sábado, 3 de julho de 2010

SERRA ESCOLHE INDIO E RIFA NORDESTE,SUL,SUDESTE....

Ligações perigosas e licitações suspeitas para o fornecimento de merenda escolar no rastro do vice

Segundo as declarações de Serra, seu candidato a vice, Índio da Costa, é “uma novidade que é um sinal de renovação”. Muito profundo esse pensamento – melhor do que isso, só se ele fosse uma coisa nova que renova...

Não julgávamos possível que houvesse algo pior para Serra do que ter o Álvaro Dias como vice. Certamente, algo pior sempre é possível – o que não contávamos é que ele conseguisse arrumar coisa pior em tão pouco tempo.

Mas a verdade é que aquilo que a “Veja” chamou de “escolha pragmática” - a escolha de outro paulista, senador de um Estado onde Serra nada tem a ganhar (aliás, só tem a perder, como mostra o apoio do senador Osmar Dias à candidatura Dilma Rousseff, ainda com Álvaro Dias como candidato a vice de Serra), aumentou velozmente a desagregação da campanha tucana.

Porém, o conserto foi pior do que o estrago. E o Dem não é culpado pelo Índio. Aliás, nem o Índio é culpado pelo Índio. Quem escolheu o candidato a vice foi Serra – é evidente que considerou, e considera, que os caciques do Dem são uma trupe de atrasados, corruptos, fisiológicos e nordestinos, e que não se estranhe a equiparação de nordestinos com atrasados, corruptos e fisiológicos.

Assim, o Aleluia, apesar do nome, dançou. Quem mandou ser baiano? Serra escolheu o mais desconhecido que pôde arrumar, como se lhe assistisse escolher o representante do Dem – e, segundo teria dito, queria um vice do Sudeste, ou seja, não queria um nordestino, apesar do Nordeste concentrar quase um terço dos eleitores do país e três vezes o número de eleitores do Rio de Janeiro.

Uma teoria assaz interessante, pois um vice do Rio ganharia, hipoteticamente, votos no Rio e mais em nenhum Estado. Já um vice do Nordeste, segundo todas as eleições desde que a República as instituiu, seria importante para ganhar votos em toda a região. Logo, Serra não pode ficar chateado se nós concluirmos, outra vez, que ele não quer nordestino por perto.

Mas o resultado prático é que ele acabou escolhendo um vice que não ganha votos em lugar algum, nem no Rio - exceto, talvez, no complexo penitenciário de Bangu, onde está hospedado o sogro do Índio, um certo Salvatore Cacciola.

O problema, evidentemente, é de Serra, e não nosso. Mas... quem é esse cara que ele escolheu? Dizem que foi relator do “ficha limpa”. Quase inacreditavelmente, nem assim alguém reparou na sua existência. Dizem que foi “prefeitinho” de Jacarepaguá. Pois nossas fontes nos botecos e adegas lusitanas da Praça Seca, Taquara, Pechincha e adjacências não confirmaram a sua passagem por lá. Se foi, e parece que foi, deve sofrer de alguma síndrome de invisibilidade.

Mais concretamente, o que se sabe são duas coisas: primeiro, que durante sua gestão na Secretaria de Administração da Prefeitura do Rio aconteceram algumas coisas estranhas, segundo uma CPI que tinha por relatora uma aliada do PSDB.

Imagine o leitor quem é o autor do seguinte texto: “sem ter, teoricamente, informações sobre os outros preços, a fornecedora [que venceu as licitações para 99% do fornecimento da merenda escolar quando Índio da Costa era secretário] sempre apresentou descontos quando tinha concorrentes, mantendo o preço cheio naquelas licitações em que ninguém disputava o fornecimento. Foi como acertar na Mega-Sena, comenta a vereadora do PSDB do Rio Andrea Gouvêa Vieira, relatora da CPI. Os resultados da CPI estão no Ministério Público”.

Não, leitor, esse texto não é de algum dilmista fanático, mas do capachíssimo Merval Pereira, serrista até os cueiros (pelo menos até que a família Marinho o mande parar com isso).

Segundo, o rapaz é genro do sr. Salvatore Cacciola – agora ele descobriu que não é, e nunca foi, mas, como dizia Gorky, o que a pena escreve nem o machado apaga, mesmo que seja a trêfega pena dos colunistas sociais, que registraram a vida do casal, sem que o Índio protestasse.

Cacciola é um recordista. Com tanto ladrão rico e tanto rico ladrão no país, ele conseguiu ser o único que foi em cana. Até os tucanos que lhe forneceram os dólares do Banco Central abaixo do preço de mercado estão à solta e fazendo campanha para Serra. Mas, depois de sua fuga do Brasil, também Cacciola estaria, se não fosse sua incrível vocação para trapaças as mais sem limites, para a ostentação vadia da riqueza obtida às custas dos outros, para a perspicaz ideia de que a responsabilidade dos malfeitos é sempre de outros, para a reivindicação de que as leis não se aplicam à sua pessoa, etc., etc.

Pois com tanto milionário precisando desencalhar as filhas, o vice de Serra foi logo escolher a filha do Cacciola - e, ainda por cima, mentir sobre o assunto. Diz ele que conhece a família Cacciola desde criancinha. Mas pertencer ao mesmo meio que um escroque não é uma atenuante.

Merenda escolar e Cacciola – bem que o Serra disse que era “uma novidade que é um sinal de renovação”. E depois os nordestinos é que são fisiológicos...

No entanto, isso é tudo o que ele conseguiu – com seus acólitos na mídia chamando a nova escolha de “palhaçada” e outros epítetos correlatos. Não poderia haver maior sinal de rejeição pública, de isolamento e de derrota.

Mas, estamos sendo outra vez demasiado otimistas quanto ao destino de Serra – ainda faltam três meses para a eleição.

C.L.

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