quarta-feira, 27 de outubro de 2010

ESPECIALISTAS DESMENTEM GLOBO: SERRA NÃO FOI ATINGIDO POR FITA

Sequência de video não mostra trajetória de nenhum objeto em direção ao tucano

Como noticiamos nós e outros órgãos de comunicação, a partir dos vídeos do SBT e da Record, Serra foi atingido no bairro carioca de Campo Grande por uma inofensiva bolinha de papel; o resto foi canastrada – a mão na cabeça, a tomografia, etc., etc., etc. - que expõe nitidamente o seu caráter.

Porém, na quinta à noite, o Jornal Nacional exibiu um vídeo de péssima qualidade, para segurar a pantomina, já a caminho do espaço, depois do pronunciamento do presidente Lula.

Depois de exibir Serra com a mão na cabeça – para induzir no telespectador uma conclusão antes dos fatos – apareceu o vídeo, com zoom numa imagem sobre a careca de Serra, que seria um “rolo de fita crepe”, algo que o locutor não conseguiu sustentar, ao descrevê-la como “circular e transparente”.

Para abafar as dúvidas, a Globo recorreu aos bem pagos préstimos do sr. Ricardo Molina, que atestou que o espectador viu o que não viu. Molina é foneticista (um especialista em áudio) de reputação mais do que duvidosa. Demitido em 2001 da Unicamp por “irregularidades administrativas” - entre as quais o uso de verba pública na compra de uísque e caviar para uso próprio – nunca foi um perito. É um “auxiliar técnico” contratado por acusados em busca de laudos que os beneficiem.

No vídeo mostrado no site da “Folha”, Serra, ao receber o suposto impacto do suposto objeto, não esboça qualquer reação, nem mesmo facial. Permanece andando, como se nada tivesse acontecido, por 5 segundos, depois dos quais há um corte. Só depois desse corte é que aparece com a mão na cabeça. No caso da bolinha de papel, ele levou três segundos para esboçar reação. Como, então, durante 5 segundos, ele não reagiu a um rolo de fita crepe que, segundo o “perito”, se chocou com a sua careca a 40 km/h?

A época atual é muito imprópria para fraudes desse tipo. A informática faz com que existam milhares de pessoas que lidam com vídeos – especialistas que entendem muito a respeito deles.

Esse é o métier do professor José Antonio Meira da Rocha, da Universidade de Santa Maria, que ensina planejamento gráfico, jornalismo online e mídias digitais. Após analisar o vídeo do Jornal Nacional, ele escreveu: “Será que a velha mídia não se dá conta que qualquer pessoa pode gravar TV e passar quadro-a-quadro? E que, fazendo isto, a pessoa pode ver que não há nenhum rolo de fita crepe sendo atirado contra o candidato José Serra? Que o detalhe salientado em zoom não passava de um artifact de compressão de vídeo sobreposto à cabeça de alguém ao fundo? Que não se vê no vídeo quadro-a-quadro nenhum objeto indo ou vindo à cabeça do candidato?”. Um “artifact”, explica ele, é “um defeito de compressão que se caracteriza por quadrados de bordas afiadas e interior difuso”.

Meira da Rocha decompôs o vídeo em seus quadros (“frames”). O original tem 913 quadros, mas o suposto objeto que teria atingido Serra aparece em um único quadro. Ao contrário da bolinha, o objeto da Globo/Folha não tem trajetória, aparecendo do nada, e, no quadro seguinte, 0,0666 segundos depois, já desapareceu.

O “perito” da Globo percebeu que isso tornava a história de Serra (e da Globo) impossível. Como, então, resolveu o problema? Dizendo que a trajetória do objeto não aparece porque o celular capturava apenas 2 quadros por segundo (“500 milissegundos entre cada quadro”) e o objeto voava a 40 km/h.

Meira da Rocha nota que essa taxa de 2 quadros por segundo é “completamente irreal”. Em suma, ela é falsa. O celular captava 15 quadros por segundo (15 fps – “frames por segundo”). Voando a 40 km/h, a trajetória seria captada em pelo menos 5 quadros do vídeo. Porém, não contente com o cálculo matemático, Meira da Rocha fez uma experiência prática. Depois de estabelecer a distância para que um objeto atirado manualmente atingisse um alvo com aproximadamente 40 km/h, lançou um rolo de fita crepe contra uma cadeira e registrou num vídeo com 15 quadros por segundo (15 fps): a trajetória apareceu em cinco quadros, além daquele em que se chocou com o alvo (ver http://decom.cesnors.ufsm.br/jornalismo/2010/10/23/e-serra-na-fita).

Porém, “se os quadros fossem captados a cada 500 milissegundos ou meio segundo (2 fps), o suposto objeto apareceria em apenas UM frame. Perceberam por que os ‘500 milissegundos’ do laudo?”. Em suma, Molina falsificou a taxa de captura do celular para que parecesse lógico aquilo que não tem lógica: um objeto sem trajetória, que aparece num único quadro de um vídeo e desaparece antes de 66,6 milissegundos (ou 0,0666 segundos), que é o intervalo entre um quadro e outro.

Em seguida, o professor demonstrou, com a exposição quadro por quadro do vídeo, que a imagem sobre a careca de Serra era a cabeça de alguém atrás dele, misturada com os já mencionados “artifacts”.

Trabalhando de forma completamente independente de Meira da Rocha, o cineasta Daniel Florencio, editor e diretor de vídeos há 10 anos, chegou às mesmas conclusões. Como disse Florencio, “sento diariamente em frente a um computador para trabalhar com imagens em movimento. Já dirigi trabalhos de animação e que envolvem efeitos visuais. A manipulação tosca das imagens na matéria do Jornal Nacional me saltou aos olhos”. O leitor poderá encontrar o resultado de sua investigação em www. youtube.com/watch?v= CwcIELvBCXA&feature=pl ayer_embedded.

Florencio demonstra, também, que a Globo alterou o vídeo, com uma fusão de imagens, para dar a impressão que Serra pôs a mão na cabeça logo após a imagem aparecer sobre sua careca. Sucintamente, ele conclui: “Analisando toda a sequência, o que vemos surgir em cima da cabeça de José Serra (…) é, na realidade, o topo da cabeça de uma pessoa que, no vídeo, se localizava atrás. Como a resolução das imagens é baixíssima, são ‘borradas’, e não muito bem delimitadas”. Mas ele mostra que a cabeça atrás de Serra, ao contrário do objeto fantasmagórico, tem uma trajetória perfeitamente definida.

Florencio nota que “a própria Folha de S. Paulo, quando exibiu as imagens em seu site, em nenhum momento havia dito de que se tratava de um registro do momento em que algo atinge José Serra”.

Realmente, o Otavinho entregou o trabalho sujo para os profissionais no ramo. Enviou o vídeo para a Globo. Como diz Meira da Rocha: “por que uma empresa jornalística entrega um ‘furo’ jornalístico para sua concorrente? Muito estranho. A atitude é compatível com orquestração”.

Com o “laudo” de Molina demolido em menos de 24 h, a Globo arrumou um novo perito, Maurício de Cunto. Em seu laudo, ele omite a taxa de quadros por segundo. Porém, mais grave é que:

1) “Cunto suavizou as bordas do artifact, adulterando a imagem. O perito adulterou o vídeo e apagou as evidências”, demonstra Meira da Rocha (ver http://meiradarocha. jor.br/news/2010/10/25/por-que-o-laudo-bolinha-2-e-equivocado).

2) Cunto, nota Daniel Florencio, “chega ao ridículo de analisar um frame apenas da sequência de vídeo. (…) é justamente analisando toda a sequência que verificamos que o tal objeto cilíndrico, não é um objeto cilíndrico”.

Além disso, o texto do laudo é coisa de artista. Por exemplo, segundo suas próprias anotações de tempo, no vídeo Serra só aparece com a mão na cabeça 17,6 segundos depois que o suposto objeto desapareceu. Conclusão do perito: “não há como assegurar que [antes do que aparece no vídeo] o candidato não levou suas mãos à cabeça...

CARLOS LOPES

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