sábado, 28 de agosto de 2010

SUBALTERNOS ACHAM QUE SÓ O QUE É DE FORA TEM VALOR, DIZ LULA


“A pior doença que existe na Humanidade é o preconceito. E eu sei o quanto de preconceito eu fui vítima nesse país”, afirmou o presidente Lula, em discurso emocionado para a multidão que foi assistir ao comício da campanha de Dilma e Zeca do PT, na terça-feira, em Campo Grande-MS. “Hoje eu brinco com o preconceito. Quando eu falo ‘menas laranja’ as pessoas acham engraçado. Se eu falasse em 89, eu era um “anarfa”, salientou.

“Pois a ignorância dos que me achavam anarfa”, prosseguiu Lula, “era confundir a inteligência com o conhecimento e o aprendizado no banco da escolaridade”. “A ignorância era de algumas pessoas que achavam que só tinha valor aquilo que vinha de fora. É americano, é maravilhoso. É europeu, é extraordinário. É chinês, é fantástico. É japonês, é não sei o que lá”.

“Eles se comportavam como cidadãos de segunda classe, como verdadeiros vira-latas que não se respeitavam e não tinham auto-estima”, acrescentou. “Eu me lembro como se fosse hoje, eu estava almoçando na Folha de S. Paulo e o diretor da Folha de S. Paulo (Otávio Frias Filho) perguntou prá mim: escuta aqui ô candidato, o senhor fala inglês? Eu falei, não. Como é que você quer governar o Brasil, se você não fala inglês? Eu falei, mas eu vou arrumar um tradutor. Mas, assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês”.

“Aí eu perguntei prá ele: alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português? Não, mas eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado que tinha que falar inglês e não eles falarem o português”, disse o presidente, sob intensos aplausos.

Lula relatou que se sentiu chateado e decidiu levantar-se da mesa. “Eu não vim aqui para dar entrevista, vim para almoçar. Isso é uma entrevista, portanto, eu vou embora. Eu levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora”, contou o presidente, destacando que vai terminar o mandato, “sem precisar ter almoçado com nenhum jornal e nenhuma televisão”.

“Vou terminar o meu mandato e também nunca faltei com o respeito com nenhum deles. Já faltaram com o respeito comigo. E vocês sabem o que já fizeram comigo. Se dependesse de determinados meios de comunicação eu teria zero na pesquisa e não 80% de bom e ótimo como nós termos nesse país”, frisou.

Dirigindo-se ao público presente, Lula destacou que “vocês um dia tiveram a mesma consciência que a maioria negra da África do Sul teve ao eleger um negro que representava 26 milhões de pessoas que eram dominados por 6 milhões de brancos. Vocês um dia tiveram a mesma consciência dos negros da África do Sul que elegeram Mandela para presidente da República daquele país depois de 27 anos de cadeia”.

“Vocês tiveram consciência de eleger um metalúrgico que tinha perdido muitas eleições por ser igual à maioria do povo”. “E o povo não acreditava que fosse capaz de dar a volta por cima. O povo não acreditava porque nós aprendemos a vida inteira que nós éramos seres inferiores”, disse o presidente. “Que para governar esse país precisava ser um usineiro, tinha que ser fazendeiro, tinha que ser advogado, tinha que ser empresário, tinha que ser doutor, mas um igual a gente não poderia governar esse país. Nós não sabemos governar”.

E, dirigindo-se ao candidato a governador, Zeca do PT, que é bancário, Lula disse emocionado: “Se coloca no seu lugar, bancário, porque esse país foi feito para ser governado por banqueiro e não por bancário”. E, dirigindo-se a Dilma, falou: “Se coloca no seu lugar, mulher. Porque esse país é para ser governado por homens e não por mulher”.

E, por fim, completou: “Se coloca no seu lugar, metalúrgico. Porque esse mundo não é para ser governado pelos que moram no andar de baixo, mas sim pelos que moram no andar de cima. É assim que a escola ensinou. É assim que a sociologia ensinou. É assim que nos ensinaram a vida inteira. Até que um dia, eu, lendo um poema do Vinicius de Moraes, “Operário em Construção”, aprendi que um operário poderia dizer não. E quando ele disse não, a lógica perversa que estava montada...”.
“É verdade que eu perdi três eleições, mas eu já ganhei duas eleições e vamos ganhar a terceira, com essa mulher que vai ser a presidente da República”, concluiu, arrancando muitos aplausos.

Antes do presidente, Dilma destacou a importância de ir para as ruas e disputar o voto. “É importante que nós não achemos que já ganhamos [a eleição], porque quem ganha é o voto do povo nas urnas. E nós respeitamos o voto povo”, disse.

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