quinta-feira, 27 de maio de 2010

SERRA/FHC DESCOBRE QUE É CONTRA TUDO AQUILO QUE PRATICOU NO GOVERNO

Observou o presidente Lula em entrevista no SBT

Em entrevista ao SBT, o presidente Lula comentou que “eu gostaria de ser economista, acho chique, porque eles sempre sabem muitos números. Quando estão na oposição, então, sabem ainda mais. Veja, por exemplo, o José Serra. Agora, ele sabe tudo o que não sabia quando estava no governo”.

Realmente. Por exemplo, Serra agora tornou-se um crítico dos juros altos. Onde estava ele no dia 4 de março de 1999? Pois, nesse dia, o Banco Central do governo Fernando Henrique aumentou os juros básicos de 25% para 45%.

Onde estava Serra? Ora, no ministério do governo Fernando Henrique. E nem mesmo um protesto pró-forma ele esboçou contra o que deve ter sido o maior aumento de juros da História da República.

Mas agora Serra descobriu que os juros estão muito altos – e quem levou as sobras pela descoberta serrista foi a Míriam Leitão, que se pôs a defender os juros e levou uma esculhambação.

Só a senhorita Leitão poderia ser suficientemente idiota para levar a sério o seu candidato, a ponto de achar que aquilo que ele fala é realmente o que pensa.

No entanto, em entrevista à agência de notícias Reuters, dois membros da assessoria econômica de Serra declararam que “uma taxa de 12 por cento para a Selic no fim do ano é realista” porque não podemos “crescer sem ter as bases colocadas para crescer”.

Essa entrevista, embora não revelando o nome dos entrevistados, não foi desmentida, nem por Serra nem por ninguém da sua campanha, embora haja notícia de que o candidato tucano distribuiu vasta série de impropérios aos sujeitos que a concederam.

Mas isso é apenas um sinal de que é isso mesmo que ele acha – aliás, se não achasse, não seria tucano, e, no caso, o principal tucano, já que Fernando Henrique mais parece um zumbi. Qual é a essência da política tucana, senão impedir o país de crescer, já que não somos nada, e não devemos ser nada, exceto um apêndice dos EUA? Depois de oito anos disso, e mais a campanha atual de Serra contra o Mercosul, que dúvidas são possíveis a esse respeito? Os juros de 45% não incomodaram Serra. Por que os juros atuais o incomodariam, exceto por serem, talvez, demasiado baixos para sufocar o crescimento?

Em campanha – aliás, antecipada – Serra descobriu muitas coisas: até que o câmbio, isto é, o real, está sobrevalorizado. Serra participou, como ministro do Planejamento, da maior, mais artificial, mais engessada e mais lesiva sobrevalorização do real, a paridade em relação ao dólar do primeiro mandato de Fernando Henrique.

Uma sobrevalorização tão estúpida que quebrou a economia nacional, pois não passou de um dumping a favor das mercadorias importadas - desde cortadores de unhas da Pennsylvania até repolhos da Califórnia e outros produtos de semelhante sofisticação.

Na entrevista que citamos, os dois assessores de Serra dizem que ele não iria levar o dólar nem a 2 reais, mas “também não vai deixar chegar a 1,50 real”. Como o dólar está em R$ 1,77, isso somente quer dizer que, se depender de Serra, o câmbio fica como o Meirelles quer – portanto, suas críticas ao câmbio sobrevalorizado são mera demagogia.

Porém, o mais interessante na entrevista da Reuters é a primeira medida, que, se fosse eleito, Serra tomaria: “um profundo ajuste fiscal”. Nestes tempos em que os gregos estão lutando contra um “profundo ajuste fiscal”, quase não é necessário dizer o que é essa desgraça: cortar o salário de professores, médicos e demais funcionários, cortar o atendimento público à população, cortar os investimentos públicos, cortar as aposentadorias, estrangular as contas do governo, privatizar o que houver de patrimônio público, e, certamente, aumentar impostos – tudo com o objetivo de repassar mais dinheiro público para os bancos.

Tanto é assim que os dois entrevistados se queixam que o governo Lula diminuiu a “economia para pagar juros”, isto é, o famigerado superávit primário – e observemos que os atuais 2,21% do PIB de superávit primário não é coisa pouca, embora seja muito melhor do que os 4,85% anteriores.

Em suma, o que a assessoria de Serra descreveu como sua primeira medida é uma devastadora privatização do dinheiro e da propriedade pública – é a isso que os neoliberais chamam de “ajuste fiscal”. Sem privatizar o Tesouro e o patrimônio público não existe “ajuste fiscal” - e se eles usam esse termo é porque é isso mesmo o que querem fazer.

Mas, como diz um velho sacripanta do “ajuste fiscal”, o sr. Luís Paulo Rosenberg – aquele mesmo que na época da ditadura agia como advogado do FMI dentro do governo - não se trata apenas do setor público – pois o “ajuste” não funciona se toda a sociedade não for arrochada. Por isso, diz Rosenberg, é uma “leviandade” (sic) o governo Lula aumentar o salário-mínimo (ver a conferência sobre ajuste fiscal desse quase impagável elemento no 4º Painel Econômico Serasa).

Como disse uma economista de perfil mais razoável, “ajuste fiscal” significa fazer o povo “pagar a conta do banquete dos outros”, isto é, dos bancos, sobretudo os externos (cf. Sandra Quintela, “Dívida social e ajuste fiscal”, PACS, 01/2005).

Pois essa é a política de Serra. Sua assessoria deve ter um Q.I. semelhante ao da Míriam Leitão. Talvez por isso, por medo que algum deles entornasse de vez o caldo, ele não respondeu quando a ex-ministra Dilma Rousseff declarou que “não é ajuste fiscal que dá jeito na máquina pública brasileira”.

Realmente, não é. Pelo contrário, ele é a devastação de tudo o que é público – e essa seria apenas “a primeira” medida de Serra se fosse eleito...

CARLOS LOPES

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