sexta-feira, 12 de março de 2010

ENTREVISTA DO PRESIDENTE LULA, SOBRE A QUESTÃO DE CUBA

“Jornalista: Queria perguntar também sobre a viagem que o senhor acabou de fazer para Cuba. Naquele momento estava a situação daquele dissidente, que estava em greve de fome, agora tem outro cara em greve de fome também. Como o senhor acha que Cuba lidar com essa situação dos dissidentes?

Presidente: Olha, veja, eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos aqui em São Paulo entrassem em greve de fome e exigissem a liberdade. Ora, veja… nós temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como eu quero que eles respeitem o Brasil, como eu quero respeitar aquilo que os Estados Unidos fizerem cumprindo a lei.

 A partir daí, um cidadão fazer uma greve de fome até se permitir morrer… Eu já fiz greve de fome e nunca mais eu farei, nuca mais eu farei. Eu acho uma insanidade judiar do próprio corpo. Mas, não é apenas em Cuba que morreu um cara de greve de fome. Tudo mundo sabe o que acontecia na Irlanda, quanta gente do IRA morreu de greve de fome? Eu vejo muita gente que hoje critica o governo cubano por causa da morte, não falava nada da morte do IRA.

Era como se fosse uma coisa normal morrer lá na Irlanda e não fosse normal as pessoas morrerem em outros países. Eu gostaria que não acontecesse, agora não posso questionar as razões pelas quais o cubano prendeu ele, como não quero que Cuba me questione pelas razões que pessoas estão presas no Brasil. Sabe, ninguém pode, ninguém pode colocar em dúvida o exercício da democracia no Brasil, ninguém pode colocar em dúvida.

Não tem um país do mundo hoje e não tem um governo do mundo que tenha exercitado a democracia como nós exercitamos. Aqui neste país, para tomar as grandes decisões de políticas públicas, nós fazemos conferência nacional que envolve milhares de pessoas na cidade, milhares de pessoas nos estados e depois milhares de pessoas aqui, em Brasília, nas conferências nacionais para a gente determinar nossas políticas.

Jornalista: Então, seria bom isso em Cuba, também, alguma coisa assim?

Presidente: Veja, acho que seria bom em qualquer país. Eu vejo que Cuba não faz, Estados Unidos não fazem, França não faz, Alemanha não faz. Não vejo ninguém fazer. Talvez eu faça por causa da minha origem sindical e da minha origem do movimento social, que é um hábito que eu aprendi a fazer na minha militância política. Quanto mais você tiver capacidade de ouvir as pessoas, menos chance você tem de errar. É simples isso. Essa é democracia que eu chamo de democracia partilhada – democracia compartilhada com a sociedade. Não é porque a sociedade me deu um mandato de presidente que eu posso fazer o que eu quero, não! Vamos ouvir o povo para que ele seja cúmplice das boas coisas que nós fazemos no Brasil.”

A entrevista também abordou temas como a relação entre o Brasil e o Irã, as medidas anunciadas esta semana pela equipe econômica no que diz respeito a taxação de produtos norte-americanos importados pelo Brasil e a saúde do presidente Lula tomando por início da conversa a crise de hipertensão verificada no Recife horas antes de embarcar para Davos, na Suíça, onde participaria da reunião do Fórum Econômico Mundial (FEM). A sucessão presidencial também mereceu destaque por parte da AP. A reunião sobre mudanças climáticas, em dezembro do ano passado.
http://blog.planalto.gov.br/e-preciso-que-a-gente-comece-a-pensar-em-novos-interlocutores-para-a-questao-dos-conflitos-no-oriente-medio/

Nenhum comentário: