domingo, 18 de outubro de 2009

Provedores de internet apoiam Plano Nacional de Banda Larga contra os preços extorsivos das teles

Provedores de internet apoiam Plano Nacional de Banda Larga contra os preços extorsivos das teles

O presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet (Abranet), Eduardo Parajo, declarou que o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) é a oportunidade das empresas de Internet obterem acesso à rede para fornecer um serviço razoável ao usuário. Atualmente essas empresas estão pagando preços extorsivos às teles para fazer a ligação entre a rede, sob controle dos monopólios de telecomunicações, e os seus clientes.

Pelo ante-projeto do PNBL apresentado ao presidente Lula no dia 15 de setembro, a “última milha” (a ligação entre a sede do município, onde chegará a rede pública de fibras óticas, e a casa de cada cidadão) será feita por empresas privadas. As linhas gerais do PNBL foram expostas nessa reunião pelo secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna.

O presidente da Abranet relatou que, hoje, as empresas estão bloqueadas pelas operadoras (Telefónica, BrOi e outras de menor importância – a Embratel não foi autorizada pela Anatel a oferecer acesso aos provedores de Internet dentro das cidades).
Em resumo: a Anatel (decisão de 09/06/2006 sobre a EILD - Exploração Industrial de Linha Dedicada) estabeleceu limites de preço para que as teles cobrem das empresas provedoras o acesso à rede somente até a velocidade de transmissão de 2 Mbit/s. Acima dessa velocidade não existe limite de preço. No entanto, disse Parajo, as empresas, para suprir a procura dos usuários, necessitam hoje de bandas de 100 Mbit/s. A Telefónica e a BrOi ou não fornecem bandas com essa capacidade ou estabelecem preços inacessíveis para os provedores. “Somos obrigados a procurar as redes das operadoras concorrentes, mas os preços também são muito altos”, disse o presidente da Abranet.

A tendência das empresas provedoras, relata Parajo, é recorrer a tecnologias sem-fio: “Enquanto as operadoras tradicionais cobram mais de R$ 10 mil/mês por 100 Mbps, podemos comprar rádios sem-fio a R$ 3 mil/mês pelo cartão BNDES, que tem juros de apenas 1%”. No entanto, diz o presidente da Abranet, o melhor seria que as redes fossem abertas para os demais prestadores de serviços.

Com o PNBL, que aproveitará a malha de fibra ótica das estatais, as empresas provedoras poderão ter acesso à rede, deixando de ser vítimas da obstrução – ou da exploração - de monopólios como a Telefónica e a BrOi, para fornecer Internet via banda larga aos cidadãos. Além de viabilizar a existência dessas empresas privadas, constantemente ameaçadas pelos monopólios dos quais dependem para conectar seus clientes à Internet, o PNBL será um incentivo à proliferação de outras empresas privadas.

MONOPÓLIOS

Portanto, é uma fraude o único argumento do ataque das teles ao PNBL (e, especialmente, ao engenheiro Rogério Santanna, que coordena sua finalização): o de que o plano exclui empresas privadas.

Naturalmente, as teles não podem dizer a razão real pela qual são contra o plano: o fato dele quebrar o seu monopólio nas redes de Internet, monopólio que redundou em desastres como o da Telefónica, no encarecimento avassalador dos preços, na concentração da banda larga numa faixa estreita da população – e, além das panes, numa banda larga que tem a velocidade de um cágado eletrônico.

É apenas isso o que se esconde nessa falsificação de que o PNBL “exclui as empresas”. Pelo contrário, o que exclui a maioria, aliás, quase todas as empresas privadas, é permitir que monopólios continuem mandando e desmandando na banda larga. Até por definição, monopólios excluem as outras empresas, quebram-nas, acabam com a concorrência - e não fazem isso porque sejam eficientes (vide Telefónica), mas porque são o equivalente empresarial de uma quadrilha (vide, outra vez, a Telefónica, recordista absoluta de punições na Europa, por lesar clientes e sabotar outras empresas).

A questão consiste em que é impossível universalizar a banda larga entregando essa tarefa aos monopólios, porque eles não têm o menor interesse em universalizar seja lá o que for – nem mesmo a telefonia fixa, essa moderna inovação tecnológica do ano de 1876, que até hoje eles não universalizaram.

Na quarta-feira, as teles e as multinacionais de equipamentos de telecomunicações, muito preocupadas com o povo sem acesso à Internet, promoveram um seminário. Chegaram à conclusão de que, para “universalizar” a banda larga, querem dinheiro do governo para “incentivar investimentos”, liberação do espectro eletromagnético para que possam dividi-lo entre si, redução dos impostos, mudança nas legislações estaduais e municipais de direito de passagem (ou seja, gratuidade no uso das vias públicas, por exemplo, para a instalação de cabos) e que o governo entregue a eles os 6 ou 7 bilhões do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para “subsidiar oferta em locais de baixo interesse econômico”.

É assim que, segundo um capadócio da imprensa, o governo irá poupar dinheiro se entregar para as teles a universalização da banda larga...

Na terça-feira, o presidente Lula disse que os membros do governo deviam “baixar a bola” na discussão pública do plano. Evidentemente, era o que o presidente tinha de fazer, depois que um assessor da Casa Civil, um certo Barbosa – sobre o qual correm rumores de que é auto-pretendente a conselheiro da Anatel – atacou o PNBL, repetindo a ladainha falsária das teles sobre a “exclusão das empresas”, e, em seguida, após reunião com os presidentes delas, o ministro Hélio Costa prestou-se ao mesmo papel.

Deixando de lado o cinismo – eles sabem que o PNBL contempla a iniciativa privada –, é constrangedor ver detentores de cargos públicos se rebaixando a lobistas.

No mesmo dia do seminário dos monopólios, saiu a campo Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, uma das controladoras da BrOi. Azevedo é aquele tipo de executivo que está numa fase anterior da evolução da espécie, ou talvez tenha evoluído diretamente dos neanderthais: mais crasso que o Brutus, rival do Popeye. Diz ele: “o melhor modelo para um Plano Nacional de Banda Larga é o que já existe”. Papagaio! E ninguém tinha reparado que para resolver o problema bastava continuar na mesma porcaria. Sobre a rede pública: “essa opção eu não considero. Quem falou nisso?”. Mais: “a Telebrás é uma empresa que deveria estar extinta, foi uma decisão do país acabar com ela”.

De que país? Quem decidiu isso? Deve ter sido ele – que é o país. Os irmãos Andrade e o Flávio Gutierrez que se preparem. Daqui a pouco o Azevedo vai achar que a Andrade Gutierrez é ele.

CARLOS LOPES




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