quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O QUE TODOS SABEMOS É QUE O MUNDO É DOS MAIS FORTES , MILITARMENTE FALANDO. O RESTO É BALELA

Visão do Correio
Apoio de Lula a Ahmadinejad vai ao limite

O alinhamento de Brasília com Ancara na defesa do programa nuclear iraniano parou no limite da responsabilidade do Estado brasileiro. Um passo mais e estaria rompida a tradição nacional de respeito às leis internacionais e ao multilateralismo. Portanto, contrariado ou não, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tinha outra saída senão assinar o decreto com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas impõe novas sanções ao Irã.

Nem se pode falar em recuo do Palácio do Planalto. Aliás, o chanceler Celso Amorim deixou claro que o país ratificou a resolução da ONU mas não concorda com ela. Em outras palavras: acata a decisão colegiada, mas continua confiante nas garantias dadas pelo presidente Mahmud Ahmadinejad de que Teerã enriquece urânio apenas com fins pacíficos. E mantém a postura de que o acordo firmado em maio com o Irã e a Turquia, com base em proposta da própria Agência Internacional de Energia Atômica, seria mais eficaz que a retaliação e o isolamento.

A posição de Brasília é até cômoda. Flerta com Ahmadinejad sem abrir mão da legitimidade internacional nem afastar-se da diplomacia ou afetar os negócios. Afinal, a Resolução nº 1.929 trata basicamente de comércio, troca de tecnologia e financiamento relacionados a armas e urânio, com efeitos praticamente nulos sobre as relações Brasil-Irã. Desse ponto de vista, não custava ratificá-la. Já o contrário certamente teria alto custo para o país, cuja aposta no multilateralismo inclui a ambição de ocupar cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Mais: o governo Lula mantém a coerência ao se negar a aderir às punições contra Teerã definidas unilateralmente pelos Estados Unidos e União Europeia. O Itamaraty também estava contra Washington e Londres quando do ataque ao Iraque, em março de 2003, à revelia das Nações Unidas. É inevitável uma comparação entre os dois momentos. O pretexto de então era suposta produção de armas atômicas, químicas e biológicas pelo regime de Saddam Hussein, arsenal que se verificou inexistente.

É louvável que a proliferação de armas nucleares seja prioridade no rol das preocupações da humanidade. Mas precisa ser tratada nos limites estritos dos organismos internacionais, sem a contaminação de interesses diversos. O aparato bélico posto em marcha sete anos atrás levava a nobre bandeira do combate à corrida por armamentos atômicos, mas era a vingança pelos ataques de 11 de setembro de 2001, nos EUA, que o movia. Ou seja, em resposta ao terror, produziu-se terror, com o massacre de civis e uma sequência de episódios de tortura e maus-tratos de prisioneiros que deixaram admirável nódoa na democracia ocidental.

De volta ao Irã, ao ratificar as sanções da ONU, o Brasil se mantém onde sempre esteve. A decisão tem mais efeito interno: exorciza o fantasma de que as relações de Lula com Ahmadinejad pudessem desencaminhar o país — no fundo, uma falácia que o histórico da diplomacia praticada pelo país não demoraria a jogar por terra. Por sua vez, pouco muda também externamente: com ou sem o apoio de Brasília, Teerã seria retaliada; com ou sem o Conselho de Segurança, os Estados Unidos cumpririam sua sina. No mais, é torcer para que as semelhanças entre Teerã e Bagdá terminem por aqui.

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