quinta-feira, 19 de agosto de 2010

PRESIDENTE DO FED É UM SERVIÇAL DE WALL STREET

Na semana passada, o Fed anunciou que usaria os rendimentos de títulos da dívida hipotecária em seu poder para comprar mais títulos do governo. Isso poderia ter um efeito muito modesto em manter baixas as taxas de juros de longo prazo, e por meio disso dar um pequeno estímulo à economia.

Tal medida seria razoável se a economia estivesse bem basicamente e apenas precisasse um modesto empurrão. Mas não é esse o caso.

A taxa de desemprego está em 9,5% e é praticamente certo que subirá na segunda metade do ano. O crescimento do emprego basicamente parou e o PIB provavelmente ficará no patamar de 1-2% nos próximos quatro trimestres, conforme os governos estaduais e locais cortem gastos, o estímulo se esgote e o mercado imobiliário retome sua queda.

Neste cenário, o Fed deveria estar tomando passos agressivos para trazer a economia de volta ao pleno emprego. Contudo, isto é parte da descrição do seu trabalho. Sua responsabilidade é promover a estabilidade de preços e o pleno emprego. Não há qualquer preocupação sobre a estabilidade de preços no sentido de que a taxa de inflação seja alta demais agora. Portando, a responsabilidade do Fed deveria ser fazer tudo ao seu alcance para atingir o pleno emprego; obviamente, não estamos nem perto disso agora.

Seu presidente, Ben Bernanke, inclusive sabe exatamente o que precisa ser feito, como o Wall Street Journal recentemente nos lembrou. Ele escreveu um documento em 1999 sobre a economia em estagnação do Japão e a persistente deflação. Seguindo uma recomendação de Paul Krugman, ele conclamou o banco central do Japão a estabelecer uma taxa de inflação no nível de 3-4%.

Uma taxa de inflação desta ordem reduziria substancialmente a taxa de juros real, dando às empresas um poderoso incentivo para investir. Significaria, por exemplo, que se eles construíssem uma fábrica este ano, os bens que produziriam seriam vendidos por 15-20% em cinco anos. Este modesto nível de inflação também teria uma grande importância na redução do fardo da dívida imobiliária. O fardo de suas hipotecas e outras dívidas seria erodido conforme os salários aumentassem em compasso com a inflação, enquanto o tamanho da dívida permaneceria fixo.

Apesar de saberem exatamente o que precisa ser feito, Bernanke e o Fed não mostram qualquer inclinação de se moverem nesta direção. Ao invés disso, o Fed parece preparado para ignorar seu mandato legal de promoção do pleno emprego.

A explicação para esta incrível falha de política é simples. As pessoas a quem Bernanke têm de responder são os banqueiros de Wall Street, não o Congresso e o povo. Os banqueiros de Wall Street não estão incomodados por 9,5% de desemprego. Seus lucros estão de volta a níveis pré-recessão e os bônus estão novamente batendo recordes.

Para os banqueiros de Wall Street, está tudo bem agora. Se Bernanke fosse em frente com uma política de meta de inflação de 3-4%, isso poderia corroer o valor real de muitos dos seus ativos. Esses bancos possuem dívidas hipotecárias e outros bens cujo valor seria reduzido por até mesmo taxas modestas de inflação. Embora possa não fazer sentido do ponto de vista dos trabalhadores e da maioria do país ter como meta uma taxa ligeiramente mais elevada de inflação, não é bom para Wall Street - e a isso é que o nosso supostamente independente Fed está respondendo.

Esta não é a primeira vez que Bernanke faz a vontade de Wall Street. Quando o Goldman, o Citigroup e os restantes estavam à beira da falência, Bernanke deliberadamente enganou o Congresso para ajudar a passar o Troubled Asset Relief Program (TARP). Disse-lhes que o mercado de títulos comerciais papel entrara em colapso, levando-os a crer que a maioria das empresas americanas seria incapaz de obter o crédito de curto prazo necessário para cumprir com sua folha de pagamento e pagar outras contas.

Bernanke deixou de mencionar que ele poderia, sozinho, manter o mercado de títulos comerciais operando através da criação de uma linha de crédito especial do Fed com essa finalidade. Ele anunciou a criação de uma linha de crédito para a compra de títulos comerciais no fim de semana após o Congresso ter aprovado o TARP.

Naturalmente, a crise toda decorre diretamente da vassalagem do Fed e Bernanke a Wall Street. Foi fácil para qualquer economista competente reconhecer a bolha das hipotecas e o perigo que representava para a economia já em 2002. No entanto, o Fed e Bernanke (então ajudante de Greenspan como governador do Fed) insistiam em que tudo estava bem com o mercado imobiliário. Afinal, os bancos de Wall Street estavam fazendo toneladas de dinheiro, qual poderia ser o problema?

O país precisa desesperadamente de um banco central que seja independente de Wall Street, onde seus dirigentes possam fazer o que eles acreditam que seja melhor para a economia e o país. Infelizmente, não temos tal Fed. Até que o Congresso e o público comecem a pressionar Bernanke pelas falhas de sua política, podemos esperar um chute no rosto, de novo e de novo.

Dean Baker é economista e co-diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política de Washington


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