terça-feira, 2 de março de 2010

OBAMA FAZ MEGA ESPECULADOR GEORGE SOROS PARECER DE ESQUERDA

Li hoje duas entrevistas curiosas.

Uma, do presidente Barack Obama, publicada originalmente no Bloomberg Business Week, defendendo a completa liberdade do mercado, mesmo depois de ter este “mercado” sobrevivido graças ao dinheiro público injetado durante a crise do final de 2008.

Outra, do megainvestidor George Soros, dizendo que o governo americano deveria ter assumido os bancos em vez de resgatá-los, uma decisão que, segundo ele, teria sido mais popular. “A solução que Obama encontrou para a crise financeira, que foi a de efetivamente resgatar os bancos e permitir que saíssem do buraco, não foi, na minha opinião, a solução correta”, afirmou Soros em uma entrevista à rede de televisão CNN.
Mas Obama, segundo a tradução de sua entrevista publicada pelo site português esquerda.net, produz a seguinte pérola:

Quando questionado sobre o que pensava acerca dos bônus multimilionários concedidos aos executivos dos bancos de Wall Street que conseguiram anunciar lucros recorde no ano passado graças ao programa de ajuda do governo federal, Obama não hesitou em defender o CEO do JP Morgan Chase, Jamie Dimon, (bônus de 17 milhões de dólares no ano passado) ou o líder do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein (9 milhões).

“Conheço-os aos dois”, respondeu Obama. “São homens de negócios muito experientes. E eu, tal como a maioria do povo americano, não invejo o sucesso ou a riqueza de outras pessoas. Isto faz parte do sistema de mercado livre.”

Até a Business Week pareceu surpreendida por Obama não pensar que pessoas comuns tivessem pelo menos um pouco de ressentimento relativamente a dois homens que dependeram dos contribuintes para salvar os seus negócios – e depois pagaram a si próprios muitas vezes mais por um ano do que muitos contribuintes ganharão numa vida inteira de trabalho.

“Dezassete milhões é demasiado para o Homem da Rua engolir,” pressionou Business Week. Obama respondeu transpondo para a onda dos comentadores esportivos da rádio que criticam duramente os atletas de alta competição pelos seus altos salários: “Ouçam, 17 milhões de dólares é um montante extraordinário de dinheiro. Claro que há alguns jogadores de basebol que ganham mais do que isso e também não chegam às World Series, também fico chocado com isso.”

É demais. Quando até o capital defende o Estado, e o Estado continua a defender a liberdade do lucro que obteve usando o dinheiro da população é que a gente entende o caráter quase (quase?) religioso que o sistema dá ao ganho privado, que está acima do direito coletivo, a gente entende o quanto é profunda a lavagem cerebral que vinte anos de neoliberalismo fizeram nos homens que são eleitos pelo “homem da rua” e governam para os homens dos bancos.

Brizola Neto

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