quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amorim: “A Alca era só para subordinar e prejudicar o país”

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu, em entrevista na segunda-feira (15), o acerto da política externa brasileira e disse que não pretende permanecer em nenhum cargo no novo governo que assume em janeiro próximo.
“Considero minha missão cumprida(...) Precisamos de gente mais nova. Eu já estou velho, tenho 68 anos, vivi muito”, brincou o ministro. Ele credita o “êxito” da política externa brasileira à “personalidade’ de Lula e à “visão inovadora” da diplomacia do país, que nestes últimos oito anos passou a ser “altiva e ativa”.
Amorim lembrou que a política externa do Brasil inviabilizou a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) que como estava desenhada “só serviria para subordinar e prejudicar o país”. Ele disse que o Brasil concordou com uma Alca que não prejudicasse o país, mas essa eles não quiseram. “Era uma Alca que não nos sujeitava a um modelo neoliberal em compras governamentais, em investimento, em proteção à propriedade intelectual, e em agricultura. Os fundamentalistas de lá não quiseram. Então, matamos a Alca sem dar um tiro”, esclareceu.
“Mas, veja bem, eu não decidi brigar com a Alca, eu disse: vamos ver, vamos conversar, vamos discutir. E ela morreu em Miami, sabe por quê? Porque foi quando conseguimos chegar a uma Alca que serviria ao Brasil, que não cerceasse a nossa capacidade de escolha de um modelo de desenvolvimento, e aí não interessava mais para os outros”, esclareceu, em entrevista para “Folha de S. Paulo”. A entrevista, feita por Eliane Catanhêde, foi recheada de provocações as quais, infelizmente, o ministro caiu numa delas, sobre direitos humanos, ao dizer que “no caso da Coreia do Norte, por exemplo, que fez ouvidos moucos a todas as recomendações, aí sim, nós votamos a favor da resolução que condenava”. “Nem acho que ela vá funcionar, porque é tão hostil que cria uma barreira, quando o objetivo deve ser o diálogo. Condenar só não adianta nada”.
Isso após o ministro denunciar a farsa americana sobre os direitos humanos. “Eu lidei 8 anos com a ONU e já participei diretamente disso, sei o quanto essas coisas são manipuladas”, afirmou. “No ano em que os EUA estavam fazendo acordos comerciais com a China, a China desaparecia das resoluções de direitos humanos. No ano seguinte, não tinha mais acordo comercial com a China, e a China voltava para as resoluções. E agora não entra mais. Isso é sabidíssimo”, acrescentou. “E você pode reparar”, destacou o ministro, “que há sete países que convivem com situações crudelíssimas, inclusive contra mulheres, e que jamais são mencionados”. “Por quê? Porque têm bases americanas ou têm outros interesses”, denunciou.
 HP

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