quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ARRUDA INFLITRA COMPARSAS NA CPI PARA POSTERGAR INVESTIGAÇÕES

Comissões que analisarão os pedidos de impeachment também sofreram ataques



No primeiro dia de trabalho após o recesso de final de ano, manifestantes ocuparam o gramado em frente à Assembléia Distrital de Brasília exigindo a saída do governador Roberto Arruda e de seu vice, Paulo Otávio, comandantes da “quadrilha do panetone” que, segundo avaliação da Polícia Federal, movimentou propinas que ultrapassam 500 milhões de reais.


Arruda e seus aliados foram filmados pelo ex-secretário do GDF, Durval Barbosa, recebendo pacotes de dinheiro de empresas que prestam serviços ao governo. O escândalo envolvendo o DEM e o PSDB de Brasília estourou no dia 27 de novembro, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Caixa de Pandora. No inquérito, o governador é apontado como o cabeça de um esquema de distribuição de propina a deputados distritais e aliados.



Um dos envolvidos, o presidente da Câmara Legislativa do DF, Leonardo Prudente (DEM), filmado enfiando dinheiro em todos os bolsos e até na meia, decidiu afrontar a opinião pública e reassumiu o cargo na segunda-feira (11), do (Serra Dengue e Arruda Panetone-foto)qual havia se afastado desde o início do escândalo. Sua intenção com o retorno era garantir que os integrantes da quadrilha ocupassem os principais postos nas comissões que deveriam investigar o escândalo. Com a manobra, ex-secretários de Arruda assumiram o controle das três comissões.


O deputado Alírio Neto (PPS), ex-secretário do governador Arruda, foi eleito presidente e Raimundo Ribeiro (PSDB), também ex-secretário do governo, foi nomeado, pelo próprio Alírio, como relator da CPI do panetone. O vice será o deputado Batista das Cooperativas (PRP), outro integrante do grupo de Arruda. Eleita para a CPI, a deputada Eliana Pedrosa (DEM-DF) foi do secretariado de Arruda. Ela também teve seu nome envolvido nas denúncias. As empresas de seu filho e de sua irmã são acusadas de terem contratos irregulares com o governo. Eliana deixou a Secretaria de Desenvolvimento Social para ajudar Arruda na Câmara.



Para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), primeiro local onde os três processos de impeachment serão analisados, foram escolhidos os deputados Batista das Cooperativas (PRP); Eurides Brito (PMDB) - que aparece em um dos vídeos enchendo a bolsa de dinheiro; Geraldo Naves (DEM); Chico Leite (PT); e Dr. Charles (PTB). Naves foi escolhido como presidente e Charles, vice. Geraldo Naves escolheu o deputado Batista das Cooperativas (PRP) como relator dos processos de impeachment. Ele tem 20 dias para analisar os requerimentos e dar um parecer. Se aprovados, os processos seguem para a Comissão Especial. Esta também elegeu os deputados Cristiano Araújo (PTB); Alírio Neto (PPS); Chico Leite, Batista das Cooperativas e Geraldo Naves.


A manobra dos deputados, desrespeitando a opinião pública e preparando a operação abafa nas investigações, segue a mesma linha do governador Arruda que, em reunião na semana passada, deu gargalhadas na frente da TV ao falar da roubalheira. Ele disse que perdoava “aqueles que ofenderam” a sua “honra”. Esse desdém do governador com a população não é de agora. Arruda é reincidente. Ele negou de forma veemente em 2001 que tivesse violado o painel de votação do Senado quando era líder do governo FHC e, logo em seguida, ao ser desmentido por testemunhas, voltou à tribuna para, sem a menor cerimônia, dizer que tinha mentido. Renunciou para não ser cassado. Agora, pego em flagrante novamente, volta a mentir. Ao que parece o “quase vice” de Serra não está tendo a noção exata da gravidade de sua situação. Os organizadores dos protestos contra a corrupção prometem não dar sossego aos ladrões encastelados no Palácio do Buriti.


Para consumar o golpe nas comissões, o deputado Leonardo Prudente impediu a entrada das lideranças populares no interior da Assembléia Distrital. Contou para isso com a ajuda de Arruda, que, mais uma vez, jogou a Polícia Militar contra a população. Os manifestantes enfrentaram a violência policial. Denunciram também um grupo de funcionários públicos coagidos por Arruda para “apoiar” a permanência da sua quadrilha. Segundo comunicado assinado por Prudente, “tendo em vista um parecer da Coordenadoria de Segurança da Câmara” o acesso às dependências da Casa não será liberado para o público. Ele informou também que decidiu retornar ao cargo porque “é um direito constitucional”.


Paulo Tadeu (PT-DF), único integrante da oposição na CPI, argumentou que as investigações têm que ser levadas a sério. Ele apresentou dois requerimentos. Um deles convocando o ex-secretário Durval Barbosa. O outro solicitando informações ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o inquérito da operação da PF. Raimundo Ribeiro (PSDB) orientou a rejeição dos requerimentos. A votação foi adiada. As propostas vão ser votadas na quinta-feira. A maioria dos integrantes da comissão é composta por deputados que recebiam propina. Portanto, não estão ali para investigar nada.


Ao contrário. Para tentar intimidar a oposição, o deputado distrital Geraldo Naves (DEM) leu, durante a sessão da CPI, um requerimento em que os integrantes da máfia pedem o afastamento do vice-presidente da Casa, Cabo Patrício (PT). Em resposta, cinco deputados de oposição protocolaram pedido de afastamento de Leonardo Prudente até que sejam concluídos os processos que tramitam contra ele. Nas ruas, a multidão em frente ao prédio mostrava que não vai parar enquanto os ladrões não forem punidos.


SÉRGIO CRUZ

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