quinta-feira, 6 de maio de 2010

TELES LUCRAM MAIS E ACHAM QUE O BRASIL DEVE ABRIR MÃO DOS IMPOSTOS

A Vivo teve um aumento do lucro líquido de 44,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. A Claro não divulgou o lucro líquido, mas seu EBITDA (sigla em inglês para Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) cresceu 22,7%. Já o lucro líquido da Embratel, aumentou 25,1%. O da Nextel aumentou 100,8%.

Estes são resultados até agora divulgados do primeiro trimestre. A Telefónica, que tem quase 30% do faturamento total das operadoras de telefonia, ainda não divulgou seu balancete. Mas, em 2009, seu lucro líquido (isto é, dinheiro já livres de quaisquer outros gastos) foi R$ 2 bilhões e 173 milhões somente no setor de telefonia fixa. O da Embratel, também somente no setor de telefonia fixa, foi R$ 1 bilhão e 293 milhões. É verdade que a Oi, uma empresa que vive pendurada nos cofres do BNDES, teve prejuízo (R$ 436 milhões), mas não por falta de receita – esta foi quase astronômica, comparada à da maioria das empresas do país: R$ 45 bilhões e 708 milhões.

Diante desses resultados, divulgados pelas próprias operadoras de telefonia, a pergunta inevitável é: como podem ter a falta de vergonha de reivindicarem isenção de impostos, doação a elas dos fundos públicos (R$ 28,7 bilhões do contribuinte até 2008, segundo cálculos da própria entidade das teles, a Telebrasil) e até a rede de fibras ópticas do governo?

Ou: como podem dizer que o alto preço e a péssima qualidade da banda larga (como dizem nossos colegas da Tia Carmela: a banda lerda) que oferecem aos usuários é por causa dos impostos?

Antes que cheguemos à conclusão (mais cedo ou mais tarde inevitável) de que estamos tratando mais com bandidos do que com empresários, há outro mistério. A lei brasileira obriga a distribuição de 25% do lucro como dividendos aos acionistas. No entanto, a Telesp tem distribuído, como dividendos aos acionistas, isto é, antes de tudo à Telefónica de Espanha, “100% do lucro e às vezes até mais” (cf. Helton Posseti, “Distribuição generosa”, Teletime, edição 130, março/2010).

Mas, se a Telefónica envia para os acionistas (isto é, para a Espanha) todos os seus lucros (“e às vezes até mais”), com que dinheiro ela faz os seus propalados investimentos? A própria Telefónica informou que “o percentual do lucro líquido declarado aos acionistas em 2009 foi de 67,7%. Entretanto, no dia 10 de fevereiro, a empresa propôs a deliberação do pagamento de R$ 1,25 bilhão em dividendos referentes ao exercício de 2009. Se a proposta for aprovada, o percentual do lucro líquido distribuído aos acionistas alcançaria a marca de 125,3%. (…) O grupo controlador da Telesp tem 89% das ações preferenciais e 85% das ordinárias” (cf. art. cit.).

O leitor já ouviu falar de uma empresa que distribui 125% do lucro em dividendos? Só aquelas companhias de piratas que os ingleses e holandeses formaram no século XVII, ou um pouco depois, para escalpelar a América e a Índia.

C.L.

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