terça-feira, 23 de novembro de 2010

“É preciso administrar o câmbio e o capital especulativo”, diz Maria da Conceição Tavares

“É preciso administrar o câmbio e o capital especulativo”, diz Maria da Conceição Tavares

A economista Maria da Conceição Tavares foi homenageada no Clube de Engenharia, no dia 18, pela passagem de seus 80 anos. O ato, denominado “Homenagem à professora Maria da Conceição Tavares, mestre do desenvolvimentismo”, foi organizado pelo Clube de Engenharia, Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (CREA-RJ) e Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (SEAERJ).

Após a leitura de um texto do ex-senador Saturnino Braga e dos discursos de dirigentes das entidades organizadoras - como o presidente do Clube, Francis Bogossian -, Conceição Tavares fez uma exposição sobre a economia mundial e brasileira, destacando que a situação nos Estados Unidos não está solucionada, uma vez que um dos problemas que levaram à crise foi a total desregulamentação do sistema financeiro.

Sobre a economia brasileira, fez um alerta sobre a política cambial e os juros altos, questões a serem resolvidas no curto prazo: “Se a inflação mata, o câmbio aleija”. Conceição disse o Brasil é um país rico em minérios e possui siderúrgicas modernas e mesmo assim importa 15% do aço que consome. “Custa caro manter as reservas, que podem ir embora rapidamente. É preciso administrar o câmbio e o capital especulativo para diminuir a vulnerabilidade externa e o risco de desindustrialização”, afirmou.

A homenageada defendeu a taxação dos ganhos financeiros. “Taxar o financeiro não pesará tanto para os rentistas. Rentismo e consumismo desvairado são a mais pura expressão do subdesenvolvimento”, disse.

Conceição sublinhou que a recuperação do salário mínimo, inclusive enquanto piso da Previdência Social, foi mais importante do que o Bolsa Família para a inclusão das classes mais pobres. Em sua avaliação, depois da vulnerabilidade externa, os investimentos em infraestrutura são prioridades, sendo que os recursos do pré-sal serão fundamentais para isso – e também para os programas para diminuir as desigualdades sociais. Para ela, o Brasil não será um país desenvolvido se ao mesmo tempo em que aumentar a riqueza a miséria aumentar também.

A economista apontou a necessidade de financiamento para geração de tecnologia.

“Tecnologia tem de ser subsidiada ou financiada, porque ninguém coloca capital de giro nessa área”, salientou Conceição, acrescentando ainda que “o BNDES subsidia, mas com as importações liberadas e com este câmbio, não há como gerar tecnologia. E a geração de tecnologia nova é mais importante do que a transferência. Trata-se também de expandir os benefícios da inovação para todos”.

De acordo com Conceição Tavares, Argentina e Bolívia têm relações comerciais e creditícias menos intensas com os EUA, o que fez com que passassem praticamente incólumes pela crise. Ela elogiou a política externa do governo Lula, pela independência em relação às grandes potências e também pela diversificação dos mercados para os produtos brasileiros.

O evento contou com a participação de personalidades para homenagear Maria da Conceição Tavares, como os ex-presidentes do Clube de Engenharia Raymundo de Oliveira e Hildebrando Góes; o conselheiro do Clube Paulo Metri; Alcebíades Fonseca, do CREA-RJ; Agamenon Oliveira, do Senge-RJ; Carmen Lúcia, da SEAERJ; o ex-deputado federal Vivaldo Barbosa; e a colunista Hildegard Angel.
HP

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