 bilhões. E, dirigindo-se ao presidente do BC, ele disse: “Aliás, Meirelles, as reservas estão rendendo pouco, com essa política americana. Vamos emprestar para cooperativa que rende mais”.

Em seu discurso, o presidente enfatizou a importância de se emprestar recursos para os mais pobres, salientando que isso ajuda muito o Brasil a se desenvolver. Segundo Lula “poucos recursos nas mãos de muitas pessoas geram distribuição de renda e mais desenvolvimento, enquanto muito dinheiro na mão de poucas pessoas gera concentração de renda”. “Então, Meirelles, a palavra-chave é essa: quer que o país cresça, se desenvolva, consuma e não fique atrofiado como EUA e Europa, dê prata na mão dos pequenos”, disse o presidente, dirigindo-se ao presidente do Banco Central.

De novo dirigindo-se ao responsável pelo Banco Central, o presidente indagou: “você sabe quanto era o crédito, no Brasil inteiro, quando nós chegamos, Meirelles? Em 2003? Pode pegar março de 2003”. E respondeu logo em seguida: “O crédito disponibilizado no Brasil inteiro era de apenas R$ 380 bilhões”. “Hoje, só o Banco do Brasil deve ter 380 bilhões. E o Brasil tem mais de R$ 1 trilhão e 600 bilhões hoje, de crédito disponibilizados”, informou Lula.

Ele disse que o crédito no Brasil era reduzido e destinado a um número muito restrito de pessoas antes de seu governo. “Houve um tempo em que a moda era não emprestar, e se tivesse que emprestar, era melhor emprestar muito para um só, porque sentava lá o cidadão na frente do gerente, conversavam, trocavam charutos e pegavam... do que atender um monte de capiau de sandálias havaianas, que ia lá pegar R$ 500,00, R$ 50,00, R$ 200,00, R$ 20,00, R$ 30,00”, assinalou.

Ao destacar a importância da ampliação do crédito, Lula citou bancos - como o Banco Palmas, de Fortaleza - com empréstimos de R$ 20,00 e disse que “a primeira coisa que o cidadão iria pensar era o seguinte: bem, R$ 20,00 é tão pouco que eu dou mais de gorjeta depois que eu tomo o meu uísque, é muito pouco”. “Ele não percebe que para alguns R$ 20,00 não é nada. Mas, para uma pessoa que levanta de manhã, olha para o fogão, não tem feijão, não tem leite, não tem manteiga, não tem farinha, não tem nada para comer, R$ 20,00 dá para a pessoa entrar em uma bodega e fazer a festa pelo menos pelos próximos dez dias”, salientou Lula.

“Agora”, prosseguiu Lula, “chegue no Banco Central, aqui em Brasília, chegue na Avenida Paulista, com o Roberto Setúbal, chegue com o Trabuco, no Bradesco, ou com qualquer outra pessoa, na Avenida Copacabana, na Boa Viagem, e vá a uma reunião de executivos e fale que tem um banco neste país que tinha como crédito máximo R$ 20,00”. “É essa dimensão de importância que as pessoas perdem”, enfatizou. “É essa dimensão de valor das coisas pequenas que nós vamos perdendo na hora em que a gente vai se achando importante, sobretudo quando a gente chega a cargo de prefeito, a cargo de governador, a cargo de presidente, de ministros, de instituições financeiras, porque nós lidamos com muitos bilhões, os tostões passam de lado”, prosseguiu.

“Na alta roda, uma pessoa pode dever 2, 3 bilhões, quanto mais deve, mais chique é, não é? É verdade. Ou seja, eu ouvi do companheiro Gilson (Gilson Bittencourt, integrante do ministério da Fazenda) uma frase que dizia o seguinte: “Tem determinados setores que tem duas alegrias no Brasil. Uma quando consegue tomar o dinheiro, e outra quando não paga”. “Os pobres pagam, e pagam, e pagam de verdade. Então, eu acho que esse encontro aqui é um marco, Meirelles, no que pode acontecer no Brasil daqui para frente”, afirmou Lula. “Quantas pessoas precisam apenas quem sabe de 50, de 100 ou de 150 (reais) até o primeiro passo. Quantas?. E quantas vezes a gente vê nos jornais pessoas que tiveram acesso a bilhões e bilhões e bilhões e que não geraram quase que emprego, que quebraram e que nós fomos obrigados a sair correndo atrás do prejuízo. Quantos?”, questionou.

Na posse do novo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, também na quarta-feira, o presidente Lula afirmou que as políticas de desvalorização do dólar pelos EUA e a reação da China, desvalorizando também a sua moeda, está preocupando o governo. “Tenho conversado com a Dilma. Estamos trabalhando preocupados com o que está acontecendo nos EUA e na China. O fato de duas economias como a China e os Estados Unidos tentarem fazer sua competitividade desvalorizando suas moedas não é correto e não é justo”, criticou o presidente, garantindo que o governo vai ficar atento à questão cambial.HP

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