sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SERRA PROMETE 13º DO BOLSA FAMÍLIA E DIZ QUE ESCREVEU PROGRAMA DE TANCREDO.

Ele chuta tudo, de acordo com o que lhe dá na telha, achando que vai impressionar o auditório

Depois de suas últimas declarações, sabemos porque Serra, quando ministro da Saúde, fez tanta carga para aprovar uma legislação “antimanicomial”. Não foi apenas para gastar menos com a saúde mental às custas dos pacientes. Havia também o risco dele acabar numa dessas instituições. Portanto, legislando em causa própria, achou melhor fechá-las o quanto antes...

Recentemente, fizemos um apanhado de suas promessas alucinadas e fantásticos traços neo-autobiográficos (HP, 17-21/09/2010). Há muito delirante por aí que não atinge tal proficiência. No entanto, em apenas uma semana, ele se superou.
O elemento prometeu agora o 13º do Bolsa Família - e descobriu que o Bolsa Família está vinculado ao salário mínimo (!?!?). Em suma, ele nem sabe o que é o Bolsa Família, que nunca esteve vinculado ao salário mínimo - nem é salário.
Falando para funcionários de hospitais “filantrópicos”, disse que “vai” gastar “R$ 15 bilhões na saúde, sendo R$ 3 bilhões em saneamento, pois ele tem sido perseguido” pelo governo Lula.

É crível que Serra não saiba que o orçamento da Saúde do governo Lula para este ano é R$ 62,4 bilhões (mais de cinco vezes o que ele diz que “vai” gastar) e as verbas para saneamento do PAC estão em R$ 41 bilhões (R$ 34 bilhões já com contrato assinado) - isto é, mais de 13 vezes o que ele prometeu?

Pois é, leitor. Ele não sabe e nem se interessa em saber. Vai chutando números, sejam altos ou baixos, de acordo com o que lhe dá na telha, achando que vai impressionar o auditório.

Ele também prometeu “500 mil vagas em cursos técnicos de enfermagem”. 500 mil só de enfermagem? É, leitor, cada doente vai ter direito a duas técnicas de enfermagem. Uma para tratar dele e a outra para ele olhar, pois isso é muito importante na terapêutica.

Como disse o presidente Lula, “eles dizem que vão expandir o Bolsa Família, mas passaram oito anos contra e agora dizem até que vão dar 13º salário para o Bolsa Família. O que é mais triste é que essa gente pensa que a gente é bobo”.

Como nós não somos bobos, o apoio a Serra está, cada vez mais, restrito àquilo que o deputado Brizola Neto chamou, com propriedade, de “direita manifesteira”. O leitor nos desculpe por não distinguir um manifesto do outro, mas a única coisa que nos chamou a atenção neles foi o nome da Rosamaria Murtinho, que nem sabíamos que ainda estava viva, mas pelo menos fez a “Maria Aparecida”, a empregada que se casa com o patrão, naquela novela, “A Moça que Veio de Longe”, da TV Excelsior, não nos lembramos se foi em 1962 ou 1963. O autor destas linhas tinha 10 anos nessa época – e já está caminhando para os 60 - e a Rosamaria já não era muito jovem.

Quanto à neo-biografia do Serra, o melhor foi a sua declaração de que fez o programa econômico do presidente Tancredo Neves. Qualquer pessoa que esteve em sua campanha sabe que só havia uma pessoa que Tancredo detestava mais do que Fernando Henrique: exatamente, José Serra. Tancredo achava, com toda razão, que eram dois aproveitadores, dois oportunistas, sem lealdade, só vendo na frente os seus mesquinhos interesses pessoais, querendo subir na política às custas dos outros.

Isso nunca foi segredo, pois Tancredo não fazia questão de esconder o que pensava quanto a esses dois pilantras.

Além disso, quem fez o programa econômico de Tancredo Neves foi Tancredo Neves. Essa tarefa ele não deixou e não deixava para ninguém - no que tinha inteira razão, pois ele tinha mais clareza sobre o assunto do que qualquer dos “conselheiros” que apareciam sem ser chamados.

Serra disse outra vez que o Bolsa-Família foi inventado por ele, no governo Fernando Henrique. Já abordamos o assunto há alguns meses (cf. HP, 21/05/2010, pág. 3). Mas já que ele insiste, não seja por isso.

O Bolsa Família nada tem a ver com os programas de Fernando Henrique, restritos e demagógicos, porque a ideologia dos tucanos era oposta. O Bolsa Alimentação, citado por Serra, “segundo sua diretora, Denise Coitinho, grande defensora de Serra, era um programa específico para gestantes, mães que amamentavam e crianças até seis anos, onde se previa uma ajuda durante seis meses, com direito à prorrogação por mais seis meses. Somente foi lançado no final de 2001 – portanto, durou pouco mais de um ano”.

Os programas de Fernando Henrique e Serra eram autênticos bolsa-esmola, isto é, aqueles programas “compensatórios” do Banco Mundial, inventados pelo neoliberal norte-americano Milton Friedman. Não é à toa que o Banco Mundial é contra e sempre foi contra o Bolsa-Família, mas era a favor dos programas serro-fernandistas.

Esses programas “compensatórios” são realmente uma esmola, depois da privatização geral, desde empresas estatais e o Tesouro até a Saúde, Educação, Previdência, etc., que deixa milhões desamparados na miséria. Depois de ser consultor da ditadura de Pinochet, Friedman propôs esse tipo de programa com a intenção de evitar que a massa de despossuídos se revoltasse e partisse para as vias de fato.

Já o Bolsa-Família, é um programa emergencial, enquanto a política de criação de empregos do governo não os cria em número suficiente para acabar com o desemprego e a miséria. Naturalmente, isso não basta: é preciso também que os salários tenham poder aquisitivo crescente. O governo Lula tem feito as duas coisas, mas apesar de 14 milhões de empregos criados (4 milhões a mais do que está no programa de Lula em 2002) e da valorização do salário mínimo em 53%, ainda há gente desempregada. Por isso, o Bolsa-Família ainda é necessário.

Mas ele não é uma eterna política “compensatória”, como eram os programas de FH-Serra. Por fim, o Bolsa-Família também ajuda a criar empregos, na medida em que expande o mercado interno, isto é, a capacidade do povo de comprar alguma coisa.

CARLOS LOPES

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