domingo, 20 de junho de 2010

Amorim: mundo não pode se submeter a cinco países nuclearmente armados

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu a participação dos países em desenvolvimento em decisões de “questões de paz e guerra”. “É hora de os países emergentes - Turquia, Brasil, assim como a Índia, África do Sul, Egito e Indonésia - serem ouvidos nas questões de paz e de guerra”, disse o chanceler em entrevista em Paris.

Amorim reafirmou a posição do Brasil de reforma do Conselho de Segurança da ONU, citando os esforços do Brasil e da Turquia na mediação do acordo nuclear firmado com o Irã, ignorado pelo Conselho que decidiu por sanções ao diálogo. Segundo ele, tal decisão “confirma a percepção de inúmeros analistas que denunciam que os centros tradicionais de poder não compartilharão gratuitamente de seu estatuto privilegiado”.

Antes de viajar a Paris, Amorim participou em Genebra, Suíça, da Conferência de Desarmamento das Nações Unidas. “Por experiência própria, posso dizer que, por tempo demais, a Conferência do Desarmamento tem tido o fracasso e a frustração como parte de sua rotina”, afirmou o chanceler brasileiro em seu discurso, recomendando: “Agora, o ambiente é favorável para que a Conferência do Desarmamento seja fundamental nesta área crucial da segurança internacional. A Conferência pode ser protagônica em uma mudança ainda mais profunda: a efetiva participação de nações em desenvolvimento e de Estados não-nuclearmente armados em tais assuntos”.


“A governança global está sendo reconstruída. O mundo não pode ser gerido por pequenos grupos que se auto-intitulam tomadores de decisão”, declarou Amorim, completando que “isso é particularmente verdadeiro na esfera da paz e da segurança internacional. A infeliz identidade entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os cinco Estados reconhecidos pelo TNP como nuclearmente armados torna decisões sobre esses assuntos objeto de certa ‘reserva de mercado’”.


Cobrando a uma política de desarmamento do órgão, Celso Amorim defendeu a “eliminação irreversível de todos os arsenais nucleares” existentes. “Armas nucleares não têm função no mundo mais pacífico, democrático e próspero que queremos todos construir. Deve-se abandonar a lógica da Guerra Fria, a lógica da capacidade de destruição mútua. Devemos reconhecer a simples verdade de que as armas nucleares diminuem a segurança de todos os Estados, inclusive daqueles que as possuem. O mundo não atingirá estabilidade sustentável enquanto a protelação do desarmamento nuclear e a contínua modernização dos arsenais estimularem a proliferação”.

Sobre as sanções impostas ao Irã pelo Conselho de Segurança da ONU, o chanceler afirmou que “é difícil compreender porque não lhe foi dada pelo menos uma chance de gerar resultado. Seu valor, como medida de criação de confiança, como plataforma para novas negociações, não foi posto.

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