terça-feira, 17 de novembro de 2009

BASES DOS EUA NA COLOMBIA

Amorim: “preocupantes são as bases dos EUA na Colômbia”



Para ministro, governo americano não trata a região com franqueza: “o acordo contém ambiguidades”
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que as bases dos EUA na Colômbia são um “fator de preocupação” para os países da região, ao rechaçar o documento do Pentágono para o Congresso sobre a localização de militares americanos na América do Sul, que veio a público recentemente deixando claro que as pretensões americanas na região vão muito além do declarado “combate a guerrilha e o narcotráfico”.



“O acordo contém ambiguidades. Não fala apenas de combate ao narcotráfico, fala também em ameaças comuns à paz e à democracia”, observou Celso Amorim, referindo-se ao acordo militar EUA-Colômbia. “O que são ameaças comuns à paz e à democracia? Quem define o que é? Quem dirá quais são?”, questionou o chanceler.
O documento do Pentágono diz textualmente que as base na Colômbia garantem aos Estados Unidos “acesso ao continente inteiro, com exceção da região de Cabo de Hornos, se o combustível está disponível, e a mais da metade do continente sem ter de reabastecer” e deixa escapar que Washington avalia a possibilidade de intervir militarmente contra “governos antiestadunidenses” da região.



Celso Amorim considerou que a reação do presidente venezuelano Hugo Chávez, que denunciou a instalação das bases como uma ameaça direta à Venezuela, é uma resposta objetiva à presença militar estrangeira. “Se os venezuelanos pensarem dessa maneira, você não pode dizer que eles têm mania de perseguição”, disse. Para o ministro, as bases americanas são a ameaça e não as declarações do presidente Hugo Chávez conclamando os venezuelanos a se defenderem de uma guerra. “O presidente Chávez já voltou atrás, e uma coisa é falar em guerra, uma palavra que não deveria nem ser pronunciada, e outra é a questão prática e objetiva das bases na Colômbia”, disse o Amorim, em entrevista para a Folha de S. Paulo.
O ministro lembrou a semelhança entre o documento apresentado por Chávez em uma reunião da Unasul com o do Pentágono. “Os dois textos são muito próximos e, em algumas partes, praticamente idênticos, só com uma redação um pouquinho diferente. Eles falam inclusive em autonomia de vôo e no quanto isso é muito importante para os EUA, para ter uma projeção de poder sobre a América do Sul. Sem dúvida, é muito preocupante, sim”, ressaltou.
Para Amorim, falta “franqueza” na forma como Washington tem conduzido as relações diplomáticas com a América do Sul. “Se os EUA conversarem diretamente com a Venezuela, dariam uma percepção para o governo e para a sociedade venezuelana de que os EUA podem ter suas divergências, mas que não vão voltar a se envolver no futuro em nenhum golpe, como em 2002”, observou, comentando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a propor uma reunião com o presidente Barack Obama. “Acho que os EUA precisam ter mais franqueza com a região. Até por isso o presidente Lula propôs a reunião com o presidente Obama. Ele não fez”.



Amorim avaliou que os problemas na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, onde tem havido frequentes confrontos, também ocorrem devido à subserviência de Uribe na questão das bases. “A Venezuela pode até ter rivalidades com a Colômbia, mas ela não se sente ameaçada pela Colômbia, ela se sente ameaçada é pelos Estados Unidos. Então, no dia em que ela caminhar para um diálogo com os EUA, com uma certa franqueza, grande parte do problema desaparece. No mínimo, diminui”, assinalou.
“O presidente Obama talvez esteja muito preocupado com o Iraque, o Afeganistão, os problemas internos, e talvez isso venha impedindo que ele se concentre nesses temas. Pode ser que, quando ele venha a se concentrar, ele descubra que as relações dos EUA com a América do Sul tenham se deteriorado. Espero que isso não ocorra, mas que as bases são fator de preocupação, isso são”, alertou.
HP



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