quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

DISCURSO DO PRESIDENTE LULA, NA APEX

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante o jantar “Apresentando o Melhor do Brasil”, oferecido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) aos empresários exportadores e investidores
Rio de Janeiro-RJ, 21 de dezembro de 2009



Dilma, você sabe que tiveram que levantar o microfone, significa que você é baixinha. Se eu viesse falar depois do Miguel Jorge, tinha que baixar.
Olha, eu queria primeiro fazer um apelo a vocês, ao nosso maître que deve estar preparando a comida aí. Eu tinha mandado servir a janta antes de eu chegar.


 Tinha mandado servir, porque eu sentia que nós íamos demorar lá no Maracanãzinho. Então, eu tive o bom senso de mandar servir a comida. São dez para a meia noite. Realmente, eu não vou fazer discurso. Não vou fazer discurso. Eu acho que o Miguel Jorge e a Dilma já representaram bem o que o governo tinha que falar, o Alessandro já disse o que tem que falar da Apex.


Eu queria apenas, Basílio, você, que foi o primeiro orador, uma ideia que você começou aqui, de criar um fórum permanente para discutir competitividade na área de exportação, eu acho, Miguel Jorge, que deveria criar ainda antes do Natal esse fórum, para que a gente não perca a ideia, para que a gente não perca a ideia.


Veja, nós estamos vivendo um momento muito interessante, ou seja, nós descobrimos que o mercado interno brasileiro sustenta um tranco, em época de crise internacional. Nós descobrimos que a capacidade exportadora do Brasil é muito maior do que a gente acreditava até então, na crise ficou provado.


A gente reclama que caiu de 200 bilhões para 150 bilhões, mas a gente precisa comparar isso com o que caiu a Alemanha, com o caiu os Estados Unidos, com o que caiu a China, e a gente vai perceber que o Brasil caiu menos do que os países tradicionalmente exportadores. Isso, por causa da diversificação que nós tivemos.


No último anúncio, eu fui conversar com o Luciano Coutinho apenas para dizer para vocês uma coisa: nós conseguimos aprovar uma coisa que já há pelo menos um ano e meio eu venho pedindo para o Luciano Coutinho fazer, que é o Brasil se transformar em um grande exportador de máquinas e equipamentos, de ônibus, de caminhões, de máquinas agrícolas, de tudo que a gente puder. Por quê? Porque nós temos a possibilidade de financiar, para todo o continente africano e para todo o continente latino-americano, e a gente competir... vou dizer a palavra correta: competir com a China. Competir, nesse mercado, com a China.


E, aí, nós temos que ter política especial, nós precisamos montar uns bancos brasileiros lá, para poder financiar, o Bradesco vai ter que ir para lá, o Itaú vai ter que ir para lá, o Banco do Brasil vai ter que ir para lá. Ou seja, não dá para ficar daqui querendo fazer política em 59 países africanos, nós temos que fincar o nosso pé lá, porque os chineses estão fincando o pé, a mão e a cabeça. Ou seja, no mercado global não tem mais esse negócio de ficar esperando que o trem vai passar, que eu vou pegar o trem. Nós temos que correr atrás, porque a competitividade, depois da crise, vai aumentar.


Então, esse fórum que você propôs, eu acho que já valeria o jantar, já valeria a fome que vocês passaram até agora. Se bem que eu estava andando, eu vi que está todo mundo com uma certa reserva de gordura, todo mundo pode aguentar um pouco mais.


De qualquer forma, eu quero, Alessandro, dar os parabéns a você pelo trabalho desempenhado na Apex, dar os parabéns ao companheiro Miguel Jorge, e dizer para vocês o seguinte: olhe, eu acho que vocês já aprenderam a lidar comigo, já aprenderam a compreender até as bobagens que eu falo. Muitas vezes, vocês vão ao teatro para ouvir um artista falar bobagem. Eu falo na televisão, a imprensa me critica. Ou seja, eu falo de graça para vocês.


Então, eu, como vocês já me conhecem e eu conheço vocês, já não temos mais desconfiança uns dos outros, ou seja, já sabemos o limite de cada um, eu queria dizer para vocês o seguinte: olhe, essa crise ensinou a todos nós que não existe manifesto, como tinham os comunistas, no final do século XIX, um manifesto que dizia como é que ia ser o ser humano, como é que ia ser a produção, não deu certo. Também não existe um manual que diz como é que o empresário tem que se comportar, como é que ele tem que vender, como é que ele tem... não existe. Ou seja, essa crise mostrou que nós precisamos estar sempre criando alguma coisa nova, sempre alguma coisa nova.


Então, eu acho que o Brasil tem que aproveitar essa oportunidade, em que a gente está ficando um pouco mais importante, um pouco maior, um pouco... estamos sendo levados em conta, as pessoas já não fazem mais muita coisa sem conversar com o Brasil. Então, eu acho que nós temos que aproveitar esse momento e a gente fazer todos os fóruns que a gente tiver que fazer. Porque eu quero dizer para vocês o seguinte: não existe limite para que a gente faça coisas em que o Brasil saia ganhando, que os empresários saiam ganhando e que os trabalhadores saiam ganhando.


A única coisa que nós vamos continuar tendo divergência é uma, e eu vou deixar claro para vocês: não imaginem um país com carga tributária fraca, porque não tem país do mundo que o Estado possa fazer alguma coisa, que não tenha uma carga tributária razoável. É só pegar a Europa toda como exemplo, os Estados Unidos e o Japão. Os Estados só podem ter o estado de bem-estar social porque o Estado tem recurso. Ele tem duas formas: ou ele cobra na produção, ou ele cobra no Imposto de Renda, nós temos que escolher, nós temos que escolher. Porque os Estados que têm carga tributária muito pequena, na América Central, tem uns que têm 9%, tem uns que têm 12%, tem uns que têm 11%, o Estado não existe, o Estado não coordena, o Estado não tem política, o Estado não tem incidência nas coisas.


Eu estou dizendo isso, está faltando um ano para eu deixar a Presidência da República, mas essa lição eu aprendi. É bobagem alguém ter medo de um Estado forte. O Estado não pode ser é intruso, é diferente. O Estado não pode querer ser o Estado gestor, mas ele tem que ser o indutor e o fiscalizador de muitas coisas, a crise mostrou isso.


E, para nós, quanto mais forte forem as nossas empresas lá fora, para nós, quanto mais nós vendermos lá fora, uma bolacha brasileira lá fora, um adesivo brasileiro lá fora, um carro flex fuel lá fora, uma alpargata lá fora, um chinelo Havaiana lá fora, é o Brasil lá fora.

É com essa cabeça, meu querido Miguel Jorge, que nós temos que trabalhar. E o BNDES, com essa competência toda que a Dilma disse que o Luciano tem, a competência e R$ 200 bilhões a mais ajudam bastante, ajudam bastante. Agora, o que nós precisamos é fazer o Banco do Brasil ir para fora. Não é possível que um banco importante, como o Banco do Brasil, não tenha uma agência em Angola, não tenha uma agência em Lima. Ou seja, a gente fica esperando o quê? Que alguém faça por nós o que a gente está fazendo? O que nós temos que fazer.


Ou seja, tem uma disputa, e agora essa disputa vai ser mais acirrada, porque todo mundo descobriu a sua fragilidade. Os Estados Unidos já não são mais aquele monstro sagrado, infalível, que todo mundo imaginava que era, que dava palpite sobre a vida de tudo. Não é. A Europa também não é. A crise mostrou a fragilidade de cada um. E o Brasil pode disputar com muito mais força isso, não apenas a Vale do Rio Doce ou a Cutrale, ou qualquer outra aqui. Ou seja, diversificar a quantidade de produtos que nós temos (incompreensível).


Uma coisa, Luciano, que eu queria que você me desse, o resultado de um estudo. Eu, hoje, por acaso, não sei se você percebeu que eu tenho as orelhas grandes e meio caídas, é para escutar mais do que eu falo. Esse é um dom que Deus me deu e poucos têm, estou vendo todo mundo com a orelhinha justinha, pequena e escuta muito pouco.
Mas eu estava ouvindo o Sérgio Cabral conversar com o Prefeito e conversar com o cara que é o dono da... o cara que é o gestor do Metrô aqui. Ora, meu filho, nós compramos... O Metrô de Brasília comprou... Em Brasília, foi comprado vagão para o metrô de Brasília em São Paulo, na... Não importa, não vou dizer o nome da empresa, para não queimar. Ou seja, pagou R$ 5 milhões em cada vagão, sem ar condicionado. O Sérgio Cabral, a empresa daqui foi à China, comprou com ar condicionado, por R$ 2,5 milhões, 50%, com ar condicionado.


Ora, nós temos que fazer um estudo para saber o seguinte: como é que é possível que a gente consiga vender um produto o dobro do que os chineses vendem aqui. Como é que é possível? Se essa lógica prevalecer, ninguém mais vai comprar vagão nas empresas brasileiras, porque vai pagar o dobro, e o povo quer transporte barato, gratuito e de qualidade, ou seja, é incompatível. Então, eu queria que você fizesse um estudo, porque nós vamos ter que pegar cada segmento desses e a gente tem que deixar claro.


Eu estou brigando com o Roger, já brigamos pela imprensa, só quero que os navios da Vale do Rio Doce sejam feitos no Brasil. Mas, para serem feitos no Brasil, o preço do estaleiro brasileiro tem que ser, no mínimo, próximo, não pode ser o dobro, porque aí, se for o dobro, acho que prevalece o interesse empresarial, mas se for uma diferença pequena, prevalece o interesse nacional de a gente ter uma grande indústria naval neste país.
Então, eu acho, viu, Luciano e Miguel Jorge? Eu acho que era importante o seguinte: a gente trabalhar, com muito carinho, para ver onde é que a gente ainda tem as falhas nas exportações. A única coisa que me preocupa é essa questão do câmbio. Quando nós criamos o IOF foi para tentar criar (incompreensível) dificuldade, porque todos vocês me reivindicam: “Presidente, nós queremos o câmbio livre, queremos o câmbio livre”. Se o câmbio é livre, meu filho, eu não posso fazer nada, ele vai flutuar mesmo, ele vai... nós temos que ter clareza disso.
Mas nós temos que adotar todos os mecanismos que forem necessários para dar ao Brasil a chance de competir com qualquer país do mundo. E, nisso, eu posso dizer para vocês: sou parceiro de vocês, contra qualquer empecilho que alguém queira criar neste país.
A hora é do Brasil. Este século XXI nós não vamos jogar fora. E nós, que andamos até aqui, não vamos permitir que haja nenhum retrocesso.
Portanto, parabéns a todos vocês que vieram a este jantar da Apex. Eu espero que o jantar seja compensador da espera de vocês. Eu vi gente comendo seis pãezinhos. Seis. Então, eu espero que a Apex, depois de tantos elogios aqui, Alessandro, depois de tantos elogios à Apex, de tantas homenagens à Apex, que a gente possa comer e sair daqui com força suficiente para fazer o nosso fórum de competitividade (incompreensível).
Um grande abraço. Que Deus abençoe todos vocês.






























http://www.presidencia.gov.br/

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