terça-feira, 14 de setembro de 2010

EUA DEBATE SE SEU DESATRE É EM "W", EM "L" OU DEPRESSÃO

Quanto a se é “Longa Recessão”, ou uma nova Depressão, os 30 milhões de desempregados não sabem exatamente. Mas que é uma calamidade, é

Dois anos após a quebra do banco Lehman Brothers e eclosão da maior crise econômica desde os anos 1930, a discussão em vigor nos EUA é se o país está em depressão, em recessão de duplo mergulho (“W”), em recessão em “L” – cai e fica prostrado -, ou se o vôo de galinha da recuperação que chegou a ser anunciada já aterrou.

Nos últimos dias, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, admitiu que as perspectivas da “recuperação” eram “excepcionalmente incertas”. Por sua vez, os principais jornais do país estampavam prognósticos de 30%, 40% e até 75% de probabilidade de um mergulho em “W” – nova recessão -, ou, pior, uma depressão. Entre os mais preocupados, Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia; Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial; Noriel Roubini – que anteviu a crise -; e até David Rosenberg, ex-responsável por análises do Merrill Lynch.

Assim que a sangria mensal de até 700 mil postos de trabalho baixou para um patamar algo menos indecente, Lawrence Summers, conselheiro de economia do presidente Barack Obama, alardeou em dezembro passado o “fim da recessão”, enquanto os bancos voltavam às apostas nas bolsas e derivativos. Usando a montanha de dinheiro – trilhões de dólares – postos à sua ordem pelo governo, os bancos se dedicaram também à especulação contra as dívidas dos países europeus e retomaram os pagamentos de gordos bônus aos banqueiros e executivos.

A farra também permitiu a muitas corporações anunciar lucros recordes. Tudo sem – ou quase sem – geração de empregos. Na cínica definição do Merrill Lynch, que afundou no setembro negro e hoje está abrigado sob o Bank of America, “crescimento recessivo”. O tal crescimento foi murchando, murchando, e agora, só sobrou o “recessivo”. No segundo trimestre deste ano, 0,4% em relação ao trimestre anterior. (ou, como eles gostam de encenar, estendendo ao ano inteiro o resultado de um só trimestre, 1,6%).

Quanto a se é “W”, “L”, “Longa Recessão”, ou nova Depressão, os 30 milhões de desempregados e os milhões de mutuários que tiveram suas casas tomadas pelos bancos não sabem exatamente. Mas que é uma calamidade, é.

Os republicanos vêm fazendo das eleições parlamentares de novembro palanque para ensalsar o “controle do déficit” no lugar do combate ao desemprego e ajuda aos estados. Isto é, arrochar tudo para garantir mais dinheiro para os banqueiros falidos. Pagar seguro-desemprego, garantir os programas sociais, manter o emprego dos professores e policiais, tudo isso acostuma mal os pobres, asseveram. Já manter os trilhões de dólares do Pentágono e o corte de impostos dos milionários criado por W. Bush, bem, aí devia ser cláusula pétrea, insistem os porta-vozes de Wall Street.

Conforme a compilação de Stephen Lendman, em relação ao último pico antes do início da crise, “os salários caíram 3,7%¨; O PIB real encolheu 1,3%; a produção industrial diminuiu 7,2%; os lucros das empresas se reduziram em 20%; as vendas a varejo se contraíram em 4,5%; os pedidos à indústria despencaram 22,1%; as exportações baixaram em 9,2%; as vendas de casas novas desabaram 88,9% e as de casas usadas, 41,2%. A construção não-residencial diminuiu 35,7%”. A utilização da capacidade industrial chegou ao mínimo de 68%.

JURO ZERO

“A realidade é que o Fed cortou a taxa de juros básica a zero, como foi feito no Japão”, e triplicou o tamanho de seu portfolio, assinalou Rosenberg. Ele acrescentou que o atual déficit de 10% em relação ao PIB “é o dobro do que FDR [o presidente Roosevelt] comandou nos anos 1930”. Ele se referiu ao mais recente leilão dos títulos governamentais de dois anos, que obteve um recorde de baixa de juro de 0,46%. Ao aceitarem um rendimento tão pequeno – na “fuga para a segurança” – os aplicadores estão, na expressão de Mike Whitney, fazendo um plebiscito sobre se “é o déficit a questão central” nos EUA e votando “não”.

Estudo do Centro de Pesquisa para Economia e Política, de Washington, revelou que, persistir o atual ritmo de geração de postos de trabalho, os EUA estão diante de uma “década perdida” nos empregos. Também do ponto de vista da capacidade de consumo das famílias, segundo Rosenberg. “Apesar dos esforços de desalavancagem”, o processo de reparo dos balanços dos bancos “ainda está na infância”, afirmou. “Há simplesmente dívida em demasia”.

“Considere os fatos: a razão dívida/renda por família atingiu no primeiro trimestre de 2008 o pico de 136%. Está atualmente em 126%, mas a norma pré-2001 era de 70%. Para baixar de novo para a taxa que considera normal, o economista destacou que a dívida dos norte-americanos precisa ser reduzida em US$ 6 trilhões. Nas contas dele, até agora só foram purgados US$ 600 bilhões. No caminho dos bancos dos EUA, há ainda muitos icebergs.

ANTONIO PIMENTA

Nenhum comentário: