quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

OBAMA FALA 42 VEZES EM GUERRA

Obama recebe Nobel da paz
exaltando guerras dos EUA



Sustentou que “a América nunca travou uma guerra contra uma democracia”, quando foram dezenas as democracias agredidas pelos EUA


No discurso de Obama,em Oslo, ao receber o prêmio Nobel da paz, foi muito peculiar a saudação aos “esforços de Ronald Reagan com relação ao controle de armas”.



Reagan promoveu a maior corrida armamentista, até então, da história. Multiplicou ogivas nucleares, enterrou bilhões de dólares num delírio apelidado de “Guerra nas Estrelas” (com a ideia de desfechar uma guerra nuclear contra a URSS sem sofrer retaliação) - e até mandou fabricar um encouraçado, categoria de belonave desaparecida, porque, numa guerra naval de hoje, seria apenas um belo alvo. Além disso, Reagan encheu de armas qualquer mercenário ou terrorista - na Nicarágua (US$ 30 bilhões para assassinar 50 mil civis), em Angola, na Colômbia, na Guatemala, em El Salvador (75 mil civis assassinados) e no Camboja. Também invadiu o Líbano e Granada.




Entretanto, segundo Obama, “a América nunca travou uma guerra contra uma democracia”.



Os Estados Unidos agrediram dezenas, talvez centenas de democracias, e, precisamente, para instalar ditaduras no lugar, desde a Guatemala, do presidente Arbenz ao Irã, do primeiro-ministro Mossadegh; desde o Congo, do primeiro-ministro Patrice Lumumba, ao Brasil, do presidente Goulart; desde o Chile, do presidente Allende, à Indonésia, do presidente Sukarno, o Uruguai, a Argentina (mais de uma vez), a Bolívia (mais de várias vezes) – e a lista ainda está muito incompleta. Nem falamos da ditadura de Papa Doc Duvalier, sustentada pelos EUA no Haiti durante 14 anos.



Excetuando guerras internas, a única guerra em que os EUA entraram para defender a democracia foi a II Guerra Mundial, e graças ao grande presidente Franklin Delano Roosevelt.



A propósito, vejamos uma testemunha ocular, o general norte-americano Smedley Butler, o homem que organizou os marines, republicano, fuzileiro naval mais condecorado e o mais jovem militar a chegar a general na história dos EUA, duas vezes distinguido com a maior condecoração norte-americana, a “Medalha de Honra do Congresso”, patrono do campo de treinamento da corporação.



Em seu livro de 1935, “War Is a Racket”, o general Smedley Butler escreveu:


“A guerra é uma fraude. Nenhum país jamais declarou alguma vez uma guerra contra nós, antes de que nós o obrigássemos a fazê-lo. A nossa história inteira demonstra que nós nunca lutamos uma guerra defensiva. Em 1914, eu ajudei a fazer com que o México, e especialmente Tampico, fosse seguro para os interesses petrolíferos americanos. Eu ajudei a fazer com que o Haiti e Cuba fosem um lugar decente para que os rapazes do National City Bank colhessem seus lucros. Eu ajudei a estuprar meia dúzia de repúblicas da América Central em benefício de Wall Street. O registro de fraudes é longo. Eu ajudei a purificar a Nicarágua para a casa bancária internacional Brown Brothers, em 1909-1912. Eu trouxe luz para os interesses açucareiros americanos na República Dominicana em 1916. Eu ajudei a fazer de Honduras um país “certo” para as companhias americanas de frutas em 1903.


Na China, em 1927, eu ajudei a Standard Oil para que seu caminho não fosse molestado... Eu poderia ter dado a Al Capone algumas dicas. O melhor que ele podia fazer era operar sua fraude em três distritos da cidade. Nós, marines, operamos em três continentes.... A nossa bravura contra os índios, os filipinos, os mexicanos, e contra a Espanha, estão no mesmo nível das campanhas de Gengis Khan, dos japoneses na Manchúria e do ataque de Mussolini na África”.



Mas, segundo Obama, isto é porque os EUA “vêm ajudando a subvencionar a segurança global há mais de seis décadas com o sangue de nossos cidadãos e a força de nossas armas. O serviço e o sacrifício de nossos homens e mulheres uniformizados vêm promovendo a paz e a prosperidade (….) e permitiu que a democracia deitasse raízes [em outros países]”.



Ele poderia ter acrescentado que os EUA também preservaram raízes democráticas já existentes: por exemplo, sustentaram Franco na Espanha e Salazar em Portugal, depois que Hitler e Mussolini levaram a breca.


E, também, segundo ele, “a América sempre será uma voz das aspirações que são universais”.




O general Smedley Butler já esclareceu este ponto e o universo dispensa tal porta-voz. Mas “América” é o nome do continente. Os EUA não anexaram os outros países - melhor que cuidem de sua própria falência. Mas aí está a questão.




Obama tem se submetido à politica dos monopólios – sobretudo os bancos – para sair da crise. Essa política é a de descarregar nos outros países um Everest de dólares sem lastro, resultantes de uma colossal emissão de trilhões de dólares – 14 trilhões até março, 18 até maio e, segundo cálculos da própria autoridade encarregada de fiscalizar o subsídio aos bancos, o inspetor-geral especial Neil Barofsky, teria atingido US$ 23,7 trilhões em junho.



Assim, com essa descarga, bancos e outros especuladores norte-americanos sobrevalorizam as outras moedas, travam as exportações dos outros países, forçam importações, e fazem aquisições a torto e a direito. Em suma, pilham o mundo. Depois de assinar embaixo dessa guerra, não é surpreendente que Obama vá defender a guerra, isto é, a agressão dos EUA a eles, enquanto recebe o prêmio Nobel da paz.



Os EUA saíram de crises anteriores através da guerra e de transformar a indústria bélica no principal setor de sua economia. O orçamento militar enviado ao Congresso por Obama, para o ano que vem, é o maior orçamento militar de toda a História – US$ 680 bilhões. Enquanto isso, milhões de trabalhadores norte-americanos e suas famílias se desesperam no desemprego, despejo e fome. Obama, que se diz seguidor de Martin Luther King (e de Gandhi!), afirmou que “como chefe de um Estado que fez um juramento de proteger e defender meu país, não posso me deixar guiar unicamente pelos exemplos deles”, e se reserva o direito de declarar guerra “unilateralmente” para, supostamente, defender os EUA.



Martin Luther King realmente protegeu e defendeu o seu país, e não precisou ser chefe de Estado para isso. Foi ele que advertiu: “uma nação que gasta mais dinheiro em armamento militar do que em programas sociais está caminhando para a morte espiritual”. Na situação atual, está caminhando para a morte, pura e simples.


Porém, como também disse Martin Luther King, “pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre”.


Em Oslo, Obama disse que “a opressão sempre conviverá conosco”, e, ainda, que “podemos admitir a incorrigibilidade da pobreza”.



As más companhias podem desencaminhar até boas pessoas. Porém, o problema é aquele, também lembrado por Martin Luther King: “Ninguém montará em cima de nós se não nos curvarmos”.



Apesar das milhares de ogivas nucleares dos EUA, Obama acha que problema para a paz é o Irã, que nunca teve bomba atômica alguma, ou a Coreia Popular, que desenvolve um programa estritamente defensivo – e não são países agressivos, mas países ameaçados pelos EUA.



Portanto, só é possível rir quando ele, nitidamente respondendo ao presidente Lula, que muito justamente observou que para ter moral de cobrar que outros não tenham armas nucleares, antes de tudo é preciso não ter armas nucleares, fala que o mundo não pode ficar cego diante do “perigo de uma corrida armamentista no Oriente Médio ou no leste da Ásia”. Só se a “América” mudou de lugar.



Mais divertido ainda foi a condenação de Obama às guerras santas e ao fanatismo religioso. Como se a doutrina imperialista dos EUA não fosse, há dois séculos, pelo menos, a do “destino manifesto” que Deus lhe teria reservado.



Voltando a Martin Luther King: “nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez conscienciosa”. Pois é.


CARLOS LOPES

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