sábado, 7 de agosto de 2010

SÓ WALL STREET E WASHINGTON ACHAM QUE RECESSÃO ACABOU

Os dados do 2º trimestre seguido com taxa do PIB em declínio nos EUA levou o país à discussão sobre os motivos que levam 71% dos americanos a acharem que o país continua “em recessão”

A divulgação na semana passada dos números do segundo trimestre de 2010, com queda da taxa do PIB para 2,4% - abaixo da previsão (revista) do Federal Reserve de 3,3% -, e com vários agravantes, desencadeou no país inteiro a discussão sobre porque 71% dos norte-americanos acham que o país está “em recessão”, enquanto Wall Street, a mídia e Washington vinham garantindo existir “uma recuperação econômica”. Esse “sentimento” – como a mídia começou a se referir – foi registrado em várias pesquisas, uma delas da Bloomberg, do início de julho, aliás, antes do resultado do trimestre.

Inclusive, em abril último, o blog especializado do “New York Times”, “Economix”, foi ainda mais longe, asseverando que a recessão teria “acabado no verão passado”, de acordo com um integrante de Harvard do comitê oficial responsável por tal definição. Até mesmo o ex-presidente do Fed, e mãe de todos derivativos tóxicos, Alan Gre-enspan, saiu da tumba para dar pitaco, no programa da NBC “Encontro com a Imprensa”, sobre a questão. Há uma “modesta recuperação”, - disse - “sentida” como uma “quase recessão” para a imensa maioria, e “uma vigorosa recuperação”, para “uma área muito limitada” de ricaços, grandes bancos e corporações. Uma economia “muito distorcida”, acrescentou; na verdade, duas. “A média dessas duas é o que se vê, mas são fundamentalmente dois tipos separados de economia”.

“RECUPERAÇÃO?”

Na verdade, segundo a pesquisa citada, somando quem acha que os EUA “continuam em recessão”, com os que consideram inevitável a volta da recessão, o percentual sobe para 84%. Assim, muito pouca gente nos EUA acredita na “recuperação”, e o que não falta é motivo, como os 26 milhões de desempregados, aliás, o principal deles.

“Devagar e mais devagar”, assim foi analisado pela revista inglesa “The Economist” o pífio desempenho do segundo trimestre, apontado ainda como “a mais baixa taxa” do PIB “desde o terceiro trimestre do ano passado”. O PIB “estancou”, mesmo que o produto real “ainda tenha que voltar a seu nível pré-recessão”.

CONSUMO

A “Economist” acrescentou outras observações sobre o segundo trimestre. Considerando todos os fatores – consumo, governo, exportações -, “o crescimento subjacente parece bastante fraco”, e nos próximos trimestres a contribuição [ao PIB] tanto do setor público quanto de estoques “cairá, ou se tornará negativa”. Será difícil atingir “até mesmo a baixa previsão do Fed”.

Conclusão semelhante foi apontada pelo economista Dean Baker, diretor do Centro de Pesquisa Econômica (CEPR, na sigla em inglês), entidade que na semana anterior denunciou que os EUA sofrerão “uma década perdida” quanto aos empregos. O atual patamar só se recuperaria em 2021, mantida a taxa de recuperação da recessão de 2000. Baker assinalou que a tendência do PIB nos EUA no próximo semestre é decair para 1,5%, ainda mais abaixo do já débil “crescimento”, sobre o fundo do poço, de abril-junho.

Entre as razões apontadas por Baker, está a que praticamente se esgotou a reposição dos estoques que foram desovados através de liquidações no auge da crise. Também Mike Whitney assinalou que no trimestre, “60%” da variação do PIB se constituiu de reposição de estoque e dos estímulos fiscais de Obama. Para a “Economist”, “2,64 em 3,7 pontos percentuais” verificados no primeiro trimestre deveram-se à variação de estoques; “1,05 em 2,4 pontos percen-tuais”, no segundo. Todos concordam que, caso não sejam aprovadas outras medidas fiscais de estímulo, as atuais deverão encerrar seu efeito até o primeiro trimestre de 2011.

Tradicionalmente, a construção civil é um dos setores-chave para uma retomada, mas o setor imobiliário está em depressão. O índice Case/Shiller de venda de casas novas de junho foi considerado o pior já registrado. Segundo o ex-secretário do Trabalho do governo Clinton, Robert Reich, há também o risco da construção comercial implodir, arrastando bancos regionais e até Wall Street.

O economista John Makin, destacou, no “WSJ”, a queda abrupta no crédito, “de menos 9,7% (anualizado) nos três meses terminando em maio”. Em maio e junho as vendas no varejo caíram, respectivamente, 1% e 0,5%, sobre o mês anterior , atingindo de automóveis, a computadores, material de construção e vestuário.

"Emprego, emprego, emprego!”, esse é o problema da população, como advertiu Whitney. “Controle de déficit” é manipulação, pelos magnatas, para seguir assaltando o erário e o povo. A taxa real de desemprego ultrapassa os 16%, e para cada emprego que aparece, há cinco ou seis desempregados. A média de tempo de desemprego já chegou a 35 semanas e o esgotamento do auxílio-desemprego começa a despejar nova leva de indigentes. 500 mil professores, médicos, policiais e bombeiros estão ameaçados de demissão nos próximos meses. 100 mil jovens entram a cada mês no mercado de trabalho. 200 mil mutuários a cada mês sofrem execução da casa pelos bancos. 50 milhões dependem do vale-sopão para comer. Milhões perderam a assistência médica. E a recessão “já acabou?”

ANTONIO PIMENTA

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