domingo, 2 de maio de 2010

S&P FAZ ATAQUE ESPECULATIVO À GRÉCIA,PORTUGAL E ESPANHA

Standard & Poor’s rebaixa classificação dos títulos gregos, portugueses e espanhóis em menos de 24 horas e gera súbita corrida às bolsas e elevação nos juros de rolagem das dívidas destes países


No mesmo dia em que o FMI anunciava um pacote de 45 bilhões de euros para o governo grego poder rolar sua dívida deste ano – uma rolagem prevista de 50 bilhões de euros, dos quais 10% já estão em mãos da Grécia – numa ação conjunta em que o próprio FMI deve assegurar 15 bilhões e outros 30 bi ficam por conta do Banco Central da Europa e dos bancos europeus notadamente da França e Alemanha, a agência de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixava em dois degraus (de BBB+ para BB+) os títulos gregos.

Um ataque especulativo evidente pois, apesar da situação da Grécia ser a mais tensa dos países da chamada “Zona do Euro”, o anúncio do pacote de rolagem da dívida apontava para uma solução – ainda que precária e prejudicial aos trabalhadores gregos – de curto prazo e dentro da lógica do mercado, o que significava que o risco dos papéis gregos deveria diminuir e não aumentar.

É verdade que o governo social-democrata de Georges Papandreus optou por ceder às pressões da Alemanha e do FMI, cortando salários e pensões de servidores públicos e investimentos o que ameaça as possibilidade de recuperação do país, já debilitado pela ação dos próprios bancos franceses e alemães que adquiriam os títulos gregos e os rolavam a juros cada vez mais elevados, e usaram a abertura de mercado do euro para detonar a indústria e agricultura locais.

Mas não havia razão para derrubar os papéis abruptamente a não ser pegar alguns desavisados no contrapé e aumentar os juros da dívida grega em benefício dos bancos alemães e franceses que estão prestes a rolá-la.

Logo após o anúncio do pacote de 45 bilhões, e informações como a do jornal Le Monde de que “a Assembleia francesa deve aprovar ‘por quase unanimidade’ o empréstimo de cerca de 4 bilhões de euros a uma taxa de 5%”; ou do ministro das Finanças da Alemanha , Wolfgang Schäuble, ter anunciado que o recurso de seu país deve ser aprovado até o dia 7 de maio, a S&P derrubou o “rating” dos títulos gregos. Não podendo mais alegar problemas no curto prazo, a análise da arapuca passou a centrar nas dificuldades da Grécia de rolar a dívida nos próximos três anos.

No mesmo dia, 27, derrubou os títulos portugueses (neste caso, em que a relação de endividamento versus PIB é uma das mais baixas do continente, de 54%, alegou que “a economia de Portugal padece de fragilidade estrutural e pouca compe-titividade”). No dia seguinte foi a vez da Espanha.

Com isso obteve dois efeitos. Primeiro: fez com que de rolagem dos juros dos papéis gregos no mercado (isto nos bancos que devem agora refinanciá-los) subissem de um dia para o outro (os de 10 anos passam de 9,73% para 11% e os de dois anos de 15% para 18%, segundo o Lê Monde) uma beleza para os bancos alemães que vão receber do governo a juro perto de zero e emprestar aos índices acima!

E segundo, fez com que as bolsas despencassem pelo mundo afora, de um dia para o outro, uma maravilha para os fundos que jogam com os papéis classificados pelas agências de risco como a S&P e aos quais - umbilicalmente conectados - é fácil passar informações sobre o choque nas bolsas prestes a ocorrer e provocados pela própria agência.

Mas o golpe da S&P por sua ganância criminosa, provocou uma revolta generalizada. Ficou evidente que atingia países onde se aumentou o arrocho e o desemprego para que sobrevivam dentro das regras do “mercado” (leia-se dos próprios bancos e agências). Dívidas que poderiam perfeitamente ser declaradas ilegítimas para se investir na retomada do crescimento com base nos mercados destes países.

O primeiro-ministro de Portugal José Sócrates denunciou “o ataque especulativo sobre o euro e a dívida portuguesa”. “A desvalorização que ocorreu através dos mercados indica que chegamos a uma fase irracional no estabelecimento de preços nos títulos”, declarou o diretor da Agência de Administração do Tesouro da Irlanda, John C. Corrigan.

Chantal Hughes, porta-voz do Comissário para o Mercado Interno da União Européia, perguntada sobre a queda abrupta dos papéis gregos, cobrou “responsabilidade e rigor das agências de risco”. Na mesma ocasião, Amadeu Altafaj, porta-voz do Comissariado de Questões Econômicas da UE ironizou: “A propósito o que é essa Standard & Poor’s?”.

O deputado português no parlamento europeu, pelo Partido Socialista, Vital Moreira, foi enfático: “Espero que desta vez eles partam os dentes”. Já o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Basílio Horta, considerou a atitude da S&P, considerando-a “uma manipulação de mercado” e um “ataque violento”. O presidente da Associação Portuguesa de Bancos António de Sousa destacou: “Não percebo quais as razões de um corte de ‘rating’ tão grande”.

Até o Bank of América, que adquiriu a Merrill Lynch (que também se dava a analisar os propalados “risco –país”), se indignou com o fato da S&P querer abocanhar o cassino só para sí e os mais chegados. Em um “paper” sobre a queda abrupta nos títulos colocou o sugestivo título “S&P está atirando gasolina na fogueira”.
HP

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